Liam Neeson virou sinônimo de filmes de ação. O cara leva jeito com
os papéis. Nos últimos anos, sua filmografia contou com cerca de uma
dezena de filmes do gênero que obtiveram relativo sucesso. Dessa vez ele
encarna um agente federal responsável pela segurança de um vôo, um vôo
que fora sequestrado. Tudo é obscuro. Falsas pistas surgem aos montes e o
espectador se pega interessado, atento, tentando desvendar juntamente
ao herói o que de fato está acontecendo ali. Várias são as hipóteses
tratadas pelo roteiro, o que incita a curiosidade do espectador, tenso
diante os acontecimentos que acontecem em pleno vôo, com pessoas
morrendo a cada 20 minutos, sob ameaças das mensagens de um misterioso
estranho.
Há uma bomba no avião! Se não bastassem os passageiros morrendo,
ainda é preciso lidar com essa. Filmado quase que inteiramente num só
espaço, o filme entrega a paranoia americana. Tem um herói, Bill Marks
(Neeson), manchado por possíveis fracassos passados. Este até tem medo
de voar, ou melhor, de decolar, conforme explica para uma passageira
(Julianne Moore). Carrega um símbolo supersticioso. Seu anúncio inicia a
saga sobre a compreensão de quem é seu protagonista, aparentemente
desequilibrado e solitário. Algo sério lhe aconteceu. O roteiro se
encarrega de possibilitar vários momentos em que o público junte peças e
especule, se entretendo com o infortúnio alheio. Todos são suspeitos.
Bill Marks desconfia de todos e todos desconfiam dele. E de um
muçulmano. Sempre eles.
Poderíamos supor que Sem Escalas se trata de mais um elementar
longa cujo mistério que lhe ronda irá se revelar tal como em ficções
convencionais, doido para surpreender o espectador com uma surpresa tola
plantada. Previsão equivocada. A direção do espanhol Jaume Collet-Serra
favorece muito o filme, não cai em maneirismos costumeiros, engata o
suspense e o mantém sem alívios, a não ser por uma cena ou outra,
especialmente aquela em que o personagem de Neeson revela em público seu
passado. Tal cena está deslocada da trama, marginalizada, como se o
roteiro não tivesse encontrado outro recurso para promover seu
protagonista, imperfeito, passível de erros. No mais, acerta no tom, na
pegada que condensa drama e suspense policial. Collet-Serra e Neeson
repetem uma parceria que havia começado em Desconhecido (Unknown, 2011).
De construções narrativas breves e impelidas a reviravoltas, Sem Escalas
é uma produção eficiente e competente de um gênero gasto e difícil,
especialmente quando este se concentra quase que inteiramente em um só
local. As atuações burocráticas não comprometem, o ritmo e a frequência
de eventos não dão muito tempo ao elenco de apoio de mostrar serviço.
Quem se garante é mesmo Neeson e sua carranca. Já Moore parece viver uma
versão solitária feminina de Marks, sua presença inoportuna – como ela
chega no avião, por exemplo – lhe dá mais importância do que merece,
tornando-a considerável para o bem ou para o mal. A recente oscarizada
Lupita Nyong’o juntamente a Michelle Dockery e Corey Stoll completam o
elenco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário