007 é imortal graças a sua
representação, legião de fãs, atores que o encarnaram pelas últimas décadas e
relevância dentro da indústria cinematográfica. Mas nenhum dos filmes
anteriores falou de James Bond, o icônico personagem criado por Ian Fleming:
não a persona secreta capaz de realizar proezas imensuráveis, mas a sua pessoa.
Corajosamente intimista, o longa se adéqua a expectativas de seus mais fiéis
fãs com relação aos feitos e ação, como também garante a aprovação de quem não
se interessa tanto pelo agente, uma vez estabelecer um vínculo com o personagem
e sua humanidade, passível de sofrimentos e frustrações, e mais, vítima do
tempo. Que bom ver o agente mais famoso do mundo respirar novos ares ao longo
de seus 50 anos de existência nas telonas. O aniversário da franquia veio ser celebrado por esse novo filme, “Skyfall”, que é, sem sombra de dúvidas, um dos
melhores filmes do personagem James Bond.
A cena inicial enérgica dá o tom
do que se trata a história até que um tiro certeiro num embate sobre vagões surpreende
pela conseqüência, o que nos leva a tradicional apresentação da série, dessa
vez impressionante e belíssima, com a canção “Skyfall” interpretada por Adele. Esse
prólogo vem acompanhado de uma melancolia até então não existente nas obras passadas, nos levando
a uma reflexão sobre as representações dos desenhos e dos simbolismos desta composição
de caráter onírico: uma mão gigante que afunda o agente terá diferentes
conotações.
E foi-se o tempo em quem torciam
o nariz para Daniel Craig como um novo 007. O ator que estreou como o agente no
ótimo “Cassino Royale” leva o personagem a um campo até então não visitado: seu
passado. Tal feito exige do ator mais do que virilidade e imponência. Vemos Craig não dotar a mesma eficiência de seus tempos de
glória, ofegante em alguns instantes e com a barba por fazer, com muitos fios brancos. Bond envelheceu, mas segue o mesmo com limitações. Daniel é
habilidoso em demonstrar essas limitações físicas, com trôpegos e suspiros
ressentidos. O diretor Sam Mendes, excelente na direção de elenco, faz um
trabalho espetacular com os atores, tirando o melhor de cada com aspirações de outro
herói.
A personagem M, vivida pela sempre competente Judi Dench, nunca teve uma importância tão vital para a trama como em Skyfall. Ela que, após acompanhar Bond por incontáveis missões, chegou a um ponto em que sua liderança passou a ser questionada. Há muito sobre ela, questões consideráveis que o roteiro abrange levando-a a se ligar a Bond e ao vilão. A megalomania típica dos mais saudosos vilões de 007 foi ignorada aqui. O interesse deste, Silva (Javier Bardem) é bem menor, o que confirma uma outra perspectiva da trama toda. Bardem se diverte no papel e compõe um personagem abarrotado de trejeitos marcantes, grotescos, afetado inquestionavelmente pelo coringa de Ledger. Esse, aliás, é outro ponto importante da narração.
É notável a semelhança de alguns momentos
da narrativa com “O Cavaleiro das Trevas” de Nolan. Há uma conversa cara a cara
entre Silva e Bond que muito se assemelha a de Batman e Coringa na delegacia. Ainda
tem referências ao plano do vilão, desenvolvido de maneira muito próxima e
personagens que servem como alusão a elaboração do universo do guardião de
Gotham, entre eles a relação óbvia entre o herói e seu mentor como algo
fraternal. Sam Mendes é um grande diretor, responsável pelo primoroso “Beleza
Americana”, consegue tratar com aptidão relacionamentos, influindo no
desempenho dramático do elenco. A surpresa ficou com sua efetividade em
coordenar cenas de ação. Se essas não são das mais impressionantes realizadas
pelo cinema hollywoodiano, ainda mais em tempos em que isso deixou de ser
novidade, ao menos são suficientemente empolgantes.
Longo, porém nunca cansativo. A
montagem do filme é dinâmica, colaborando com a satisfação do público que não
se perde. A linha lógica é seguida com cuidado, culminando em distintos atos
excepcionais, como a cena de Bond frente a um psicólogo, perguntado sobre Skyfall.
É simples, mas de suma importância pelo seu significado perante o agente. Compreenderemos
as razões já quase no ato final. E falar de 007 sem falar das bondgirls, pensando,
obviamente, na história da franquia no cinema, não parece justo. Isso, talvez,
seja o que há de mais decepcionante no filme, não pelas atrizes que a vivenciam
– Naomie Harris e a francesa Bérénice Marlohe que arrebata –, mas por suas
importâncias ínfimas. Quanto a técnica, o longa é impecável, robustecido pelas
lindas locações em Londres, Istambul, Macau e Xangai. Esse é o filme mais
pessoal da série, uma homenagem aos 50 anos de James Bond, e, felizmente, a
altura da importância de 007.
Concordo, também achei excelente e também me lembrei do Cavaleiro das trevas na conversa cara a cara de Bond e Silva. Só algo me intrigou: Como assim ele tem a cicatriz só do primeiro tiro durante a perseguição inicial? E o tiro da outra agente que o fez cair do trem? Foi onde? Afinal aquele sim foi o que quase o matou. Mas ok, o filme realmente é impecável!
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