Pra quem
gosta de se alimentar com romances de folhetim, este é um banquete. A única
novidade é constatar o galã teen Zac Efron no papel de um fuzileiro naval, algo
difícil de conceber num primeiro instante. O resto nós já vimos. O famoso
escritor de Best Sellers românticos, Nicholas Sparks, ganhou com este “Um Homem
de Sorte” uma sexta adaptação para as telonas. Vai ganhar o coração dos seus
leitores graças a fórmula usual que funciona ainda mais aqui por conta da
direção de Scott Hicks, sempre paciente e dedicado aos detalhes. No mais, só de
olhar o cartaz e ler a sinopse, podemos prever tudo o que virá. De fato!
Durante a
guerra do Iraque, uma catástrofe, em meio a tantas outras, acontece na frente
de Logan Thibault (Efron). Algum tempo depois, após voltar para a casa de
parentes, percebe que a guerra não o deixou, sempre incomodado com barulhos
altos, até mesmo os de games de ação. Numa manhã, ao ser acordado, assusta e se
defende com violência. Daí constatamos que acompanharemos um jovem carregando os
traumas da guerra num conflito familiar, porém tudo isso subitamente é ignorado
para a estruturação de uma nova idéia. A guerra é um contexto, uma desculpa,
quase uma encenação teatral colegial.
O
interesse da trama é outro, introduzida lá no Iraque numa fotografia caída sem
dono, levando apenas uma mensagem e estampando uma bela garota. Tal achado
funciona como um amuleto da sorte, ao menos é o que Logan atribui, pois, imediatamente
após guardar a imagem, sobreviveu a coisas que não acharia capaz de sobreviver.
Igualmente a quem crê numa torrada com uma imagem divina, o fuzileiro credita a
imagem toda sua fé prometendo, após ser dispensado, encontrar aquela mulher que
tanto lhe rendeu sorte. O roteiro de Will Fetters trabalha sobre esse plano
dando alguma personalidade aos personagens caricatos de Sparks. Mero esforço
sem recompensas.
Encarando
o filme como uma concepção para um público bastante especifico, então nos
deparamos com uma obra eficiente. Tudo que o espectador que aprecia filmes semelhantes
procura está lá, com uns aperitivos extras, inclusive uma moralzinha recalcada.
Chama a atenção algumas cenas românticas de caráter erótico surpreendente –
aquela sob uma ducha é usual, porém arrebatadora diante as expectativas. É para
maiores e para horrorizar os fãs de “Crepúsculo” que acharam a lua de mel de
Edward e Bela ousada.
Apesar de
tudo, por melhor defesa que queiramos fazer para o filme, é frustrante perceber
que tal trama ainda seja facilmente engolida. Ninguém espera que o trabalho
seja uma referência genuína entre os romances atuais, no entanto, não faz mal
se levar mais a sério e se condensar enquanto um drama expoente sem o melodrama
grotesco. Tem até artifícios tradicionais inseridos: o antagonista
irritante e uma criança oprimida. Ainda que tenha um bom diretor por trás, – é
notável o esforço de Scott Hicks – este pouco pode fazer para história se
converter em algo mais, digamos, crível. Afinal, não se trata elementarmente de
uma fantasia absurda.
Fugaz,
mas sem grandes pretensões, esse é mais um longa passageiro, mais uma
oportunidade para encher os bolsos do escritor e ganhar o coração de suas fãs.
Não chega nem perto de algo como “Diário de uma Paixão” também escrito por
Sparks e adaptado por Nick Cassavetes, mas embora ruim, está muito a cima de
bombas como “Um amor pra recordar”, também baseado em livro. Já Zac Efron não
interfere, empenha-se em manter uma expressão séria, com a barba por fazer,
procurando se desvencilhar do status de galã teen que adquiriu desde seus
tempos de “High School Musical”. Seu par romântico, vivido por Taylor Schilling
pouco acrescenta. A cena às vezes é roubada por Blythe Danner, a avó do anjo da
guarda de Logan. Dizer que o filme é um clichê é um clichê.
Nenhum comentário:
Postar um comentário