quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Proseando sobre... Uma Aventura LEGO



A nostalgia é uma arma poderosa no cinema. Alguns filmes nos conquistam pela identificação. Somos frágeis nesse sentido e alvos fáceis de longas que de alguma forma nos transportam a infância. Vários são os exemplos. Peço licença para mencionar aquele que considero mais significativo, Toy Story 3 (Toy Story 3, 2010). Este fora capaz de mobilizar o mundo e tornar-se uma obra prima do gênero, fechando uma trilogia marcante sendo, essencialmente, terna, sensível, emocionante e humana. Dito isso, chego a esse Uma Aventura LEGO, pois ambos dialogam com o espectador, promovem uma viagem ao passado com aquele já brincou um dia, que criou mundos e se divertiu com sua imaginação enquanto tocava os brinquedos. Comparar Uma Aventura LEGO com Toy Story é um imenso elogio ao primeiro.   

Parece uma grande brincadeira. Uma Aventura LEGO é uma animação divertidíssima! Podemos estranhar numa primeira olhada a dinâmica dos bonecos e os quadros. Mas o desenho de produção traz cuidadosamente os detalhes mais meticulosos do brinquedo – a água, o fogo, as munições – e garante nossa interação como se fizéssemos parte da brincadeira. O desenho é quadradão e isso o deixa ainda mais interessante e, por que não(?), real. Real por que é assim que se brinca com LEGO, elaborando coisas, criando o tempo inteiro. Os bonecos não são articulados e isso é mais uma piada: a cena do polichinelo, por exemplo, é bizarramente cômica.

Imagina-se a perfeição, fazer as coisas seguindo tempo e regras, tudo de acordo com normas e manuais, nunca saindo do controle. Assim se tem um dia perfeito. Essa consideração midiática de perfeição mantém o controle da população. O tempo passa, nada muda. E não mudando, não há estresse. As constatações de tal falta de progresso de alinha aos moldes de uma sociedade incauta, que consome o que mandam consumir, que vivem conforme pede a insistente canção. É uma particularidade trabalhada em meio a narrativa com universos construídos que logo são desconstruídos, desfeitos em blocos, perspectivas de mudança que fariam Winston de George Orwell assentir.

Subvertendo paradigmas costumeiros em desenhos, a obra da dupla de roteiristas e diretores Phil Lord e Christopher Miller permite uma interação diferente com o espectador. Segue uma linha óbvia através de uma história simplória desenvolvendo-se livremente e energicamente, quase sem pausas. Piadas estouram em gags, diálogos e especialmente em referências – essa última diz respeito a linha de brinquedos lançados através dos anos trazendo personagens da ficção e grandes nomes da história. Acompanhamos um construtor, considerado por todos um alguém comum que não carrega nada de especial. São dele as invenções mais desastrosas, sua estima se esvai à medida que descobre a indiferença alheia. O roteiro se preocupa em trabalhar essa idéia como uma moral necessária. O tema é calejado, porém aqui ganha outra vertente, especialmente quando se direciona para o final onde descobrimos que...

Tantas referências empolgam, deixam o filme ainda mais recreativo. Os fãs do brinquedo certamente pegarão mais designações que o espectador comum. E o herói de toda história não é um só, mas é simbolizado por um operário (não poderia escolher outra profissão melhor), o carismático Emmet que vive na sombra do Batman (o melhor personagem da história). Bonito, criativo e originalíssimo, Uma Aventura LEGO acertará as crianças, no entanto deverá ganhar mesmo a atenção dos adultos. E como é bom idealizar, desconstruir, reconstruir e formar constantemente. E onde mais é possível unir figuras como o presidente Lincoln, Michelangelo (o artista e a tartaruga ninja), Shaquille O'Neal, Gandalf, Dumbledore, Lanterna Verde e tantos outros num só local? Somente na imaginação, no sonho, e vemos tudo isso através da arte do movimento, fotografado e exibido com uma ternura tocante. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário