O sonho de todo brasileiro:
ganhar na mega-sena e ter a vida resolvida. Pouquíssimos gozam dessa
oportunidade. No filme, um casal de classe média-baixa fatura 100 milhões da
noite para o dia, o que os faz largar seus empregos e ter uma vida de luxo exacerbada,
torrando milhões com viagens, roupas, plásticas e comidas. Adquirindo tudo que
o dinheiro pode comprar, a dupla que possui dois filhos e uma bela mansão com
decorações coloridas refletindo a alegria em suas vidas, irá passar por sérios
apuros após o patriarca Tino (Leandro Hassum) descobrir que suas dezenas de
cartões de crédito não possuem mais fundo e que mais do que falido, está com
altas dívidas. Esta reviravolta é o mote para uma série de situações das mais
comicamente desprezíveis. “Até que a Sorte nos Separe” é uma comédia elaborada
a partir da adaptação do livro “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”, de
Gustavo Cerbasi.
Comédias de situações são vistas,
revistas, referenciadas e expurgadas anualmente dentro de nossa cultura
cinematográfica. Esse é mais um dos representantes do riso fácil e trivial,
conferidas nas telinhas em programas de humor cujo humor é ausente. Leandro
Hassum é um de seus mais ilustres representantes. Carismático, ganha o público
com suas facetas e caretas, mas a mesmice esgota em menos de meia hora e sua
persona passa a aborrecer previsivelmente. Seu personagem que funcionaria
melhor se fosse apresentado em apenas alguns momentos sustenta com dificuldade
a narrativa. Ele está estereotipado em demasia e por vezes irritante, segurando
uma história frívola pouquíssima convincente. É para divertir e não se levar a
sério. Alguns podem defender o filme assim. Até daria certo se a idéia, ao
final, não fosse espremer uma moral vazia sobre a vida.
Roberto Santucci,
diretor do sucesso “De pernas pro ar”, é quem está por trás das câmeras.
Habituado a esse tipo de humor – o cara deve ter gostado de filmar comédias ou
da grana veiculada a elas –, o diretor permite que seus atores façam graça como
podem. Não ache estranho experimentar algumas sensações de já ter visto algumas
coisas antes em ao menos 3 ou 4 momentos da projeção. Nesta história, o par
romântico de Hassum é Danielle Winits, uma consumidora
compulsiva que não vê problemas, segunda a mesma, de voltar a ser pobre. Tomada
por botox e extravagâncias, a loura anuncia uma terceira gestação, levando o
marido a ter que bolar condições para que ela não descubra a falência, o que
resultaria em complicações para a gravidez, já que está é de risco. De outro
lado, no vizinho, uma subtrama: um casal vive com problemas por conta do
planejamento financeiro de Amauri (Kiko Mascarenhas),
ele nega um segundo filho temendo inflacionar o orçamento. Desenvolve-se aí o
contraste de relações e posturas entre vizinhos – é perceptível a casa do
segundo, diferentemente do primeiro, com cores frias, informando visualmente o
quão decadente e triste tem sido o convívio familiar. Há ainda uma terceira
história composta por um homem que enriqueceu, mas não teve mulher e filhos,
lamentando-se arrependido.
A passagem de
tempo do filme se desenvolve por cerca de 9 meses, ostentando o tempo e
gravidez da mulher. Essa noção temporal é algo absurdamente ignorado pelo
diretor que aparenta ter esmiuçado muito menos. 1 mês, talvez. A percepção é a
barriga crescendo, e os eventos ao redor petrificados. Ainda conta-se com a
participação de Ailton Graça imitando um gay. Tal
encenação ainda funciona? Não! A originalidade também não é das maiores: se
situações como uma partida de tênis entre um idoso centenário com Tino é um dos
clímax do filme, então é para se preocupar com o quanto seus produtores
subestimam a inteligência do público. Engraçadíssimo como um quadro do Zorra
Total e inteligente como os Teletubbies, esse “Até que a Sorte nos Separe” é
mais um exemplo do que há de pior no cinema brasileiro: a falta de coragem de
fazer algo grande, que não tenha que se prostrar frente uma canalhice confundida
com comédia.
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