Poderia funcionar como um thriller, e talvez como
um dramalhão a respeito das operadoras de centrais policiais que atendem
diariamente ligações com queixas de emergência. Poderia ser tanta coisa, como
qualquer filme que possua um bom argumento, mas cujo roteiro põe tudo a perder.
“Chamada de Emergência” até bebe das duas fontes mencionadas, sendo mais feliz
quanto ao thriller, já que possui um serial killer que mata suas vítimas impiedosamente.
Seu intuito é – tentar – restituir uma ausência da infância.
Jordan (Halle Berry) é uma dessas operadoras.
Certo dia atende uma ligação de uma garota implorando por ajuda, já que há um
estranho em sua residência lhe ameaçando. A personagem de Berry dedica o tempo
em benefício da garota, assumindo o controle da situação com profissionalismo e
experiência. No entanto um erro foi fulminante e bastou para condenar a vítima.
Uma adolescente morre tragicamente. Tem-se um trauma que afasta a profissional
por um tempo de seu ofício. A tendência do filme é explanar esse afastamento e
o trauma emocional vivenciado pela protagonista. O diretor até esboça um
aprofundamento com planos que remetem a um drama de situação. Não demora pra
este ser descartado. Meses se passam, motivo pra compreendermos que a situação
não mudou e Jordan ainda sofre. Temos outra história? Quase isso.
Querendo fugir da realidade enfrentada no
passado, a operadora se manteve na mesma empresa e tornou-se instrutora, porém
não demorou para que outra ligação caísse em seu colo. A situação é praticamente
a mesma. Chance de reviver o pretérito e aceitá-lo. Aí entra uma das virtudes
do filme: Halle Berry! A atriz garante algumas boas cenas com dicções
desesperadas e expressões inseguras, procurando se dominar. De outro lado
aparece Abigail Breslin, a garotinha de “Pequena Miss Sunshine”, que parece ter
sido importada de algum filme de terror oitentista. Sua composição é despótica,
tendendo a gritos e sussurros. Isso lhe dá gás para uma reviravolta no ato
final que... mencionarei em breve.
A história faz coro com obras análogas: “Por um
fio” e “Celular”, por exemplo. As duas são mais satisfatórias. O argumento aqui
é um pouco mais atrativo, simplesmente por se ater a uma condição real e
rotineira de profissionais que passam os dias atendendo ligações emergenciais
das mais variadas: desde ocorrências triviais como morcegos entrando dentro de
quartos até seqüestros ou assassinatos. Vidas por uma linha, basicamente. Pena
não ser melhor desenvolvido nesse âmbito sem dispensar o potencial thriller, escolhas
o levaram a outros caminho e consequentemente outros resultados finais que não
são dos mais lisonjeiros.
Algumas cenas predispostas a violência dão
dimensão ao perigo que a menina seqüestrada, Casey (Breslin), está passando. As
razões são inverossímeis, uma desculpa indigesta. Isso é o que menos parece
preocupar seu diretor ao final. Aliás, o final é duro de se levar a sério. Brad
Anderson, cara que filmou o estupendo “O operário”, tem um roteiro ruim em mãos,
não há muito o que fazer. Este roteiro parece ter a intenção de danar tudo e
querer impressionar! Acompanharemos um plano de vingança alterando todos os
fundamentos. Na cena anterior aos créditos finais, me veio a mente um “Game
Over” enquanto seguia confuso sobre o que tinha assistido. Talvez uma versão
econômica de Jogos Mortais? Tanta pretensão aniquila bons projetos! E condena
bons nomes, como o próprio diretor que ainda concebe algumas boas cenas –
especialmente aquelas em que Casey está presa no porta malas de um carro em
movimento. E a bandeira dos Estados Unidos surge para terminar de enterrar o
filme. Quanto heroísmo patriótico!
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