sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Proseando sobre... RoboCop



Comparações são e sempre serão inevitáveis em diversos âmbitos, o que não significa que são necessárias. É um hábito costumeiro, especialmente no cinema, quando trata de longas que obtiveram grande prestígio e repentinamente ganharam uma nova versão. Ou até mesmo os que trazem tramas similares. No caso, o novo RoboCop frente ao Robocop - O Policial do Futuro (Robocop, 1987) dirigido pelo holandês Paul Verhoeven. Para os brasileiros, a atenção no remake é redobrada devido ao cara que está na direção: o cineasta José Padilha, famoso por seu trabalho nos dois filmes Tropa de Elite. Um ótimo realizador que pôs a prova seu talento em Hollywood num filme de ficção que conta sobre um policial que teve o corpo mutilado numa explosão e foi reconstituído tornando-se metade homem e metade máquina.

Não faltam semelhanças com a obra passada. Essa ganha outras conotações, além da tecnologia a favor. É um filme de diálogos e reflexões, vários personagens se revelam no meio da embaraçada história. Aliás, nesse há muitos personagens e todos com funções o que, para alguns, compromete o filme enquanto outros acreditam que o enriquece. O fato é que a discussão em volta dos vários temas fortalece a narrativa do ponto de vista do texto. Críticas semelhantes às vistas no sucesso Tropa de Elite se repetem, desde os reacionários cativados por armamento tratando violência com violência até a moral e conflitos éticos. Aqui esses conflitos emergem graças a possibilidade de dar sequência a vida de um humano que praticamente a perdeu. É uma versão evocativa de Frankenstein.

Tudo isso e mais freia o filme, impede que a ação se dissemine. O primeiro ato é bastante promissor, incendeia discussões em vários aspectos. A história é bem contada, clara, recheada de bons momentos envolvendo corrupção e sensacionalismo. Até a metade da projeção acompanhamos a história por trás de RoboCop, as dificuldades de uma empresa, a Omnicorp, em colocar nas ruas dos Estados Unidos uma máquina de guerra capaz de reduzir à violência a zero. Tal desejo encontra rejeição de boa parte do povo americano que não aceitaria uma máquina dominando a segurança. Aí entra uma ironia distópica, já que vários países do mundo adotaram o sistema, exceto aquele que lhe concebeu. O melhor país do mundo, segundo um de seus personagens. O que resta fazer é criar um híbrido. Nasce um RoboCop com dilemas. Cenas simbólicas como o primeiro encontro entre pai e filho após a tragédia é excelente, constatamos a câmera cortar o protagonista para após envolvê-lo em igualdade com a criança quando este se ajoelha.

Carregando potencial de sobra pra ser um grande filme que denuncia o envolvimento político e empresarial sobre vidas, essa versão fica no paradigma da incitação, colocando sobre uma mesa engrenagens de sistemas e como somos movidos e fazemos parte disso. É feliz em tal concepção. E infeliz no seu desenvolvimento, já que vai perdendo o fôlego antes do fim da projeção quando toma partido, perdendo o tom satírico para a imposição. Aí vira um filme enérgico, um bom exemplar de ação. Todavia é mecanizado, não sustentando o ideal outrora almejado. O ótimo Gary Oldman juntamente a Michael Keaton e Jackie Earle Haley chamam a atenção nos momentos que estão em cena. O ator sueco Joel Kinnaman que vive Alex Murphy, o RoboCop, pouco contribui expressivamente. Resquícios de originalidade explodem, mas escapam pelas mãos de Padilha. É uma grande realização, sem dúvidas, ainda mais por ser sua estreia na terra do cinema pop comercial. Verhoeven criou um mito, Padilha o acompanhou. E com direito a Basil Poledouris!!!      



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