segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Proseando sobre... A Viagem

“A Viagem” marca o retorno dos irmãos Wachowski para a telona. São os caras que conceberam Matrix. Ao lado deles está o alemão Tom Tykwer (de “Corra Lola, corra”). É muita gente criativa reunida por trás das câmeras. Às vezes isso dá problema. Este novo longuíssimo longa traz uma série de indagações a respeito da vida num amontoando de situações que une passado, presente e futuro como uma ligação da humanidade, partes fundamentais para a constituição da vida após erros e acertos da mesma. Daria um belo estudo, sem dúvidas, com opiniões divergentes que seriam concernentes as questões levantadas, como também as refutações a tudo que se sucede em cena. Em ambas teríamos um vislumbre rico do que fora feito o filme e de sua filosofia moralmente taxada. Os realizadores merecem aplausos pelo que conseguiram realizar com a desordem, mesmo que o espectador goste ou não do resultado final. Para contribuir – ou facilitar – a captação de significados que são muitos, a produção optou por utilizar os mesmos atores em diferentes épocas, cheio de maquiagens e morais. Baita filme pretensioso, mas original e relevante.

De início confuso, a narração se revela aos poucos a partir de um padrão, algo previamente anunciado por um dos vários personagens. Acessamos distintas épocas e acontecimentos parecidos. Tudo se repete. Tudo se transforma. Mais filosofias se delongam, algumas pueris e outras bem colocadas e substanciais. Assim é a narrativa do filme cujo título brasileiro rende brincadeiras. É uma adaptação bastante ousada da obra literária de David Mitchell. Podemos nos incomodar com a maneira que “A Viagem” nos é contada. Fragmentos de historias se intercalam formando um todo interessante. A montagem amarra bem as pontas e estabelece fluxo necessário para não cadenciar. Entendo que é nosso dever encaixar em algumas lacunas nossa compreensão particular e especular como tudo se intercala. Arrumamos sentido onde não tem. São coisas que estamos acostumados a fazer socialmente. 

Atores como Tom Hanks, Halle Berry, Hugo Weaving, Jim Broadbent, Susan Sarandon e Jim Sturgess vivem vários personagens distintos em 6 histórias conectadas. Um cometa como marca de nascença define protagonistas e heróis. Estes estão basicamente no cerne dos acontecimentos em volta de séculos. Os diretores não se prendem a uma ordem cronológica, bagunçam e depois organizam, contando histórias distintas e distantes que se alinham a um foco. Os atores de baixo de maquiagem e no meio de um design de produção rebuscado são captores de uma mensagem universal sobre amor e solidariedade, noções que movimentam o mundo. Há até uma idealização bastante pessimista do futuro, uma realidade pós apocalíptica em um porvir longínquo onde um velho conta histórias de outrora. Os seres humanos retornaram as origens após terem de de sair do planeta terra arruinado. Para chegar até ali, várias coisas mudaram. Temos acesso a algumas delas, menções da humanidade gasta por sua própria evolução. 

Gosto especialmente da trama envolvendo a nova Seul, com o clone Sonmi-451 (Donna Bae) trabalhando numa rede como um andróide programado para exercer funções únicas e resistir a humilhações. Um fato lhe desperta questões existenciais que a faz questionar sua vivência naquele ambiente, estando posteriormente envolvida em perseguições por causa do que os humanos preferem não fazer: questionar. “A Viagem” passará angariando fãs, pessoas que o defenderão como puderem. “Nossas vidas não são nossas...” e seguem explicações a respeito de tal afirmação. É apenas um dos lampejos filosóficos que o filme apresenta em seus quase 180 minutos. É tempo demais para dizer tão pouco, ou de maneira fugaz o que poderia ter sido pertinente. É, novamente, ambicioso demais, belo demais, coisas demais que ao final tornam-se de menos. Todavia é bonito, visualmente interessante e inteligente, com a fotografia e direção artística enternecendo.

Um comentário:

  1. Achei um belo e excelente filme. Gosto dessas produções que mexem com indagações profundas, e que atingem diretamente algumas questões relevantes e ao mesmo tempo angustiantes para o ser humano. As três horas passaram voando comigo.

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