O grego Giorgos Lanthimos não teme explorar seu estilo que é, digamos,
excêntrico. Pensando no termo, reflito sobre duas de suas obras: Dente Canino (Kynodontas, 2009), filmado há pouco tempo, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro; e este Alpes (Alpeis,
2011), exibido na 36º Mostra Internacional de Cinema São Paulo. Ambos
transitam no vazio humano, buscando inferências para a vida cotidiana,
como um modelo que sugira completude, entre razões sociais e
psicológicas, para seus personagens carentes. No primeiro filme o
isolamento é demonstrado através de uma família isolada nos arredores de
uma cidade, onde os pais mantêm os filhos num tipo de cárcere,
distantes da civilização, ensinando questões referentes ao mundo sem
exposições e oportunidade de experiências. Em sua nova obra, a
configuração se dá pela identidade, com pessoas prestando um serviço
absurdamente incomum para aqueles que recentemente perderam um ente
querido.
O diretor e roteirista conta a história de maneira
vagarosa, linear, apresentando seus personagens extravagantemente. De
início, Carmina Burana embala uma ginasta (Ariane Labed) que pratica a
ginástica rítmica com destreza e sensualidade, como numa esforçada
apresentação olímpica, desejando conquistar a confiança de seu
treinador. Uma crítica: ela gostaria que sua música fosse algo mais pop.
Pedido negado. Aí compreenderemos um pouco sobre quem são os
personagens. Naquele contexto outras coisas acontecem. Um grupo mantém
um centro de apoio que oferece um serviço inusitado: após a morte de
alguém, um de seus membros vive a vida do falecido com o intuito de
acalentar quem fica, através das características, ações e gostos
pessoais de quem morreu. É, de fato, uma incorporação. Esse grupo é
chamado de Alps, referência aos Alpes da cordilheira européia,
nomenclatura que não explica a função dessa equipe e que, segundo a
designação de seu líder, serve como metáfora a proposta, uma vez os
Alpes serem insubstituíveis, mas semelhantes.
A estranheza do
roteiro, premiado em Veneza, é o que garante a atenção de alguns
públicos, simpatizado pelo estilo autoral de seu realizador. Situações
divagam do foco da trama, e seu fundamento não se delonga,
estagnando-se. O que acontecem são circunstâncias bizarras: a troca
proposta pelo treinador da equipe de ginástica a enfermeira protagonista
(Aggeliki Papoulia), por exemplo, onde ela deve lhe banhar. O foco,
porém, quando centra na proposta da narrativa, atinge discussões
satisfatórias: a enfermeira se aventura na vida dos outros, fazendo
parte do cotidiano de estranhos. Aí provém uma reviravolta de sentido,
afinal, a mulher deixa de ser um apoio para os carentes familiares e
passa a fazer parte de modo demasiadamente íntimo, ferindo a ética de
seu ofício. A crise de identidade passa a estar no cerne.

* Crítica originalmente publicada em http://www.cineplayers.com/critica.php?id=2533
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