É provável que “Madagascar 3: Os Procurados” seja o melhor
da franquia, um fim momentâneo digno para os simpáticos animais da DreamWorks
que ganharam notoriedade surpreendente com o primeiro lançado em 2005.
Agraciado sobretudo pelas crianças, a animação que envolve uma série de personagens
de um zoológico de Nova York chega a um extremo caloroso, dinâmico e cheio de
energia e cores nessa escapada sugerida na Europa, atravessando cidades em fuga
num trem carregando animais de circo. Com isso, o contexto e homenagem é
justamente a arte circense, cada vez mais esquecida, transposta pelo vigor daqueles
animais motivados pela graça do espetáculo e realização do impossível.
Com um humor tipicamente nonsense desde sua estréia, “Madagascar”
explora o exagero sem preocupações com lógica ou coerência. Virtude ou defeito,
é discutível, uma vez atingir sua proposta com êxito inquestionável mesmo se
atropelando e rendido ao absurdo. Não deixa de ser natural até por sua
estilização, sendo provindo da DreamWorks. Os mesmos personagens retornam: Alex
(voz de Ben Stiller), Marty (voz de Chris Rock), Melman (voz de David Schwimmer)
e Gloria (voz de Jada Pinkett Smith) continuam os mesmos, sustentando a
narrativa, porém ofuscados pelos personagens secundários, sobretudo pelos
quatro pingüins e pelo Rei Julian (Sacha Baron Cohen) – este último,
especialmente nesse terceiro capítulo, se eleva comicamente. Há ainda a introdução
de bons novos nomes, destacando-se a jaguar Gia (voz de Jessica Chastain), o
tigre Vitaly (voz de Bryan Cranston), o leão marinho Stefano (voz de Martin
Short) e a ursa Sonia que vive um romance alucinante.
A desculpa para o argumento é bem interessante. Eles não tem
simplesmente que fugir por serem animais selvagens perdidos pelas ruas de Monte
Carlo, mas pela gana pessoal da agente do controle de animais, a Capitã Chantel
DuBois (voz de Frances McDormand), uma legítima e letal caçadora que gosta de
exibir seus troféus na parede. Lá estão vários animais embalsamados, com uma
ausência no centro, um espaço reservado para a cabeça de algum leão. O roteiro
de Eric Darnell (que escreveu os dois primeiros filmes)
juntamente a Noah Baumbach dão ênfase a vilã fazendo dela implacável. Sua
inspiração é enfática e em determinado ato esta chega a cantarolar Édith Piaf
para robustecer seus feridos homens.
Produzindo piadas compulsivamente, o que faz
alguns personagens perderem a força ou acabarem associados unicamente a alívio
cômico – como a zebra Marty –, a obra dirigida pelo trio Eric Darnell, Tom
McGrath e Conrad Vernon se sustentam por uma novidade,
anteriormente não apresentada devido ao acúmulo de ação: a necessária adequação
as atuais condições da vida com uma mensagem sobre tocá-la em frente
abandonando o passado. “O Maior espetáculo da terra” lá da década de 50 e até a
recente animação francesa “O Mágico” denunciam a decadência desse tipo de arte.
Há um lamento tristonho presente aqui sobre tal tema. O adendo de “Madagascar 3”
é justamente originado pelo circo, pelas cores, por seu universo: um clima
psicodélico então é proposto durante as apresentações embaladas por músicas da
moda – o que é um defeito do filme, correndo o risco de datá-lo – misturando com
canções próprias, uma adaptação de “Eu Me Remexo Muito” cai bem.
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