quinta-feira, 21 de junho de 2012

Proseando sobre... Slovenian Girl

Jovens que saem de suas pequenas cidades interioranas atrás de um futuro mais interessante em grandes centros. Esta é uma temática conhecida, incansavelmente usada, trabalhada em distintos contextos na busca de se adequar às situações econômicas e sociais dos países retratados. É sobre uma história desse calibre que Slovenian Girl (Slovenka, 2009) se desenrola, trazendo em seu foco a mudança de vida da jovem Aleksandra (Nina Ivanisin), saindo de Krsko a caminho de Ljubljana, a fim de estudar. Sua estada na capital da Eslovênia lhe rende um parâmetro a respeito de condições, o que a faz emergir num mundo até então desconhecido, porém identificado como saída para suas frustrações. A prostituição é retratada sem o glamour ordinário, mascarando hipóteses de aceitação na trajetória de alguém em busca de si e de felicidade, a qualquer custo, em plena crise econômica européia.

É um ideal de sonho distante ou idealizado, pode-se dizer assim, sobre a busca incessante de Aleksandra por um conforto que outrora não tinha. Provinda de uma vida sem luxos, foca nas possibilidades de sucesso no disfarce de uma prostituta com o codinome “Slovenian Girl”, ocultando o ofício de alguns em sua volta, entre eles Gregor (Uros Furst), um ex-amante, Vesna (Marusa Kink), uma querida amiga da faculdade e seu pai, o batalhador Edo (Peter Musevski). Dividida entre dois mundos e contaminada pelas ofertas de ambos, a garota se restringe numa redenção de seu eu, contrastando a imagem já desfeita socialmente da boa garota interiorana atrás de sucesso.

No sentido da narrativa, o clima proposto por seu diretor Damjan Kozole é de mistério, o que estabelece a dinâmica da obra, sempre ameaçando os segredos de sua fria protagonista. O cadenciamento desse ritmo ganha energia em dois atos em especial, após uma morte de um magnata alemão e quando a protagonista percebe-se atrelada a inescrupulosos cafetões propensos a violência desmedida. A variante da história é a postura de seu diretor em salientar a Eslovênia e sua desconjuntura diante a União Européia, só que tal resultado é difuso e inócuo diante suas claras presunções. 

A escolha de sua protagonista em adentrar-se no ramo da prostituição é uma ousadia proposta na história, e o roteiro escrito pelo próprio diretor juntamente a Matevz Luzar e Ognjen Svilicic permite essa abstração de sua estrela. Com algumas semelhanças a Beleza Adormecida (Sleeping Beauty, 2011), de Julia Leigh, e com o asiático Samaritana (Samaria, 2004), de Ki-duk Kim, - só para citar dois exemplos diante de tantos –, a diferenciação se dá pelo vínculo estabelecido com os clientes, o que rende boas subtramas. Slovenian Girl não foge do sentido usual de longas do gênero: a busca pela independência e sucesso a qualquer custo. Essas mulheres não temem o risco, temem o futuro e se motivam pela insegurança do presente. 

De expressão melancólica demarcada pela fotografia escurecida, a sensação aflita do longa perdura e ganha contribuição marcante de Nina Ivanisin, sem sorrisos, lacônica e com uma voz silenciosa.  Damjan Kozole salienta a deriva progressiva de seu longa tal como é a da protagonista, corrompida, guiada pelo almejo danoso. O diretor prioriza a indefinição de sentido, e, uma vez que o amanhã vem a contribuir com o sofisma da previsibilidade, o rumo incerto é mesmo um risco sofrido por quem o vivencia. Usual e metafórico, Slovenian Girl é um bom filme sobre o caminho à posteridade — não só de alguém, mas de um país. 


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