Baseado num livro de 1968 psicografado por Chico Xavier
através dos relatos do espírito André Luiz , o filme “E a vida continua...”
ganhou as telas cinematográficas com a direção de Paulo Figueiredo. Esse é mais
um representante do cinema espírita, subgênero que vem ganhando força no cinema
nacional, com constantes sucessos de público e fracassos de críticas. A idéia,
pelo que estes filmes apresentaram até então, é comercializar a doutrina do
espiritismo. A proposta é evidente, poderia ser disfarçada nas entrelinhas da
produção como todos outros projetos tendenciosos fazem, caso estivessem
envolvidos diretores e roteiristas competentes e atrelados a arte
cinematográfica em suma, e não a um comercial de mais de 90 minutos.
Trazendo discursos morais através da hipótese de um mundo
onde residem os espíritos, o longa escrito pelo próprio diretor é extremamente
didático, cuidadosamente explicado, fruto de circunstâncias que podem esclarecer
ao público o que está acontecendo. O planeta Terra nada mais é do que um local
onde abriga-se matérias – o corpo humano – em formação pessoal. Para o
desenvolvimento da trama, tão simplória e sem virtudes narrativas, um arco
dramático é criado, centrando em duas vidas unidas por Deus num hospital – o
que chamaríamos de coincidência, nomeiam de propósito. Daí um aprendizado, um
afago ao risco frente à morte.
Com dois personagens em estado terminal, Evelina (Amanda
Acosta) e Ernesto (Luiz Baccelli), o filme laça os espectadores a partir da
oferta da esperança e do desconhecido, plano que será trabalhado no futuro do
longa, mas que já ganha alguns adiantamentos de Ernesto que discursa sobre a
morte e teoriza a respeito de seu pós. Os conceitos e práticas da religião são
impostos, o que garante a empatia dos seguidores da doutrina. Algo natural e
que deve-se levar em conta, afinal, é para eles que a obra fora concebida. Há
ainda um método prático para nos solidarizarmos pelos personagens quando
percebemos duras injustiças em suas vidas. Ações que escorrem até os princípios
do pós morte, retratando, entre outras suposições, a reencarnação.
Todo o enredo vai de encontro com os artifícios frouxos colocados
pelo filme, como o melodrama, a trilha lenta e a vagarosidade, fora a
caricatura e a tendência explícita em acalentar o público atrás de respostas.
Nem a fotografia, algo bem utilizado em produções anteriores, ganha boa atenção
aqui. Quanto às atuações, essas são das mais risíveis, encenadas, como se o
diretor não obrigasse ninguém a repetir tomadas, ou por pura pressa em
finalizar o projeto. O trabalho de som é outro problema escancarado, quase
desconfiei de que os atores estavam dublando suas falas. Nem Lima Duarte se dá
bem na empreitada que não preza seu talento, dando a ele o encargo de instrutor
num céu. Beira o ridículo a composição geral, não a hipótese. Trata-se de um
filme, e é justamente sobre o filme que este texto trata, não sobre o que este procura
apresentar, ou vender.
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