sábado, 20 de abril de 2013

Proseando sobre... Mama



O diretor e roteirista argentino Andres Muschietti chega a direção de um longa após dois curtas. Entre eles está um intitulado “Mamá”, lançado em 2008. Já este longa metragem “Mama” é um filme de gênero, de terror, e traz incontáveis características para contextualizar a trama revigorando-a com aspectos horripilantes. Duas crianças estão envolvidas. Um espírito também. O início faz jus a expectativa criada diante o que se espera de um filme de horror: um homem sai em disparada por estradas cobertas pela nevasca. No banco de traz, duas crianças, duas meninas, temerosas com a ira do pai dirigindo descontroladamente e a toda velocidade. A tensão dissemina quando percebemos o carro derrapar até finalmente cair de um barranco. Nada grave, a não ser o desaparecimento posterior da família na floresta horas depois quando uma entidade obscura os surpreendeu numa cabana. Mortos ficaram para trás. 5 anos se passaram. As meninas foram encontradas.

Notamos nos créditos o nome de Guillermo del Toro como produtor. Grandes motivos para nos empolgarmos, já que é um dos cineastas mais criativos em atividade – este é responsável por maravilhas como “A espinha do Diabo” e “O Labirinto do Fauno”. Influente, conseguiu levar o diretor argentino para Hollywood. O filme vai se desenvolvendo e percebemos que nem tudo é tão atrativo, já que nos deparamos com cenas as quais conseguimos antecipar o que acontecerá: o gênero está gasto, infelizmente. Todavia há algumas outras que felizmente surpreendem, melhorando ainda mais no ato final. Para chegar até lá, um misto de bons e péssimos momentos. Um clima sombrio modela a narrativa, sombras se acumulam, a fotografia turva e os efeitos sonoros pontuais favorecem alguns sobressaltos. A estrutura fabulista, embora clichê, é bem executada. O que compromete a qualidade da empreitada é o prolongamento da história, trata-se de um curta estendido. Os acréscimos são visivelmente desculpas para tapar buracos do roteiro. Aí percebemos a quebra de ritmo e constantes incoerências narrativas. 

As meninas, Victoria (Megan Charpentier) e Lilly (Isabelle Nélisse), ficaram meia década desaparecidas numa imensa floresta. O desenvolvimento social e físico foram comprometidos, já que sem laços, cresceram sem modelos, se virando como podiam numa cabana perdida. A readaptação a sociedade é alvo de estudos por um médico numa clínica psicológica. Essa elaboração é o grande trunfo do roteiro, trabalhar com essa perspectiva de crianças que cresceram distanciadas com poucas preservações sociais. Chegamos a um ponto chave: as relações e o desamparo. Se assemelha a lógica de “O Enigma de Kaspar Hauser”, porém se aproximam da personagem vivida por Jodie Foster em “Nell”. As meninas cresceram com uma referência distinta, o espírito que chamam de Mama. O respeito das crianças para com a entidade fantástica garante singularidade a obra e maior interesse por parte dos espectadores. Estamos diante um terror sem bem ou mal, a não ser por definição. Ao final, talvez boa parte do público questione, mas é inegável a beleza e representação do ato. E há muito a se pensar a respeito deste. 

Ainda nesse âmbito psicológico, Andres Muschietti é inteligente ao demonstrar a contemplação de uma figura reconhecida como a de um patriarca, já que o protagonista Lucas (Nikolaj Coster-Waldau, de “Game of Thrones”) é irmão gêmeo do pai das meninas que desapareceu na floresta. Quando Victoria o vê, após tanto tempo sem vislumbrar uma figura humana a não ser a de sua irmã mais nova, logo o chama de pai. Ele até procura se explicar. De outro lado, a namorada de Lucas, a baixista Annabel (Jessica Chastain, ótima) se mostra resistente com a chegada das pequenas estranhas. Com o passar do tempo, o laço desenvolvido com as meninas – numa mistura de afeição e rejeição – torna a dinâmica interessante, quase se convertendo num drama. Os esforços dos atores contribui para nossa identificação com a sucessão de eventos e, de alguma maneira, constatar que o que rola em cena é um curioso duelo de mamas.  



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