O grego “Arcadia Lost”, exibido na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é falado em inglês e contém pouquíssimos diálogos com a língua original. A história irá acompanhar alguns dias das férias de uma família americana. Quanto ao elenco, é recheado de atores de menor expressão exceto pela presença de Nick Nolte. Com um prólogo charmoso, o filme dispõe de flashbacks apresentando uma família em dias felizes, – no detalhe dias ensolarados – e esboça especialmente a íntima relação entre pai e filha denunciando a adoração da menina que brinca e provoca incessantemente chamando a atenção do pai. Uma canção sutil alenta a introdução onde sem delongas amargará um desastre.
A direção ficou a cargo do cineasta grego Phedon Papamichael que atenua com sensibilidade comovente os primeiros minutos de seu projeto, apoiando com atuações burocráticas o desenrolar de uma história com um forte texto dramático e teor filosófico em sua tessitura. O rigor do dramalhão se dá na reprodução de seu conflito: a jovem Charlotte (Haley Bennett) não aceita o padrasto e teme pela ocupação desse homem estranho assumindo o lugar de seu falecido pai. São várias as intrigas entre os dois, resultando em desafios e ofensas contra a mãe, desolada durante a viagem pela Arcadia na Grécia, flagra a filha no quarto do hotel juntamente a um desconhecido.
O estouro dessa relação resulta num grave acidente que deixa Charlotte e Sye (Carter Jenkins), o filho de seu padrasto, numa espécie de limbo em busca de um caminho e recebem o auxílio de um homem incógnito, o barbudo e misterioso Benerji (Nolte), cheio de parábolas e lições. Os dois terão de encontrar a direção para retornarem ao local do acidente numa região litorânea, mas antes precisam descobrir um sentido para suas vidas. O percurso irá permitir uma reflexão acerca desses dois personagens vivenciando um novo contexto – a mensagem ao público é evidente embora maquiada e transformada em alegoria complexa. Não estranhe descobrir os finalmentes da história antes do final de sua primeira metade.
“Arcadia Lost” resgata várias de suas cenas no decorrer da história, enfatizando diálogos passados remetendo significados insistentes. O filme está repleto deles. Seu maior valor é a possibilidade de experienciar a narrativa, fazer com que o público viva o filme e questione os entraves de seus personagens, em suas angústias e frustrações; e ainda refletir sobre o onde se encontram perdidos. O espectador de fato mergulha num mar de simbolismos e a imersão dessa asfixia se dá na conclusão particular própria e singular de seu público. Não é um filme para todos os gostos e se mostra mais valorizado do que realmente mereça, no entanto tem sua minúcia e um encanto favorável que o faz digno de alguma atenção.
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