sábado, 5 de janeiro de 2013

Proseando sobre... Detona Ralph (2012)



Nessa animação quando nenhum humano está por perto algo ganha vida. Pode-se encarar esse mais novo lançamento do reino animado como um “Toy Story” da Disney, bastante inferior, deve-se ressaltar, mas sem dúvidas é uma obra suficientemente burlesca e divertida. Tem personagens cativantes com algo importante a favor: a possibilidade de causar nostalgia, já que a maioria dos personagens retratados são familiares para aqueles que passaram algum tempo em fliperamas na década de 80 e 90. É a chance de matar saudade, acessar o passado e se entusiasmar com velhos conhecidos. Aos que nunca ouviram falar de nenhum deles não terá grandes prejuízos. “Detona Ralph” é para todos os públicos, cheio de referências e carisma, além de tecnicamente ser magistral, o que garante afeição do espectador mais jovem, especialmente com a competente tridimensionalidade. 

Ao final do expediente de um freqüentado fliperama, os personagens de todos os jogos se encontram e interagem. Há até uma terapia em grupo que reúne famosos vilões: lá estão caras como Dr. Robotnik, Zangief, Koopa e M. Bison. Ainda conferimos uma série de referências oitentistas em 8 bits, fisgadas sem problemas por gamers. Isso importa muito para o filme e aos espectadores. Por trás desse riquíssimo universo, há uma história sobre aceitações, moral carimbada, proposta com humor direto. Estamos falando de um filme da Disney e só de não ter um monte de músicas acompanhando a narrativa já é algo satisfatório. O plot traz Ralph (voz de John C. Reilly) que sempre foi considerado um vilão, passando 30 anos realizando o mesmo trabalho: destruir um prédio para que logo após o herói Conserta Félix Jr. (voz de Jack McBrayer) o consertasse com seu potente martelinho mágico. Os créditos, obviamente, são todos do herói, deixando o injustiçado Ralph à mercê. Este nem foi convidado para participar da festa de comemoração dos 30 anos do próprio jogo, celebração que os outros personagens festejaram no alto do prédio, enquanto o grandalhão destruidor ficou esquecido no que chama de lixão. 

Cansado da mesmice e não aceitação, Ralph vai em busca de algo que possa fazê-lo ser um herói. O objetivo é uma medalha. Qual jogo poderia lhe render tal prêmio? Entraremos a partir dessa busca no mundo dos games em uma viagem através dos fios que transportam todos como se fosse um metrô. Nesse caminho adentraremos de vez neste universo e perceberemos as diferenças de mundo e de época coexistindo, observando personagens de alta definição comparados aos clássicos inesquecíveis com míseros pixels. Um caso romântico nasce da diferença. A animação ainda reserva momentos de terna melancolia graças ao temor do esquecimento, no caso dos jogos tornarem-se obsoletos, comprometendo a continuidade existencial de personagens que por tanto tempo estiveram em evidência. Lógica estrutural muito próxima a de Toy Story, abraçada pela Disney que capricha enquanto a Pixar segue criativamente travada. O esquecimento não é preocupação compartilhada apenas por vilões. Os heróis também tem seu tempo. E todos, independentemente, se complementam. O quê, afinal, distingue o vilão do herói? Questão de propósito. O maniqueísmo é subtendido aqui. Ao final, nos deparamos sim com uma criatura malvada, eleita pelo público como aquele a ser vencido. 

Tudo culmina na redenção, clichê perpétuo e necessário. Em “Detona Ralph” ele se dá nas pistas de corrida do jogo “Sugar Rush”, elaboração abarrotada de cores e delícias. Lá está uma menina, Vanellope von Schweetz (voz de Sarah Silverman), que sonha participar das corridas, mas por ser um “bug”, acaba segregada. Esse mundo açucarado e cor de rosa é brilhantemente desenhado, com cores fortes e atrativas que chamam a atenção das crianças sem muita dificuldade. A terra de Willy Wonka serviu como inspiração. Também é notável a distinção artística entre os jogos através dos tempos. A diferença não é unicamente técnica, é perceptível a ausência de cores fortes nos jogos desenvolvidos, muito mais sombrios e agressivos, tais como a realidade. A trilha sonora também merece menção, com sons que remetem diretamente aos games e máquinas oitentistas. A direção é do estreante Rich Moore que tem muito material em mãos e distribui com eficiência. A tecnologia apressada mudando visualmente e funcionalmente é tratada durante o longa, algo percptível para o público adulto que reconhece essa diferença por ter vivenciado distintas gerações. A Disney aprendeu muito com a Pixar. Que siga adiante crescendo com produções dignas de memória, – “Enrolados” foi um projeto adorável, porém frívolo as pretensões de ser algo maior – coisa que há algum tempo ela não sabia o que era.   


     

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