quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Proseando sobre... Álbum de Família



Álbum de Família tem algo que nos faz gostar do filme: Meryl Streep. Mais uma indicação ao Oscar, mais uma grande atuação.  A mulher não cansa, sempre impressiona, se renova e nos encanta. Talento é talento, alguns tem, outros não. O mundo é cruel. Mas também não é só por ela, há um grande elenco envolvido: Julia Roberts, Ewan McGregor, Abigail Breslin, Benedict Cumberbatch, Juliette Lewis, Chris Cooper e Sam Shepard numa ponta. Estes reunidos em volta de uma mesa promovem uma das cenas mais memoráveis do longa. Ela é bem conduzida – com ressalvas pela força do roteiro nesse ponto –, coesa e se mantém ascendente com verdades se revelando, causando os maiores constrangimentos que só um encontro de família é capaz de causar. O filme é dirigido por John Wells e é originado de uma peça teatral escrita por Tracy Letts, este assina o roteiro do longa.

Um sucesso da Broadway, a peça August: Osage County ganha às telonas pelas mãos de um desconhecido diretor. Wells é produtor, e parece não estar muito à vontade na direção. Falta-lhe criatividade, especialmente na disposição dos atores e na concepção dos quadros. O clima abafado do filme é intencional, uma vez que o calor dentro da casa é ressaltado em vários momentos e assistimos ventiladores espalhados. Os planos são próximos e curtos. O excesso de cortes atrapalha o ritmo e não permite que a gente entre de vez na história e participemos do luto coletivo o qual a família vivencia. Um velório une irmãos, primos e filhos. Isso somente agrava as razões do distanciamento. Tomamos consciência de como é a dinâmica familiar e testemunhamos seu declínio. E rimos, é tragicômico. A ironia favorece, leva a reflexão pelas representações. Em um momento ou outro, percebemos algum personagem próximo a alguém que conhecemos, levado por situações sem crítica. 

Streep é a matriarca viúva, dependente química, que passa o filme inteiro sob efeito dos medicamentos que lhe dopam. Ela transgride valores, perde censura e exalta os piores sentimentos, inibindo o círculo de vidas em seu redor. Se mostra afetada, a composição de sua personagem é fantástica, nunca exagerando no tom. Os outros estão igualmente bem, mas é com Julia Roberts que ela mede forças. Nunca apreciei o trabalho de Roberts, mas é inegável seu poder em cena, chamando a atenção quase que involuntariamente. Ela promove bons momentos com a personagem de Meryl Streep, sua mãe na história. A pouca profundidade que roteiro dá aos personagens é, talvez, o maior deslize da trama cadente.

Há quem diga que ao lado do fogão tudo se revela. A culinária no cinema tem esse poder, grandes cenas são trabalhadas em volta da mesa durante uma refeição. É a oportunidade que os cineastas encontram para tratar relações e explorar o âmago dessas. O cinema italiano, especialmente, compreende isso, até pela cultura. Dá certo aqui. A cena do jantar é a melhor de todo o filme. Longa e bem dosada, infelizmente fica marginalizada pelo resto do conjunto que não a acompanha e pela direção incapaz de triunfar sobre grandes interpretes, não conseguindo aproveitá-los. Saímos do cinema imaginando que função alguns personagens teriam a não ser estarem ali colocando seus nomes no cartaz. Cumberbatch e Breslin são os mais prejudicados, enquanto Juliette Lewis é banalizada. A obra se perde no calor da casa onde todos se encontram, aprisionados por segredos e inverdades. O humor faz sombra ao drama, se modelando conforme o ritmo da narração. Alguns apreciarão transformando em um potencial estudo, e seria de fato grande se não fosse tão descuidado ou ingênuo. 


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