sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Proseando sobre... Vc tá aí



Isolamento e distanciamento do real, o mundo da tecnologia abusiva separando, individualizando socialmente. O contato com o mundo, em alguns casos, se restringe e mantém prisões particulares onde outros interesses nos capturam comprometendo um convívio mais humano. Como tantos, o protagonista desse “Vc tá aí”, filme exibido na 34ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo, vive no mundo dos games e o contato com o exterior parece-lhe distante. Preso aos jogos, viaja o mundo com outros caras competindo mas, o que poderia ser também uma viagem entre amigos, se revela uma equipe com interesses em comum cuja interação extra profissional é limitada. Jitze (vivido pelo ator Stijn Koomen) está imerso nessa contemplação virtual e seu ostracismo social traduz-se em várias cenas como a solidão de seu apartamento e os fones de ouvido que parecem extensões de seu corpo.  

Dirigido pelo holandês David Verbeek, “Vc tá aí” acerta o alvo que pretende: explora com cadência sensorial as conseqüências da globalização e a propagação do mundo virtual com a influência desse sobre a vida da atual geração. Verbeek tem um roteiro bem amarrado, seguindo a lógica do avanço da tecnologia e competições profissionais internacionais de games. Em Taipei, o jovem Jitze, que embora passe horas na academia fugindo do sedentarismo como sequela de sua profissão, sente ao acordar uma forte dor no ombro consequente das várias horas dedicadas aos treinos e campeonatos. Logo acaba afastado da equipe para se tratar. Sem o que fazer, vaga pelas ruas e encontra dentro de um elevador uma prostituta, Min Min (Ke Huan-ru), e pede para que ela lhe faça uma massagem. O convite termina aceito.

A repercussão desse recolhimento emplaca uma reflexão sobre inferências que o mundo virtual acarreta. É um assunto de disseminação urgencial – há jovens cada vez mais incapazes de se desligar da internet. O filme vai além da adicção por virtualidade, ato muito bem representado com Jitze que se percebe afim de Min Min quando é tocado por ela de maneira carinhosa e cuidadosa. No entanto, suas investidas enquanto oportunidade real acontece através da expressão de pedidos por massagem, e fica claro sua inabilidade em aproximar-se afetivamente, até descobrir que a garota passa horas no Second Life e decide criar um perfil lá. Aí sim ele concebe uma relação íntima. Nesse simulador, fica claro às idealizações do casal: Min Min é uma fada e vive num mundo bastante distante daquele da cidade enquanto Jitze assume o avatar de um soldado, caracterização sem novidade e criatividade, seguindo o mesmo modelo de avatar dos jogos os quais está envolvido. O rapaz cada vez mais dependente da companhia da moça passa a pagá-la para tê-la por perto. Nesse âmbito a relação avança e a construção de uma vida dedicada ao vídeo game estremece quando a companhia anteriormente remota torna-se comercializada.


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