Comparações são e sempre serão inevitáveis em
diversos âmbitos, o que não significa que são necessárias. É um hábito
costumeiro, especialmente no cinema, quando trata de longas que obtiveram
grande prestígio e repentinamente ganharam uma nova versão. Ou até mesmo os que
trazem tramas similares. No caso, o novo RoboCop frente ao Robocop -
O Policial do Futuro (Robocop, 1987) dirigido pelo holandês Paul Verhoeven.
Para os brasileiros, a atenção no remake é redobrada devido ao cara que está na
direção: o cineasta José Padilha, famoso por seu trabalho nos dois filmes Tropa
de Elite. Um ótimo realizador que pôs a prova seu talento em Hollywood num
filme de ficção que conta sobre um policial que teve o corpo mutilado numa
explosão e foi reconstituído tornando-se metade homem e metade máquina.
Não faltam semelhanças com a obra passada. Essa
ganha outras conotações, além da tecnologia a favor. É um filme de diálogos e
reflexões, vários personagens se revelam no meio da embaraçada história. Aliás,
nesse há muitos personagens e todos com funções o que, para alguns, compromete
o filme enquanto outros acreditam que o enriquece. O fato é que a discussão em
volta dos vários temas fortalece a narrativa do ponto de vista do texto.
Críticas semelhantes às vistas no sucesso Tropa de Elite se repetem,
desde os reacionários cativados por armamento tratando violência com violência
até a moral e conflitos éticos. Aqui esses conflitos emergem graças a
possibilidade de dar sequência a vida de um humano que praticamente a perdeu. É
uma versão evocativa de Frankenstein.
Tudo isso e mais freia o filme, impede que a ação
se dissemine. O primeiro ato é bastante promissor, incendeia discussões em
vários aspectos. A história é bem contada, clara, recheada de bons momentos
envolvendo corrupção e sensacionalismo. Até a metade da projeção acompanhamos a
história por trás de RoboCop, as dificuldades de uma empresa, a Omnicorp, em
colocar nas ruas dos Estados Unidos uma máquina de guerra capaz de reduzir à
violência a zero. Tal desejo encontra rejeição de boa parte do povo americano
que não aceitaria uma máquina dominando a segurança. Aí entra uma ironia
distópica, já que vários países do mundo adotaram o sistema, exceto aquele que
lhe concebeu. O melhor país do mundo, segundo um de seus personagens. O que
resta fazer é criar um híbrido. Nasce um RoboCop com dilemas. Cenas simbólicas
como o primeiro encontro entre pai e filho após a tragédia é excelente,
constatamos a câmera cortar o protagonista para após envolvê-lo em igualdade
com a criança quando este se ajoelha.
Carregando potencial de sobra pra ser um grande
filme que denuncia o envolvimento político e empresarial sobre vidas, essa
versão fica no paradigma da incitação, colocando sobre uma mesa engrenagens de
sistemas e como somos movidos e fazemos parte disso. É feliz em tal concepção.
E infeliz no seu desenvolvimento, já que vai perdendo o fôlego antes do fim da
projeção quando toma partido, perdendo o tom satírico para a imposição. Aí vira
um filme enérgico, um bom exemplar de ação. Todavia é mecanizado, não
sustentando o ideal outrora almejado. O ótimo Gary Oldman juntamente a Michael
Keaton e Jackie Earle Haley chamam a atenção nos momentos que estão em cena. O
ator sueco Joel Kinnaman que vive Alex Murphy, o RoboCop, pouco contribui
expressivamente. Resquícios de originalidade explodem, mas escapam pelas mãos
de Padilha. É uma grande realização, sem dúvidas, ainda mais por ser sua
estreia na terra do cinema pop comercial. Verhoeven criou um mito, Padilha o
acompanhou. E com direito a Basil Poledouris!!!
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