Um bom roteiro impede “Jack
Reacher - O Último Tiro” de ser um mero filme de personagem estrela. A presença
de Tom Cruise reforça a indagação, visto o histórico de obras que o têm a
frente, por exemplo na franquia “Missão: Impossível”. Costumo questionar os
caminhos diferentes que Cruise e Brad Pitt seguiram desde que despontaram como
galãs do cinema, com o primeiro tornando-se astro de grandes filmes cujo
conteúdo é discutível; enquanto o segundo tornou-se um grande realizador e
produtor, além de ser um bom ator ligado a interessantes projetos. Certamente
não é essa a questão proposta aqui, mas é relevante, dada a situação de Tom
Cruise, aos 50 anos, não figurando como um mero galã, mas alguém que está percebendo
o tempo passar dentro da história e na vida. Ótimo no papel, dedicado como
sempre, esse é um de seus mais notáveis trabalhos de constituição de personagem.
Baseado no livro “O tiro” de Lee
Child, o filme carrega um mistério a respeito de um crime que leva diretamente a
identidade de um único culpado, com todas as provas caindo sobre um ex
fuzileiro, James Barr (Joseph Sikora), que fora internado imediatamente após
ser gravemente agredido na prisão. Ele chama pelo nome Jack Reacher num bilhete.
Por quê? Para quê? É o que as autoridades questionam, especialmente uma
advogada, Helena Rodin (Rosamund Pike). Reacher (Cruise) subitamente aparece, homem
cujo histórico indica um militar condecorado, tornou-se um andarilho sem
destino, rodando o país sem ser pego ou descoberto. Alguns detalhes dizem muito
sobre ele. O personagem é explorado pelas ações adotadas, e logo compreendemos suas
convicções e filosofia desprendida, baseando a vida na justiça e verdade,
embora algumas de suas escolhas aparentam ir contra tais princípios.
Um homem paga um estacionamento e
posiciona-se em frente a um parque portando uma arma. Ele observa cuidadosamente
as ações de várias pessoas caminhando, mirando-as, como se procurasse um alvo.
Passando de uma a uma, o atirador seleciona e puxa o gatilho, matando 5 e desperdiçando
uma bala. 5 mortos sem razões, desconhecidos, sem ligações. Um crime brutal e
aparentemente passional leva a uma busca pelo responsável, restringindo a uma
pequena lista de prováveis assassinos, já que o atirador é, certamente, um
profissional. Pistas são largadas aos montes.
Christopher McQuarrie é o diretor
que também roteiriza, trabalhando com grandes detalhes neste filme que conta
com mais de 120 minutos de duração. O cineasta que venceu o Oscar por “Os
Suspeitos” – aquela genial obra dos anos 90 cujo final permanece inabalável –
cria um ambiente de inquérito motivado por suspeitas num terreno em que ninguém
está livre. O próprio protagonista é posto a prova pelo espectador que se atém
a pormenores. Essencialmente, o personagem central agrada – longe de compará-lo
com o original concebido na obra literária, uma vez que não a li – por sua
execução. É divertido acompanhá-lo, já que reúne o melhor de cada espião famoso do
cinema e da literatura, apossando-se de uma expressão austera e uma seriedade inteligente,
carregando uma única peça de roupa, o que demonstra desamarras sociais.
Tom Cruise também produz a fita e
se torna marco de um filme de vários interesses, oculto até seus últimos
momentos, colocando a prova a veracidade do caso, já que os fatos se quebram
pelo conhecimento restrito a experiência de um ser semelhante em profissão,
caso do herói e o ferido Barr. Tem boa ação, não decepcionando fãs do gênero
com cenas longas de embates e perseguição, ao passo que trabalha bem como um
enérgico filme de espionagem, ultrapassando clichês que figurariam como um
problema graças ao bom desenvolvimento dos personagens. E ainda tem o diretor Werner
Herzog atuando com sua voz inconfundível vivendo o destemido Zac – os cinéfilos não
irão demorar para celebrar tal aparição cult e melhorar qualquer conceito que
vinha tendo relativo ao filme quando ouvi-lo proferir algumas palavras. Robert Duvall e Richard Jenkins fecham o elenco desse considerável longa policial.
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