quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Proseando sobre... Possessão



Aquela velha história com crianças prestes a passar por algum exorcismo acontece em “Possessão”, novo lançamento do gênero terror com demônios a invadir as telas do cinema. O filme possui alguns de seus atributos mais significativos, como a tensão e manifestações horrendas, com deformidades físicas, além de tecnicamente contribuir com o clima através do uso de pouca iluminação e cortes abruptos na filmagem. Tais artifícios funcionam sim para um público não tão acostumado a assistir filmes do gênero com freqüência, porém passa longe de apavorar o espectador mais carimbado, já que oferece pouca novidade. 

O que definitivamente é intragável na história é a responsabilização tendenciosa dada pelo roteiro, algo usado há décadas e em vários filmes comerciais: a figura do pai ausente. Claro que é um problema persistente na sociedade contemporânea, mas usada com tanto exaustão pelo cinema que o assunto vem concedendo clichês insuportáveis. Um casal em processo de separação seria responsável por um surto de origem psicótica nos filhos? Outrora isso daria carga a um filme, operando até como uma subtrama, mesmo que abdicado de realidade. A saúde mental não é discutida aqui. Pouquíssima coisa é.

Emily (Natasha Calis) é uma garota que compra uma estranha caixa de madeira numa feira de produtos usados. Dentro dessa caixa reside um demônio que habita naquele que possui o objeto que contém, entre outra coisas, dentes, mariposas mortas e um anel. Emily começa a agir estranhamente, como se não fosse mais dona de suas ações. Agressiva, a menina desperta a curiosidade de seu pai, Clyde (Jeffrey Dean Morgan), temente quanto à passividade da menina. O tempo passa e as coisas pioram. O pânico vem acompanhado de centenas de mariposas, olhos revirados, dedos saindo da garganta e ventos. Éolo devia ser a inspiração desse demônio que vive dentro da pequena. Os judeus detém a resposta para essa maldição, afinal, trata-se de um Dybbuk, um tipo de espírito maligno presente na história da cultura judaica. O cristianismo, aqui, se revela inútil. Um dos poucos frescores da trama.

Carente de idéias, o filme se prolonga visando a criança, apostando na performance da atriz mirim, o que positivamente nos surpreende, pois a pequena agarra bem sua personagem com uma delicadeza apavorante. Considere apavorante um grande elogio. Já a narrativa perde grandes chances de discutir o tema como outras obras recentes e análogas fizeram, inclusive refletir sobre mitologia, ciência e o sobrenatural. É como se subestimassem o público, não acreditassem no potencial desses em ter um discernimento crítico a respeito do que está sendo trabalhado em cena. O longa detém interesse, possui um público fiel, mas tem medo, medo de ousar e ser grande. Constitui-se assim um filme medíocre com um bom elenco encaixotado.

A presença de um diretor dinamarquês poderia até representar um avanço no sentido narrativo e de coragem, já que o gênero terror de Hollywood vem perdendo para exemplares europeus e asiáticos. No entanto esse diretor também falha, aparentemente privado pelo que há de mais defectivo no cinema estadunidense: a rejeição a renovação. Perceba cenas usuais uma após a outra, com idéias que remetem diretamente outros filmes, como o clássico “O Exorcista”, porém essas referências não soam em nenhum aspecto enquanto homenagem, mas como reciclagem mesmo sem muitos proveitos. Ole Bornedal de “Não é Mais uma História de Amor” acaba desperdiçado, atado a um modelo pra lá de convencional. Kyra Sedgwick, esposa de Kevin Bacon, e Dean Morgan apenas enfeitam os créditos. Já Sam Raimi, famoso por grandes obras do horror como a série aterradora Evil Dead, produz este “Possessão”, filme que abandona por completo seu natural estilo, acrescentando minimamente a um molde já desgastado. 

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