sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Proseando sobre... Em Busca de uma Nova Chance



No filme "Em Busca de uma Nova Chance”, da diretora Shana Feste, o destino do luto de uma família é tratado com o pesar da perda de um filho e com a chegada de uma criança.

O sofrimento passa a ser uma constante durante a narrativa que flerta conflitos edípicos com melancolia, perpassando o confrontamento da penosa realidade da família Brewer que recentemente perdeu seu primogênito, Bennett (Aaron Johnson, de “Kick-ass”), num acidente.

Obrigada a lidar com o luto, os familiares respondem diferentemente a perda: o pai, Allen (Pierce Brosnan), quer a todo custo carregar o fardo e se manter sólido, em alguns momentos negando falar do ocorrido, frente a visível reação punitiva de sua esposa, Grace (Susan Sarandon), que acorda dia após dia chorando desesperadamente. Já o caçula Ryan (Johnny Simmons) se revela instável, obscuro, sedado, não compreendendo a dimensão da tragédia e desorientado em seu papel de segundo filho - está envolvido com drogas.

Uma das cenas de abertura, numa tomada longa, sofrida, silenciosa, em que estão retornando do enterro num carro, dá indícios do que está por vir. Os três irão percorrer um doloroso período, fazendo emergir outros conflitos particulares atingindo certeiramente seu convívio. Grace, aparentemente a mais afetada, deseja a todo custo saber quais foram às últimas palavras de seu filho ao homem envolvido no acidente que prestou socorro a Bennett enquanto esse se manteve vivo nas ferragens.

Sua idealização é que ele tenha lhe chamado, ansiado por seu socorro, como uma criança perdida ou doente. Sua impotência é seu terror por não ter tido a oportunidade de ajudá-lo; e por culminar na culpa, Grace quase desaparece do mundo externo. Distante de seu marido e de Ryan, o acréscimo de sua angústia se dá com a chegada de Rose (a ótima Carey Mulligan), namorada grávida de seu filho que não tem para onde ir.

A diretora e roteirista Shana Feste dá o tom triste a esse drama familiar, fundindo reações atípicas, singulares por parte de seus bem construídos personagens lutando para aceitar a morte de Bennett. O acolhimento de Allen é afetuoso, ao passo que a recusa de Grace é áspera e de posição incriminante. É um duelo brindando o filme com ternura, construindo relações tornando-o visceral. Nessa perspectiva, o elenco afiado colabora com o desenvolvimento da história, recheada de adornos impressionáveis, garantindo não só a satisfação de um filme naturalmente aflito, mas verdadeiro e intenso, opondo a morte e a vida.


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