“Ted” causou polêmica, ganhou a
aversão de muita gente antes mesmo de ter estreado, sendo acusado de mal gosto
e incorreto, ainda mais para o público infantil. Sabe-se, de antemão, que o
filme não é direcionado a crianças. Detalhe às vezes ignorado. Assistimos a
possibilidade de censura, algo felizmente frustrado, uma tentativa fracassada.
Mais um meio para chamar a atenção para o filme. O filme ganha, o público
ganha, afinal, “Ted” não é só um longa metragem polêmico que traz como protagonista
um urso de pelúcia famoso usando drogas, obsceno e louco por prostitutas, mas
é, sem dúvidas, uma das melhores realizações do gênero das comédias americanas
dos últimos anos. Por mais absurdo que pareça ou bizarro que essencialmente
seja, a história é deliciosamente indecente, brincando sem pudores com tudo e
com todos.
Poucas figuras populares escapam
do alvo das piadas de seu realizador Seth MacFarlane que dirige, escreve,
produz e dá voz ao ursinho. Responsável por séries como “Uma Família da Pesada”,
o cineasta não se preocupa com o politicamente correto e investe numa narrativa
sem recatos, estimulando o absurdo e fazendo graça com isso, a partir do desejo
infantil de uma criança no final dos anos 80. John Bennett era um menino
ignorado até pelos garotos mais ignorados. Sempre sozinho, ganhou um urso no
Natal, chamando-o de Teddy. Na mesma noite, fez um pedido: rogou para seu urso
ganhar vida e lhe ser fiel pra sempre. Desejo concedido. Quase 3 décadas após,
John (Mark Wahlberg) e Ted continuam juntos, compartilhando drogas,
experiências sexuais, bebedeiras e paixões nerds.
Vale ressaltar, entre tantos
outros aspectos, as relações estabelecidas, todas críveis. A trinca composta
por John, Ted e Lori (vivida pela recente eleita mulher mais sexy do mundo, Mila
Kunis), namorada do primeiro, está em pleno conflito pelas escolhas do rapaz,
passivo aos eventos exteriores e quase incapaz de se posicionar frente as
adversidades cotidianas e ao emprego. Ele não resiste a um telefonema
convidativo de Ted para um filme ou algum trago. Aí reside a principal crítica
ao filme, o suposto mau exemplo que ele poderia transmitir, algo profundamente
equivocado, pois, ao constarmos a mediocridade da vida da dupla estagnada,
principalmente frente ao desenvolvimento profissional da garota, então
concluímos que o exemplo sugerido seja errôneo. E o melhor, o que dá
profundidade ao filme: Ted sabe disso, consegue reconhecer que aquele meio está
trazendo conseqüências ao amigo e se questiona. Erra. Acerta. Decide.
Características humanas compõem esse personagem muito bem construído através do
motion capture.
As escolhas do diretor para
modelar sua história são inteligentes. O tempo, por exemplo, é mostrado através
dos cartazes de famosos lançamentos cinematográficos da época. Os anos 80 e 90
estão bem representados. E se estamos acostumados a ver Mark Wahlberg
encarnando figuras virís, esse seu papel surpreenderá pela fragilidade. Aqui
ele não posa de brucutu, mas como vitima da modernidade, do que sofreu na
infância, distanciado do sonho americano. Ele é dependente do sistema e seu
conforto é o urso, um tipo de objeto transacional. Preso ao prazer urgencial e
contaminado por lembranças e ícones da infância, como Flash Gordon, John
deixa-se se levar pelo tempo e seus sabores, resistindo as consequências. De
pensamento infantilizado, o filme se delonga exprimindo o que há de pior em
seus protagonistas, ao mesmo tempo que demonstra seus erros, confortando pelo
arrependimento, medo e insegurança, frente a solidão. É aí que entra a proposta
de Seth MacFarlane, debochar desse universo com um humor vulgar, perfeitamente
funcional!
Ted é um dos personagens mais impagáveis dos últimos anos. De fato, o filme vai além do mero humor politicamente incorreto e gratuito, apresentado criticas relevantes à sociedade. Belo texto, Marcelo!
ResponderExcluir