sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Proseando sobre... 47 Ronins



Cercado por lendas orientais, um dos contos mais célebres japoneses ganhou as telonas através de mãos americanas. Historicamente foram várias as adaptações para o cinema, uma em especial permanece na memória cinéfila: A Vingança dos 47 (Genroku Chûshingura, 1941) de Kenji Mizoguchi. Já essa nova versão, estrelada por Keanu Reeves, vaga por outros caminhos. A obra é baseada num acontecimento lá do século XVIII envolvendo um grupo de samurais. Nessa nova concepção, para o regozijo americano, criaturas fantásticas foram inseridas – monstros e feiticeiras – e adaptaram a famosa história pensando que fariam dela ainda mais impressionante. Conseguiram realizar uma grande bomba. O diretor Carl Rinsch, estreante em longas, viu seu nome manchar antes mesmo de se tornar minimamente relevante.

Um grupo de ronins busca vingança. Seu mestre foi morto e sua terra invadida. Circunstâncias que fogem a história original – o que não é um problema, já que trata-se de uma adaptação – dão o tom fictício da trama, envolvendo interessados por distintas mitologias. Tanto desperdício. É entretenimento audiovisual dispensável, um circo cheio de despropósitos, buscando diversão sem lógica. A corrida atrás de um monstro, por exemplo, é um acontecimento nulo, uma vez que a criatura não tem qualquer relevância na trama. Carl Rinsch não consegue manter um ritmo e se perde na coordenação dos atores e na ação carimbada.

Felizmente algumas ideias originais persistem, como o seppuku, um ritual suicida; e a saga dos heróis atravessando feudos no Japão. Aos fãs dessa cultura, tais cenas ganharão alguma notoriedade. O orgulho daquele povo se mantém, parece compreendido pelos ocidentais, e é a nossa curiosidade a cerca de seu resultado que nos mantém atentos até o fim da projeção. Outras coisas incomodam, como os personagens falando em inglês e escrevendo em japonês. Todavia relevamos.

A verdade é que 47 Ronins é falho em quase tudo o que propõe. Acerta no tom da fotografia e ambientação, assegurada por um bonito desenho de produção – a cultura oriental favorece a estética –, mas a relevância disso em tempos atuais são banais.  A história ostensiva termina medíocre e rasa, graças a um roteiro descabido, demasiado didático, subestimando a inteligência de quem o acompanha. Parece adaptado para um público juvenil. Plasticamente atraente, o filme sofre para engatar, sendo verdadeiramente entediante. Desconfio que os problemas da produção não sejam desculpa para sua vagarosidade e abnegação. O longa estacou por mais de um ano até ser terminado. O gigante fracasso de bilheteria é um forte soco de realidade nesse que já é considerado um dos piores filmes lançados recentemente em todo o mundo. Ele coleciona rejeição de público e crítica. O público está amadurecendo e ficando mais crítico ou cansaram de entretenimento desse tipo? Produções similares vem enfrentando o mesmo problema.

Tantos conceitos foram jogados fora a troco de um convencionalismo fútil que fica impossível não olhar para o cinema e percebê-lo diminuído por grandes produções medíocres que mensalmente explodem nas telonas. E falando em convencionalismo, até aqui temos um alívio cômico que parece ter saído de algum pastelão hollywoodiano, um samurai obeso que promove algumas piadas. Nesse 47 Ronins nem os bons atores seguraram a carga dramática exigida pela tragédia envolvida, pela representação histórica, pela filosofia que ajudou a moldar o oriente e pelo significado do ser um Samurai. Ou Ronin. O astro Keanu Reeves está em um de seus piores momentos, insípido e desinteressado, certamente por saber que estava envolvido com uma bomba. A própria produtora Universal já supunha quando constatava os problemas a cerca do tempo de produção. Já Rinko Kikuchi, que ganhou prestígio graças ao ótimo Babel (Idem, 2006), consegue dar alguma dignidade a sua feiticeira. 47 Ronins não encontra um viés para o protagonista e sabota miseravelmente o sentido daqueles que desejou homenagear.



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