Álbum de Família tem algo que nos faz gostar do filme: Meryl
Streep. Mais uma indicação ao Oscar, mais uma grande atuação. A mulher não cansa, sempre impressiona, se
renova e nos encanta. Talento é talento, alguns tem, outros não. O mundo é cruel.
Mas também não é só por ela, há um grande elenco envolvido: Julia Roberts, Ewan
McGregor, Abigail Breslin, Benedict Cumberbatch, Juliette Lewis, Chris Cooper e
Sam Shepard numa ponta. Estes reunidos em volta de uma mesa promovem uma das
cenas mais memoráveis do longa. Ela é bem conduzida – com ressalvas pela força do
roteiro nesse ponto –, coesa e se mantém ascendente com verdades se revelando,
causando os maiores constrangimentos que só um encontro de família é capaz de
causar. O filme é dirigido por John Wells e é originado de uma peça teatral
escrita por Tracy Letts, este assina o roteiro do longa.
Um sucesso da Broadway, a peça
August: Osage County ganha às telonas pelas mãos de um desconhecido diretor.
Wells é produtor, e parece não estar muito à vontade na direção. Falta-lhe criatividade,
especialmente na disposição dos atores e na concepção dos quadros. O clima
abafado do filme é intencional, uma vez que o calor dentro da casa é ressaltado
em vários momentos e assistimos ventiladores espalhados. Os planos são próximos
e curtos. O excesso de cortes atrapalha o ritmo e não permite que a gente entre
de vez na história e participemos do luto coletivo o qual a família vivencia.
Um velório une irmãos, primos e filhos. Isso somente agrava as razões do distanciamento.
Tomamos consciência de como é a dinâmica familiar e testemunhamos seu declínio.
E rimos, é tragicômico. A ironia favorece, leva a reflexão pelas representações. Em um momento ou outro, percebemos algum personagem próximo a
alguém que conhecemos, levado por situações sem crítica.
Streep é a matriarca viúva,
dependente química, que passa o filme inteiro sob efeito dos medicamentos que lhe
dopam. Ela transgride valores, perde censura e exalta os piores sentimentos,
inibindo o círculo de vidas em seu redor. Se mostra afetada, a composição de
sua personagem é fantástica, nunca exagerando no tom. Os outros estão igualmente
bem, mas é com Julia Roberts que ela mede forças. Nunca apreciei o trabalho de
Roberts, mas é inegável seu poder em cena, chamando a atenção quase que
involuntariamente. Ela promove bons momentos com a personagem de Meryl Streep,
sua mãe na história. A pouca profundidade que roteiro dá aos personagens é,
talvez, o maior deslize da trama cadente.
Há quem diga que ao lado do fogão
tudo se revela. A culinária no cinema tem esse poder, grandes cenas são
trabalhadas em volta da mesa durante uma refeição. É a oportunidade que os
cineastas encontram para tratar relações e explorar o âmago dessas. O cinema
italiano, especialmente, compreende isso, até pela cultura. Dá certo aqui. A
cena do jantar é a melhor de todo o filme. Longa e bem dosada, infelizmente
fica marginalizada pelo resto do conjunto que não a acompanha e pela direção
incapaz de triunfar sobre grandes interpretes, não conseguindo aproveitá-los. Saímos
do cinema imaginando que função alguns personagens teriam a não ser estarem ali
colocando seus nomes no cartaz. Cumberbatch e Breslin são os mais prejudicados,
enquanto Juliette Lewis é banalizada. A obra se perde no calor da casa onde
todos se encontram, aprisionados por segredos e inverdades. O humor faz sombra
ao drama, se modelando conforme o ritmo da narração. Alguns apreciarão
transformando em um potencial estudo, e seria de fato grande se não fosse tão
descuidado ou ingênuo.
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