segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Proseando sobre... Distrito 9



Segregação Alienígena movimenta "Distrito 9"
Sem adotar convencionalismos, “Distrito 9” vive duas simbioses. A primeira, ao dividir seu personagem entre o herói e o vilão, abandonando o caráter racional para se representar no âmago do instinto traiçoeiro humano. Já a segunda, divide-se entre homem e alienígena, e curiosamente, os tais alienígenas darão uma lição muito maior de humanização do que os ditos seres terrestres racionais. Com o princípio de um documentário, o filme inicia com depoimentos de diferentes profissionais a respeito da chegada de uma nave alienígena que paira sobre Johanesburgo na África do Sul (sim, a coisa toda não acontece nos Estados Unidos). São várias as especulações, e o homem, dotado de toda sua supremacia, decide destinar uma região marginal da cidade às criaturas que passam a habitar uma aparente vila a qual décadas mais tarde se constituirá numa grande favela.

Dirigido e roteirizado por Neill Blomkamp, a história não se constrói numa possível ameaça desses novos habitantes da Terra, mas nas condições que esses encontram o planeta e são obrigados a conviver. E nem toda sua tecnologia é o bastante para evitarem a marginalização que lhes é acometida. Aliás, essa tecnologia aparece como um atrativo indefinível aos homens que querem de todo jeito se apropriar.

Os vilões trocam de lado, com os alienígenas vítimas da ganância, sendo alfabetizados e tendo que fazer parte da situação econômica; e se não bastasse, acabarão enfrentando o preconceito como uma classe inferior, semelhante ao que aconteceu com os negros durante o apartheid, não sendo a escolha da África do Sul para ambientar a história um mero acaso. Distrito 9 é o campo de habitação, o lugar o qual o personagem Wikus Van De Merwe tem para se esconder.

Após contrair o vírus, Wikus luta contra o tempo para conseguir um antídoto uma vez que está se tornando um dos alienígenas - e ainda tem que fugir do grupo da Multi-National United (MNU) que está lhe perseguindo a fim de estudá-lo, acreditando que finalmente conquistarão a tecnologia das tão poderosas armas extraterrestres através do DNA presente no corpo de um ser humano. O reflexo do domínio que assolou décadas o planeta, com as segregações raciais e étnicas, estão presentes neste filme como uma crítica sutil ao que o homem foi e é capaz de fazer. O roteiro não oferece grandes inovações, porém entrega um belo filme de ficção científica interpretando a humanidade a partir da metáfora alienígena, aqui simbolizando as classes desfavorecidas que procuram alimentos no lixo. Nem foi preciso grandes nomes no elenco, há até a boa surpresa do talento até então desconhecido de Sharlto Copley. A direção rebuscada do estreante Blomkamp trata de política com suavidade transformando seus personagens em referências a planos e governantes, com milícias armadas e dinheiro sujo. Suas tomadas inescrupulosas, caóticas e banhadas de sangue estão alinhadas ao vigor técnico e a diversão agitada proporcionada por esse pequeno grande filme. 


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