terça-feira, 26 de junho de 2012

Proseando sobre... E aí... Comeu?


Fernando (Bruno Mazzeo), Honório (Marcos Palmeira) e Fonsinho (Emilio Orciollo Netto) estão constantemente juntos fazendo um Happy Hour no Bar Harmonia, sempre servidos por um garçom comparado fisicamente ao músico Seu Jorge, e este é vivido pelo próprio. Lá eles falam de tudo, sobretudo de mulheres, suas experiências e fracassos, compartilhando aventuras sexuais na noite carioca e buscando um sentido nessas relações. Essas conversas de clima descontraído são regadas a álcool e palavrões, viabilizando as personalidades do trio ciente do texto, numa intimidade que consegue, graças ao bom roteiro, empatia com o público, não de modo geral.  Mas tem força para alcançar seu alvo, sendo cômico e deliberadamente infame em suas reflexões tendenciosas e comuns, direcionando a um finalmente previsível e surpreendentemente significativo. 

Descarado como esperado, “E aí... Comeu?”, baseado em peça de Marcelo Rubens Paiva – há pouco o escritor já teve uma obra adaptada para o cinema, o interessante “Malu de Bicicleta” –, é um estupor dos comportamentos masculinos, com suas neuroses narradas à risca por um trio ferido pela vida igual qualquer um que não se encontra suficientemente contente em suas atuais situações. Aí reside a empatia necessária que só poderia funcionar com caras entregues a esse universo com naturalidade e projeção pessoal. Mazzeo, por exemplo, contou que se identificava com a situação de Fernando. Milhões de outros diriam o mesmo. Emilio Orciollo Netto é quem fica com o papel mais vazio da trama, ao mesmo tempo que é o mais farto em relação a mulheres. Já Marcos Palmeira com seu Honório é o mais fértil personagem. Pai de família, convive com a dúvida quanto as saídas noturnas de sua esposa, Leila (Dira Paes). 

Partindo da ótica dos experimentos amorosos por parte de um trio que vive amarguras com ternura justamente como defesa para esconder suas vulnerabilidades, o filme dirigido por Felipe Joffily de “Muita Calma Nessa Hora” se entrega ao escracho, o que sugere divisão de opiniões e de público. A presença de Mazzeo colabora para a divulgação da comédia, uma vez já ser figura carimbada do humor nacional, embora tenha se ligado a uma das produções mais estúpidas do nosso cinema recente, a bobédia "Cilada.com". Unido a ele, Marcos Palmeira e Orciollo Netto, nomes famosos da teledramaturgia, se adéquam aos papéis com vivacidade e carga dramática necessária, experiência de anos que colabora para o desenvolvimento do tema e dos personagens. 

Felipe Joffily não tem lá muita experiência por trás das câmeras, não se atreve a transformar o filme em um autêntico filme, soando mais como uma esquete demasiada prolongada mesclando boas e péssimas piadas. Ao menos acerta na espontaneidade por parte de seus atores e não economiza nos takes longos, trabalhando bem a Mise-en-scène, proporcionando liberdade para o elenco. Uma cena envolvendo Honório e Leila quase em seu ato final se destaca entre as outras. A mesa de bar como cerne de distintas tramas abriga relatos questionando a mulher de maneira popularmente machista. Aí entram as reproduções humanas daquelas conversas: Vitória (Tainá Müller) que repentinamente terminou o namoro com Fernando; Gabi (Laura Neiva, a garota descoberta na internet para protagonizar o ótimo “À Deriva”) encarnando uma adolescente pulsante; e Alana (Juliana Schalch de “Os 3”) como uma prostituta das ruas e da internet responsável por acalentar os hormônios de Fonsinho. Além delas, está a já citada Leila.

Após tantas intrigas e insatisfações em cena com condições dos homens em terno sofrimento e solidão, – soma-se lições vagas de importâncias do convívio a dois – o cineasta põe em relevo questões imutáveis e tradicionais envolvendo o masculino e o feminino, com o papel moderno do dito sexo frágil gozando de independência. Os homens já não são os mesmos. Há muito por trás desses diálogos de bar, um solo não explorado pelo realizador, temendo talvez o afastamento de um público arredio a questões mais amplas. Por abrir mão disso e se ater a piadas com quase tudo, “E aí... Comeu?” não faz melhor que tantos outros filmes que saem aos montes anualmente, no entanto abre caminhos.   


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