“A Viagem” marca o retorno dos irmãos Wachowski
para a telona. São os caras que conceberam Matrix. Ao lado deles está o alemão Tom
Tykwer (de “Corra Lola, corra”). É muita gente criativa reunida por trás das
câmeras. Às vezes isso dá problema. Este novo longuíssimo longa traz uma série
de indagações a respeito da vida num amontoando de situações que une passado,
presente e futuro como uma ligação da humanidade, partes fundamentais para a
constituição da vida após erros e acertos da mesma. Daria um belo estudo, sem
dúvidas, com opiniões divergentes que seriam concernentes as questões
levantadas, como também as refutações a tudo que se sucede em cena. Em ambas
teríamos um vislumbre rico do que fora feito o filme e de sua filosofia
moralmente taxada. Os realizadores merecem aplausos pelo que conseguiram realizar
com a desordem, mesmo que o espectador goste ou não do resultado final. Para
contribuir – ou facilitar – a captação de significados que são muitos, a produção
optou por utilizar os mesmos atores em diferentes épocas, cheio de maquiagens e
morais. Baita filme pretensioso, mas original e relevante.
De início confuso, a
narração se
revela aos poucos a partir de um padrão, algo previamente anunciado por
um dos
vários personagens. Acessamos distintas épocas e acontecimentos
parecidos. Tudo
se repete. Tudo se transforma. Mais filosofias se delongam, algumas
pueris e
outras bem colocadas e substanciais. Assim é a narrativa do filme cujo
título
brasileiro rende brincadeiras. É uma adaptação bastante ousada da obra
literária de David Mitchell. Podemos nos incomodar com a maneira que “A
Viagem”
nos é contada. Fragmentos de historias se intercalam formando um todo
interessante. A montagem amarra bem as pontas e estabelece fluxo
necessário
para não cadenciar. Entendo que é nosso dever encaixar em algumas
lacunas nossa compreensão particular e especular como tudo se intercala.
Arrumamos sentido onde não tem. São coisas
que estamos acostumados a fazer socialmente.
Atores como Tom Hanks, Halle
Berry, Hugo Weaving, Jim Broadbent, Susan Sarandon e Jim Sturgess vivem vários
personagens distintos em 6 histórias conectadas. Um cometa como marca de
nascença define protagonistas e heróis. Estes estão basicamente no cerne dos
acontecimentos em volta de séculos. Os diretores não se prendem a uma ordem
cronológica, bagunçam e depois organizam, contando histórias distintas e
distantes que se alinham a um foco. Os atores de baixo de maquiagem e no meio
de um design de produção rebuscado são captores de uma mensagem universal sobre
amor e solidariedade, noções que movimentam o mundo. Há até uma idealização
bastante pessimista do futuro, uma realidade pós apocalíptica em um porvir longínquo
onde um velho conta histórias de outrora. Os seres humanos retornaram as
origens após terem de de sair do planeta terra arruinado. Para chegar até ali,
várias coisas mudaram. Temos acesso a algumas delas, menções da humanidade gasta
por sua própria evolução.
Gosto especialmente da trama envolvendo
a nova Seul, com o clone Sonmi-451 (Donna Bae) trabalhando numa rede como um andróide
programado para exercer funções únicas e resistir a humilhações. Um fato lhe
desperta questões existenciais que a faz questionar sua vivência naquele ambiente,
estando posteriormente envolvida em perseguições por causa do que os humanos preferem
não fazer: questionar. “A Viagem” passará angariando fãs, pessoas que o defenderão
como puderem. “Nossas vidas não são nossas...” e seguem explicações a respeito
de tal afirmação. É apenas um dos lampejos filosóficos que o filme apresenta em
seus quase 180 minutos. É tempo demais para dizer tão pouco, ou de maneira
fugaz o que poderia ter sido pertinente. É, novamente, ambicioso demais, belo
demais, coisas demais que ao final tornam-se de menos. Todavia é bonito,
visualmente interessante e inteligente, com a fotografia e direção artística
enternecendo.
Achei um belo e excelente filme. Gosto dessas produções que mexem com indagações profundas, e que atingem diretamente algumas questões relevantes e ao mesmo tempo angustiantes para o ser humano. As três horas passaram voando comigo.
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