Tratando substancialmente dos
percalços do fim de um casamento e das conseqüências disso na vida de um
adolescente testemunhando a ruína da relação entre os pais, esse “A Busca”,
filme do estreante Luciano Moura, é infeliz em esboçar o arco dramático da
história. Pouca coisa segura o drama arrastado que leva um pai de família,
médico, a rodar o Brasil atrás do filho desaparecido, que saiu de casa
voluntariamente e pegou a estrada com um cavalo. História estranha? O
desenrolar dela é ainda mais. Também é previsível, dada as apresentações do
roteiro em uma cena inicial. Me adiantei demasiado, toquei na essência desse
longa focado na busca enquanto outras coisas se desconcertam caoticamente e se
estruturam no desespero. Para manter a nossa atenção até o final, somente o
desempenho de Wagner Moura.
Um casal de médicos, Théo (Moura)
e Branca (Mariana Lima) estão prestes a por um ponto final na união.
Inevitavelmente, as conseqüências caem sobre Pedro (Brás Antunes), de 15 anos.
O garoto é ótimo com desenhos, talento nunca notado por seu pai. Há ainda uma
lacuna, o avô de Pedro, homem ignorado por Théo. Os motivos? Não importam. Em
cima disso, fica no ar os fundamentos dessa relação, ou melhor, o que ocorrera
que tão fortemente a comprometera. Para entrarmos na história, uma expressão
artística arquitetada: uma casa escura, gritos e destruições. Foco nas cenas,
em seus detalhes. O diretor preza minudências. O desenrolar se inicia dali. O
portão é fortemente batido, porém se mantém aberto, simbolicamente apresentando uma possibilidade de
retorno.
Bons detalhes, mas há preocupação demais com eles. Essa atenção minuciosa atrapalha o desenvolvimento do filme, já que algumas cenas parecem episódicas,
quase que deslocadas, às vezes extremistas. Temos ciência do que será o filme,
e de suas prováveis conjunturas. Como é vendido é errôneo, apelo comercial
barato. Até onde um pai pode ir para encontrar seu filho? As constatações vão além,
não temos acesso a metade delas, a não ser lidar com hipóteses da boa cena
inicial. A dinâmica é outra, já que não se trata de seqüestro, mas fuga. Isso
nem deve ser encarado como spoiler, já que tal constatação acontece bem antes
da primeira metade da projeção. Até onde é a função do pai? Ou o que é? Questão
mais relevante, porém sem o mesmo impacto da indagação oficial. Há quem vai
sentir falta de armas e carros explodindo.
Como anteriormente mencionado, se
há algo que merece ser destacado é atuação de Wagner Moura, um grande ator que convence
vivenciando um tipo fragilizado – muito embora demonstre rispidez como defesa –
pelas circunstâncias de um casamento desarranjado, culminando na aflição devido
ao repentino desaparecimento de seu filho adolescente. A relação entre os dois
é testada numa conversa que termina em briga. Nela compreendemos o
distanciamento assistindo uma idealização compensatória: o intercâmbio até a
Nova Zelândia oferecido pelo pai como garantia de um futuro promissor. Acompanhamos
a tal busca interessados, não pela proposta do roteiro que se enreda em frações
de desencontros, mas pela representação do ator em ascensão. O resto do elenco
quase desaparece, restando um Lima Duarte cativando mais pelo carisma e respeito
conquistado através dos anos do que pelo papel, já que pouco tempo lhe é
reservado. Diante disso, o artista, tal como representado por Lima Duarte, parece
ser vislumbrado transposto ao resto do mundo, apenas com seus livros e suas
produções, e ouvindo Wagner. Mantém-se afastado da civilização como um refúgio.
“A Busca” torna-se um roadmovie a
partir do momento que Théo sai de casa e adentra nas estradas desbravando
pedaços do Brasil que não costumam ser visitados. Contemplamos os paraísos
desta terra a partir de caminhos desconhecidos e povos silenciados. Há um clima
de mistério balanceando a narrativa. Algumas cenas nos levam a lugar nenhum.
O diretor busca o foco novamente, no desaparecimento e em suas obscuras razões. Gênero
por gênero, tratando-se de roadmovie, nos faz lembrar o recente “Colegas”, do Marcelo Galvão, filme
com um trio de adolescentes com síndrome de down que sai pelo sul do país
chegando até a Argentina. De melhor, e ainda nesse âmbito, embora a ótica seja
outra, vale ressaltar a obra de Charly Braun, “Além da Estrada”. Todas as três
traz relações humanas desordenadas, endossando auto descobertas em outros rumos
sob o sol. A praia, como em tantos outros filmes, sugere libertação. Truffaut chegou
nela, Walter Salles e incontáveis outros também. Braum e Galvão passaram por ela. Luciano
Moura não poderia perder o mergulho.
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