segunda-feira, 9 de maio de 2011

Proseando sobre... VIPs


“VIPs” apóia-se naquela idéia de ser quem você não é, seja por desejo, por fuga ou por patologia. Ser o outro, ou criar um outro ser, é a proposta do filme de Toniko Melo, baseado no livro “Histórias Reais de um Mentiroso” de Mariana Caltabiano que mais tarde virou documentário de mesmo nome. A vida de Marcelo do Nascimento nos é apresentada de uma maneira descontraída postando em cena artimanhas de um jovem que conquistou distintos status sociais ao assumir identidades falsas tanto no Brasil quanto no Paraguai culminando no carnaval recifenho.

De início conheceremos um jovem introvertido, distraído, perdido em pensamentos, mas impressionantemente inteligente. Este é Marcelo, vivido por Wagner Moura, rejuvenescido e adotando um penteado horroroso. Moura impulsiona um grandioso personagem e dá conta de todas suas facetas sem perder o brilho seja em suas explosões emocionais furtivas, na desordem de seus sentimentos quanto a crença de quem realmente é e nos delírios que o acompanham inspirando-o a conquistar um objetivo inicialmente prometido. Novamente o ator prova ser um dos maiores talentos nacionais.

De um jovem aspirante a piloto, Marcelo se envolve com uma quadrilha paraguaia e se torna uma referência no ramo da aviação clandestina; em outro momento se passa por um dos diretores da Gol e goza deste feito. Sempre relacionado a aviação, os personagens criados pelo protagonista são definitivamente aéreos, confundindo não só sua mutável identidade como o público que constantemente desconfia sobre sua sanidade. Esse desenrolar da narrativa que segue acompanhando de perto o personagem central é leve, soma piadas e gags visuais, tirando risadas orgulhosas do público.

A confusão, ou desorientação, sugestionada pelos lapsos em que Moura tem da realidade é coordenada com destreza e sem muita inventividade, mesmo dividindo o espectador sobre a condição de seu protagonista, o que pode incomodar alguns. Mas este falsário é bárbaro pela lábia e engenho de lidar com situações: as cenas do interrogatório num presídio denota uma habilidade de um legítimo contador de histórias fazendo da fantasia absurda uma informação intimidante e ousada. Em meio a elaborações e catarse, Marcelo se dissipa em seus vários e bem caracterizados personagens num clima noventista, que vai desde estilizações, sucessos e modelos da época – as fotos num salão de beleza e as canções do Legião Urbana.

O diretor Toniko Melo dá total liberdade ao elenco e não se rende a vícios, sendo seu protagonista uma versão brasileira de Frank Abagnale Jr., vivivido por Leonardo DiCaprio em “Prenda-me Se For Capaz”. O Brasil ganha seu falsário e mesmo que isso não seja algo positivo, para o cinema, frente a qualidade e estrutura que a história se submete, é uma vitória. E essa beleza narrativa desenvolvida encontra ainda um grande momento a partir de uma foto de um carnaval passado com Gisele Fróes, a mãe de Marcelo, mascarada no meio de dois homens, semelhante a uma visão recente do protagonista, estímulo que o leva diretamente a sua, agora distante, realidade.   

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