O dinamarquês “You and me forever”,
exibido na 36º Mostra Internacional de Cinema São Paulo, dirigido por Kaspar
Munk, fala indubitavelmente de uma amizade entre duas meninas, Laura e Christine. A
intensidade da relação chama a atenção de todos os colegas da escola e também e
do espectador que assiste especulando algo relacionado a dependência
psicológica, solidão ou obsessão. Tudo cai por terra, afinal, o filme não
discute tão bem essa relação, propondo apenas indícios e suposições,
centralizando em experimentos da fase como ritos. É um típico filme sobre a
adolescência sem ousadias, gozando de excessos e erros, com o charme residindo
no contexto, não tão distante da realidade brasileira. Entre intrigas e
sorrisos, a experiência de viver algum novo atrativo causa um severo conflito nessa
intensa amizade graças a presença de uma terceira pessoa vista como ameaça, a
ardorosa Maria.
O filme inicia badalado, mostrando
Laura (Julie Andersen) e Christine (Emilie Kruse) se divertindo numa festa regada a
álcool, sozinhas, sorridentes, extasiadas. A manhã seguinte de ressaca traz
conseqüências. Entre vômitos e dores, Laura ouve um garoto perguntar a razão
das duas ficarem todo o tempo juntas. Tal questão dá início a introspecção de
Laura que se questiona a respeito desse relacionamento quase privado. É quando
Maria (Frederikke Dahl Hansen) aparece que a amizade entre as duas explode, uma
vez a desconhecida trazer consigo a oferta de um experimento adulto, como o
sexo, algo até então inatingível pelas duas.
Como uma Angela Hayes de “Beleza
Americana”, Maria traz todo um glamour do sexo, idealização
fantástica que causa estranheza ao mesmo tempo que provoca curiosidade. Isso é
convidativo. O diretor ressalta a menina em alguns atos antes desta se
manifestar para o público: em certo momento ela está numa festa beijando um
rapaz ao mesmo tempo que flerta com Laura de maneira provocante. Aquele
olhar... Laura até então não havia experienciado tal sensação tentadora. A
trilha pop dita o ritmo do filme enquanto a fotografia mantém seus personagens
bem perto, intimamente.
Entremeada em dúvidas sobre sua
postura frente às amigas e aos outros, Laura decide se aventurar junto a
estranha, se descobrindo atraída pelo diferente, mudando atitudes, roupas e
aspecto, convertendo-se numa mulher abusando da lascívia e jovialidade, ainda
que virgem. O roteiro escrito pelo diretor parece beber da mesma fonte de “Aos
13”, adaptando a sua cultura. Imerso no hábito da juventude, Munk realiza a
incessante descoberta pessoal das garotas sobre o sistema de recompensa,
atraindo qualquer possibilidade de prazer que funcione, numa espécie de
libertação de uma prisão que anteriormente vivenciava – aí nos faz pensar na
relação anterior com Christine, incapaz de aceitar o afastamento da amiga, ou por
ciúmes ou por paixão.
Este é o segundo longa de Kaspar Munk e
pela segunda vez ele trabalha com temática adolescente. Aqui ele retrata
descobertas, entre elas a sexual, com claras manifestações de desejo e
repressão. Vazio de sentido, isso talvez seja uma alusão ao próprio universo
desses jovens que não tem pelo que lutar, o filme se desenvolve sempre em busca
de respostas para as carências de vivências distintas, permeado pela busca
existencial enquanto seus hormônios estalam. É bom acompanhar essas três
garotas em conflito, cujas implicações de suas ações lhe oferecem experiências
para se transformarem em mulheres.
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