O príncipe das trevas está de
volta às telonas e traz juntamente uma leva de monstros famosos que apavoraram
na literatura, cinema e em crenças populares. O conde Drácula surge diferente,
caricato como naturalmente teria de ser baseado numa animação direcionada ao público
infantil; e pouquíssimo amedrontador, exceto por algumas cenas em que sua face
se esbraseia na tela quando algo o aborrece. Daí sim um lapso de sua representação
enquanto ameaça para o mundo, mas dura poucos segundos. Poucos e provavelmente
o bastante para sobressaltar os pequeninos que se divertem. Essa versão do mais
famoso vampiro está bem distante do original escrito por Bram Stoker, mas ao
menos não ofende seu mito como outras produções recentes fazem.
Propenso a abarcar crianças e
adultos, as animações vem investindo alto para faturar alguns milhões. A
criatividade vem caindo, a técnica segue o caminho oposto, com os estúdios cada
vez mais buscando inovações e perfeições visuais. É o mínimo esperado. As
histórias já não possuem tanto brilho, raramente alguma empolga e traz alguma
reflexão original. A carência vem deturpando até grandes estúdios como a PIXAR
que desde o esplêndido “Toy Story 3” vem escorregando, o que nos leva a
questionar quais as reais intenções dos projetos e quais caminhos esses estão trilhando.
“Hotel Transilvânia” é produzido pela Sony Pictures Animation e tem produção
executiva de Adam Sandler, o que, talvez, tenha impedido seu diretor de
explorar outros rumos, tais como fez com seus trabalhos para a Cartoon Network.
Genndy Tartakovsky de “O
Laboratório de Dexter”, “Meninas Super-Poderosas” e dos curtas “Star Wars -
Clone Wars” é quem assumiu a direção dessa empreitada com um terreno fértil
para o diretor explorar um pouco de seu estilo na telona. Visivelmente podado,
o cara até busca alguns traços marcantes de seus projetos em 2D e se arrisca na
tridimensionalidade de maneira amadora, e ainda estiliza seus personagens sem
grande vivacidade, embora sejam suficientemente expressivos. Ao seu favor estão
adaptações de monstros já conhecidos, o que permite brincadeiras e piadas
óbvias sobre esses, especialmente Frankenstein despedaçado, ou o lobisomem com
sua indomável matilha. Há ainda reciclagens de idéias, como um momento em que um animal
fica com os olhos marejados igualmente a icônica cena do Gato de Botas em “Shrek”.
Várias criaturas se reúnem anualmente
no castelo do conde Drácula que funciona como um resort gótico, um lugar
construído para abrigar os monstros que são desprezados pela humanidade. Nesse
contexto, há uma inversão do conceito bem e mal. Os humanos, afinal, são
quem segregam. Os monstros como minoria aparecem enquanto vítimas constantes em esquiva
através dos séculos. Temendo pela filha Mavis, o anfitrião decide mantê-la
presa dentro do castelo impossibilitando-a de vivenciar os prazeres do mundo e conhecer
os humanos, temeroso quanto à repetição de fatos sucedidos em sua vida há
décadas. No aniversário de 118 anos da vampira, idade que ela atinge sua
maioridade, ela consegue a aprovação do pai de atravessar os portões e ir até
uma vila próxima interagir com os habitantes. Algo, no entanto, está tramado.
Animações sombrias estão em alta
nesse segundo semestre, tendo como representantes o divertido “ParaNorman” e a
nova empreitada de Tim Burton, “ Frankenweenie”. O estilo é relevante e
bastante amplo, com temáticas fecundas aliadas ao charme estético. São sempre
bem recebidas. O roteiro, infelizmente, tem sido o problema, repetindo-se aqui. Bastante preso a
idéia do patriarca com dificuldades em aceitar que a filha saia de casa, a
narrativa se desenvolve sobre as peripécias de um pai se virando de todas as
formas para impedir que ela sofra com as ameaças do mundo exterior. Se não vai
até o problema, o problema, uma hora, chega. E esse vem personificado como um
mochileiro aventureiro, o atrapalhado Jonathan, que encontra o castelo e adentra
na festa, desesperando Drácula.
Dentre cenas bem divertidas –
como a redescoberta do vampiro a respeito de algumas coisas que ele deixou de
fazer por medo e os zumbis encenando uma peça – e piadas envolvendo condições
físicas de seus personagens, sobretudo com o Homem Invisível e Frankenstein, “Hotel
Transilvânia” tem a intenção de brincar com a idéia da super proteção e com os terror
proposto pelos monstrengos. Realiza isso bem em alguns pontos, falhando em tantos
outros, impondo morais gastas e viabilizando cenas com personagens cantando, semelhante a um episódio de “Glee”. Outro problema é nossa dublagem. Algumas coisas simplesmente
perdem a graça com expressões que não fazem qualquer sentido ao universo
retratado, estando deslocadas culturalmente. Se for possível ignorar isso, –
não é – o filme consegue ser melhor aproveitado. Outra festa nesse hotel numa
produção futura deverá custar a acontecer.
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