O cineasta Rodrigo Cortés saiu do
suspense claustrofóbico – “Enterrado vivo” – e se aventurou no terreno da
paranormalidade, investindo em uma trama recheada de ocultismo e fenômenos,
contando ainda com um bom elenco e uma história abarrotada de potenciais. A expectativa
gerada pela proposta do roteiro se fundamenta num mistério óbvio para a
narrativa funcionar: a possibilidade de existir, de fato, alguém com poderes psíquicos.
Acompanharemos uma investigação onde alguns casos são desmascarados graças a
métodos científicos que explicam o que alguns consideram inexplicável. Entra no
bolo dessa discussão a fé e o poder que alguns líderes religiosos demonstram
com a finalidade de angariar alguns fieis com suas absurdas mentiras.
Algumas verdades são difíceis de
aceitar. Pode-se comprar verdades, atribuições do real que façam qualquer
sentido. Não faltam charlatões que tentam vendê-las. Como num show de mágica,
ilusões são ofertadas. Alguns não perdem a oportunidade de atribuir um feito a
obras paranormais ou divinas, milagres ditos extraordinários que são
perfeitamente elucidados. Recentemente acompanhamos Rebecca Hall desvendar mitos
urbanos no suspense “O Despertar”. Leva-nos a questionar
a moral desse tema e as razões para estarem aparecendo. Há quem ganhe a vida
vendendo a ilusão do poder superior, é o que muitos fazem no longa de Cortés,
com todos sendo desvendados pela implacável dupla: a psicóloga Margaret
Matheson (Sigourney Weaver) e o físico Tom Buckley (Cillian Murphy). Acontece
que há um caso que atravessou décadas onde um vidente cego, Simon Silver (Robert
De Niro), após fazer sucesso há 30 anos em shows, retornou lotando teatros com
sua dádiva cada vez mais impressionante. E fugaz!
Essa é mais uma oportunidade de
ouro para a dupla desvendar os segredos por trás desse homem que arrasta
multidões, no entanto, tais revelações são cada vez mais custosas, com ameaças
e violência. O caráter dinâmico da história começa a perder a força quando
algumas dicas são dadas – uma é importantíssima durante um diálogo entre
Buckley e a estudante Sally Owen (Elizabeth Olsen, outra vez no âmbito do horror)
– e quando o filme perde sua identidade de gênero, convertendo-se de um
suspense investigativo num drama sensitivo, transitando ainda entre o romance,
comédia e terror. Vícios narrativos afetam o diretor que dispõe de todos os
artefatos mais básicos desse tipo de cinema, entretendo não pela história, mas
pela curiosidade tentada, o que é pouco diante a possibilidade da oferta e
postura inicial em tratar de modo crítico a polêmica de seu argumento.
As motivações da protagonista são
até compreensíveis, apesar de imbecis, dada sua posição enquanto pesquisadora.
O que ela busca é uma verdade dentro dos fenômenos sobrenaturais, algo com
poder o bastante para trazer de volta seu filho que está há anos em estado
vegetativo. Sua pretensão supersticiosa é inteligível, mas refuta sua ciência. Em
outra instância, em via diferente, está Buckley, obcecado em disseminar a
hipocrisia de Simon Silver, sem encontrar margens que o denunciem. Uma cena de
espancamento vem exprimir a moral vil daqueles que fazem da mistificação um mercado,
pois mostra que qualquer ameaça potencial de derrubar um dogma deve ir para a
fogueira. Rodrigo Cortés acerta o tom, mas vacila no desenvolvimento, concedendo
respostas mastigadas e se vinculando as reviravoltas boçais, tolas e usuais, decepcionando
quem estava predisposto a entrar na roda da charada e tirar qualquer proveito
disso.
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