Segue a todo vapor as adaptações de contos de fadas que procuram
estabelecer novas franquias para o cinema. Idéias criativas estão escorrendo
por entre os dedos de produtores predispostos a realizar obras corriqueiras. Aí
surge um desconhecido, um cara que veio lá do norte europeu, Tommy Wirkola, que
filmou “Kill Bujo” – paródia de Kill Bill – e “Zumbis na Neve” – longa com
mortos vivos nazistas. Criatividade? Ilusão. O diretor ganhou alguma atenção e
recebeu o convite para conceber a adaptação livre de “Hansel and Gretel”,
conhecido por nós brasileiros como “João e Maria”. O filme não trata das
crianças que deixaram migalhas de pão por um caminho numa floresta, mas de dois
adultos fortemente armados que se tornaram mercenários, caçadores de bruxas que
rodam cidades eliminando as feiticeiras violentamente. Aliás, é importante
frisar “violentamente”.
Retornamos séculos e assistimos dois heróis ainda crianças serem apresentados
numa cena pré-créditos num ambiente escuro em meio a uma composição mágica
atraente. Nos deparamos com uma casa no meio da floresta feita de doces, ao melhor
estilo “A fantástica fábrica de chocolates”. A entrada parece ser um grande
pirulito, e quando aberta, converte-se numa boca cheia de dentes, engolindo
quem a atravessa. A beleza do local é um atrativo tentador para os pequenos em
fuga que decidem, ignorando todos os perigos mortais que os ameaça,
experimentar as delícias açucaradas. Isso rende um probleminha futuro a Hansel,
servindo como uma piada temporal a respeito de descobertas da medicina com
relação a uma doença metabólica tão conhecida por nós. Esse acontecimento é
nulo, nada acrescenta a narrativa, a não ser complicar um dos protagonistas
numa cena final para dar mais emoção e afundar o longa em clichês ordinários.
Os atores Jeremy Renner e Gemma Arterton formam a dupla protagonista.
Renner que tornou-se astro repentinamente após seu papel no ótimo “Guerra ao Terror”
assume um Hansel viril, que se choca com árvores e rochas e levanta-se como se tivesse
colidido com um colchão. O ator esboça um humor que não fora visto em seus
personagens recentes, Aaron Cross em "O Legado Bourne" ou o Gavião
Arqueiro em "Os Vingadores". Já Arterton que não emplacou enquanto
musa mesmo após seus papéis sensuais em “Fúria de Titãs” e “O Príncipe da Pérsia”, cria
uma Gretel agressiva, quase masculinizada, de baixo de muita roupa e armas artesanais.
Ela, que também já fora uma Bondgirl em “Quantum os Solace”, divide cenas com
outra atriz que fisgou James Bond nos anos 90, Famke Janssen de “007
Contra GoldenEye”.
Irrelevante em todos os pontos de vista, somo a fotografia e a direção
artística que tornou-se tão comum que nem merece grandes menções embora sejam
coesas e correspondentes a proposta obscura do longa, o filme peca pela direção
sem inventividades, evidenciando o pouco senso espacial do diretor. Os personagens
vão de uma distância a outra numa velocidade impressionante, o que nos faz questionar
nossa visão, já que, aparentemente, as bruxas sobre suas vassouras voam
rapidamente e os outros personagens caminhando as acompanha sem dificuldades. Ou as
vassouras voam a 5 km/h ou os heróis conhecem os atalhos igualmente Jason conhecia
Crystal Lake. Quanto às cenas de ação, essas funcionam bem, energicamente e sem
moderações, apesar do excesso de cortes. Há alguns manejos de câmera notáveis. Também
é possível se divertir com um Troll que surge no filme – Wirkola é norueguês –
cujo nome é Edward. Sátira óbvia ao vampiro reluzente.
Crianças estão desaparecendo numa pequena comunidade, obra de bruxas
que as querem para um feitiço secreto. Elas se escondem em florestas. Tem
de todo tipo, carregando sempre olhares horripilantes – há uma, ou melhor, duas bem interessantes
que duram menos de 10 segundos em cena, irmãs siamesas agressivas. A dupla então é
contratada pelo prefeito local que os enxerga como única solução, agradando
alguns habitantes e desagradando outros que preferiam resolver com as próprias
mãos. Há até um romance que emerge dessa chegada da dupla, quando Hansel salva
uma bela ruiva que estava prestes a ir para a fogueira numa ótica próxima a da
inquisição. Também chama a atenção a violência disposta. Corpos explodem,
sangue jorra e lava os personagens em volta. Corajosa abordagem que deverá
agradar alguns públicos. Para finalizar, a personagem vilã explica tudo o que
acontece com detalhes, como se o espectador fosse incapaz de entender o que está
rolando. Ao menos é breve, fugaz.
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