Não é um filme politicamente
correto. Na verdade não é nada politicamente correto e deve ser encarado como
tal, mesmo que algumas piadas possam parecer ofensivas ou até mesmo agressivas
para algumas pessoas. Para as pretensões da narrativa, são necessárias. E em
defesa desse filme muito bem carregado por Sacha Baron Cohen, o foco central
não é, em qualquer hipótese, humilhar os alvos das piadas. Nada disso. Mas gozar
de quem as profere, tornando-o num indivíduo absolutamente tolo e ingênuo.
Iguais a ele, existem muitos. E são justamente esses que são satirizados. A
dedicatória vai para Kim Jong-il. A lista de homenageados poderia ser bem
maior.
Com seu tradicional humor ácido
que incomoda muita gente, Sacha Baron Cohen encarna em seu mais novo personagem,
o Ditador Aladeen. Egocêntrico e sem malícias, é o senhor do povo da República
de Wadiya e juntamente a alguns cientistas, está desenvolvendo uma arma nuclear
para fazer frente a grandes potências mundiais. O interesse bélico o faz ser
questionado e, em visita aos Estados Unidos para um encontro na ONU a fim de
explicar suas motivações para a criação de uma bomba, se dá conta de questões
que nunca havia julgado ou aprendido, tanto por desinteresse ou por ignorância.
Há mais força na segunda hipótese, tanto que alguns termos incompreensíveis a
ele foram simplificados e alterados para “aladeen”.
Esta é mais uma parceria entre Cohen com o diretor Larry Charles. Ambos trabalharam juntos no
ótimo “Borat” e no infeliz “Brüno”, chegando em “O Ditador” a uma terceira e
saudosa realização. Tomado por excessos e situações que poderiam ser reais,
como nos filmes anteriores, a obra não se limita a fazer piada com alguns povos
e minorias, degradando através do humor raças, credos e etnias, de forma
análoga ao repórter do Cazaquistão. Com um comportamento infantilizado, fruto
do aprendizado de uma vida, ele se mostra incapaz de acatar críticas ou
contrariedades. Quando, em certo momento, concluímos que a experiência em
território americano mudou-o, temos uma surpresa.
Carente de afeto, seu ressentimento
é visível em seu espaçoso quarto, sua enorme cama onde dorme sozinho e na
parede tomada por fotos evocando companhias compradas. Descompromissado de
relações amorosas, ele celebra conquistas juvenis, e numa cena específica, impagável,
percebe a possibilidade da masturbação, uma execução pessoal que jamais tinha
experienciado. Junto a essa, outras emergem. Segue-se, então, um tipo de filme que
fala da auto-descoberta, percepção interessante que o diretor compartilha em
cenas aleatórias e enlouquecidas. Como ignorar o momento do parto no chão de um
mercado e o interesse romântico disposto pelo toque entre o ditador e a
feminista Zoey (Anna Faris).
Agraciado por gags relevantes e
aparições comedidas de atores como Megan Fox e Edward Norton, além de personagens
encenados por intérpretes do calibre de Ben Kingsley e John C. Reilly, o longa
expõe a fragilidade de seu protagonista e também sua necessidade de auto-afirmação,
sem discriminar certo, errado, ética ou moral. É sua obsessão pelo sucesso e
poder, tornando-o numa figura horrenda do ponto de vista político e social. E
dentro desse estigma, Cohen é talentoso ao expressar as manias e as
compensações de Aladeen, bem humanizado, alguém que precisa demonstrar imponência
como disfarce de sua mediocridade, dentre outros problemas. Sem preconceito aos
preconceitos tratados, “O Ditador” é garantia de diversão e humor negro de
ótima qualidade.
Ótimo filme!
ResponderExcluirNão se trata de um humor que agrada a todos com certeza, essas pessoas que vêem preconceito em tudo não devem nem passar perto deste filme, mas pra quem gosta desse tipo de filme é um prato cheio!