sábado, 6 de novembro de 2010

Proseando sobre... Bróder



Capão Redondo, periferia da região sudoeste de São Paulo, é o local ambiente de “Bróder”, filme do diretor estreante em longa metragens Jeferson De que traz 3 caras seguindo vidas distintas: Macu (Caio Blat) vive de bicos e leva uma vida despreocupada; Pibe (Silvio Guindane) é corretor de seguros e atual pai de família; e Jaiminho (Jonathan Haagensen) em franca ascensão na carreira de jogador de futebol, atualmente aguarda pela convocação da seleção brasileira. Os 3 irão se unir para o aniversário de Macu que irá ganhar uma festa de sua família. Tal surpresa, no entanto, acaba comprometendo seus planos de arranjar algumas distrações para uma criança prestes a ser sequestrada. Agora o disfarce tomará as rédeas do longa com a insegurança do protagonista agindo com naturalidade hipócrita frente ao grave risco que se submetera.

O filme retrata o dia a dia do Capão Redondo, mostrando a relação íntima que seus moradores tem com o local, e não se intimida em revelar a violência que permeia seus arredores. Compromissado com a realidade, o diretor nos apresenta a comunidade a partir da ótica do protagonista em interação com os membros da região e com o próprio Capão. Logo na cena inicial, Macu sai pelas ruas, despojado, e a câmera adentra pelos pequenos becos revelando em planos rápidos toda a extensão do lugar. É a introdução convidativa de um longa muito mais preocupado em divertir com seus ótimos personagens. Várias cenas cômicas quebram o clima que por vezes se abala. Os conflitos assolam, destaque para a relação entre Macu e seu padrasto Francisco (Aílton Graça), sempre tencionada estendendo-se até um bar onde um bêbado provoca o destino do rapaz comparando-o ao alcoólatra personagem de Graça.

A coisa toda ganha mais seriedade quando uma nova proposta é oferecida a Macu, fazendo-o escolher entre sua segurança ou a de seus amigos. O título “Bróder” evoca a relação entre os membros da comunidade, sobretudo entre os amigos, e “bróder” não é exatamente a maneira certa de se dirigir ao outro ali, mas sim “mano” – essa explicação se conjuga num dos momentos mais divertidos do longa, embora se passe em uma das cenas mais aflitas. Caio Blat rouba a cena e constrói um personagem fugindo bem dos estereótipos pelas mãos de De a começar por não ser negro. Ao seu lado Cássia Kiss fundamenta a personagem mãe de Macu com austeridade imaculada e comprometimento enquanto temor pelo bem estar do filho naquele lugar.       

Jeferson De estréia na direção de um longa após ter filmado alguns elogiados curtas, casos de “Gênesis 22”, “Distraída para a morte” e “Narciso Rap”. O cara transmite com clareza o dia a dia do Capão Redondo com a particularidade de quem conhece o lugar – o cinema de periferia ganha um ótimo exemplar com esse trabalho. Alguns diálogos deverão ser reproduzidos pelos espectadores após o fim da projeção com as gírias e caracterizações peculiares dos moradores da região. E também algumas cenas ficarão na memória, como a que um homem baleado está caído no meio da rua e ninguém a não ser parentes se importam com aquele corpo estranho esquecido.

A dinâmica dos personagens se justifica na expressão cultural própria do trio central, cada um expondo suas vidas e as angústias que atualmente os cercam, atrás de uma vida confortável, conquista rara aos habitantes dali; nesse âmbito Jaiminho surge como um ídolo e símbolo de referência aos moradores vendo um ente despontando enquanto jogador na Europa. Ali De registra também a lembrança de outros que não tiveram a mesma sorte, ou mortos vítimas da violência ou por terem escolhido um caminho mais fácil por dinheiro. Nesse ponto, “Bróder” funciona também como um registro de condições às quais alguns são obrigados a se envolver e, muito embora exista a idealização de um caminho que não seja o transgressor, acabam cedendo a exigência sob ameaça inclinados a conduta de fazer o que for pela sobrevivência. 


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