O filme inicia e sua primeira
cena logo nos leva a pensar: ora, já vi isso antes. Segundos depois: claro, esse
é Jason Bourne. Não. Quase isso. É uma tomada na água, um corpo está flutuando
inerte. Logo ele se movimenta e mergulha. Entre montanhas gélidas, nevascas e
lobos, um homem caminha solitário sobrevivendo como pode as duras ações do
tempo e percebe que as pílulas que usa para sustentar sua força e percepção
estão se esgotando. Este é Aaron Cross (Jeremy Renner), um homem igualmente poderoso
como Jason Bourne – este último é constantemente citado ao longo do filme –,
com as mesmas habilidades físicas e intelectuais. Ambos fizeram parte de um
projeto de criação de seres humanos superiores e, enquanto o Jason é
perseguido, segundo a lógica cronológica dos filmes anteriores, outros homens
são exterminados, o que nos leva a fuga do protagonista, Cross, o número 5 dos
experimentos.
Resultado de um programa chamado Outcome,
esses homens transformados em super agentes precisam ser exterminados antes que
a verdade por trás da finalidade do experimento seja revelada. Não somente
esses, mas os cientistas envolvidos com a droga e que conhecem os objetivos do
projeto do governo também devem ser extintos. Uma caçada letal se inicia, com
uma série de mortes e uma fuga desenfreada com poucos sobreviventes, entre
eles, além de Bourne – que não aparece em cena, a não ser numa foto – está Aaron
e a Dra. Marta Shearing (Rachel Weisz). Para nos transportar ao âmbito
característico da trilogia, cenas de ação, perseguição enérgica, combate em
extremos e viagens a várias partes do mundo contextualizam a trama. Algumas seqüências
de cena são interessantes plasticamente, no entanto o senso espacial de seu
realizador compromete, com distâncias vencidas em tempos recordes e excesso de
cortes.
Fora da empreitada, Paul
Greengrass que dirigiu os dois últimos longas da franquia cedeu a cadeira da
direção ao roteirista dos 4 filmes, Tony Gilroy, que tem experiência por trás
das câmeras, inclusive com indicação ao Oscar em “Conduta de Risco”. Se
anteriormente a premissa trazia um homem em busca de sua identidade nos
convencendo que a graça do projeto era a revelação de quem era o sujeito que
dotava de uma série de habilidades além dos potenciais humanos, essa sequência
se revela mais comum e usual, transformando o herói numa vítima a esquiva da
morte em vários sentidos, enfraquecendo o potencial da narrativa que ainda
carrega o nome de Bourne. Aqui Aaron sabe quem ele é. O destaque fica com seu
implacável caçador, Eric Byer (vivido por um desperdiçado Edward Norton).
Com bons artifícios estéticos que
vão desde a montagem eficiente até o trabalho de fotografia que fundamenta
maniqueísmos através da composição das cores em suas representações, “O Legado
Bourne” busca relembrar o que já fora feito e propor ao público que este é, de
fato, uma continuação da bem realizada franquia. Tal obra vem com pretensões de
criar, provavelmente, uma nova trilogia. Esquecer Jason Bourne será algo
impossível, sobretudo pelos feitos da produção que arrecadou mais de 1 bilhão
ao longo dos 3 filmes. Não será possível enterrar o personagem. Quem sabe ele
possa dar as caras no futuro?! Já Jeremy Renner, ótimo em “Guerra ao Terror” e “AtraçãoPerigosa”, e recentemente marcado por viver o Gavião Arqueiro em “Os Vingadores”,
segura bem o papel de herói, mesmo que sofra com comparações inevitáveis com
Matt Damon. Potencial para crescer, o filme tem. Que não se torne um mero caça
níquel.
O filme se saiu bem em construir uma história paralela, e ainda assim manter algumas ligações com a franquia original. As cenas de ação também são muito boas, mas não apresentam nada de inovador. Apenas os personagens são meio apáticos, especialmente a de Rachel Weiz. Mas no geral, é um bom filme.
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