quarta-feira, 9 de maio de 2012

Proseando sobre... Um Homem de Sorte


Pra quem gosta de se alimentar com romances de folhetim, este é um banquete. A única novidade é constatar o galã teen Zac Efron no papel de um fuzileiro naval, algo difícil de conceber num primeiro instante. O resto nós já vimos. O famoso escritor de Best Sellers românticos, Nicholas Sparks, ganhou com este “Um Homem de Sorte” uma sexta adaptação para as telonas. Vai ganhar o coração dos seus leitores graças a fórmula usual que funciona ainda mais aqui por conta da direção de Scott Hicks, sempre paciente e dedicado aos detalhes. No mais, só de olhar o cartaz e ler a sinopse, podemos prever tudo o que virá. De fato!

Durante a guerra do Iraque, uma catástrofe, em meio a tantas outras, acontece na frente de Logan Thibault (Efron). Algum tempo depois, após voltar para a casa de parentes, percebe que a guerra não o deixou, sempre incomodado com barulhos altos, até mesmo os de games de ação. Numa manhã, ao ser acordado, assusta e se defende com violência. Daí constatamos que acompanharemos um jovem carregando os traumas da guerra num conflito familiar, porém tudo isso subitamente é ignorado para a estruturação de uma nova idéia. A guerra é um contexto, uma desculpa, quase uma encenação teatral colegial.

O interesse da trama é outro, introduzida lá no Iraque numa fotografia caída sem dono, levando apenas uma mensagem e estampando uma bela garota. Tal achado funciona como um amuleto da sorte, ao menos é o que Logan atribui, pois, imediatamente após guardar a imagem, sobreviveu a coisas que não acharia capaz de sobreviver. Igualmente a quem crê numa torrada com uma imagem divina, o fuzileiro credita a imagem toda sua fé prometendo, após ser dispensado, encontrar aquela mulher que tanto lhe rendeu sorte. O roteiro de Will Fetters trabalha sobre esse plano dando alguma personalidade aos personagens caricatos de Sparks. Mero esforço sem recompensas. 

Encarando o filme como uma concepção para um público bastante especifico, então nos deparamos com uma obra eficiente. Tudo que o espectador que aprecia filmes semelhantes procura está lá, com uns aperitivos extras, inclusive uma moralzinha recalcada. Chama a atenção algumas cenas românticas de caráter erótico surpreendente – aquela sob uma ducha é usual, porém arrebatadora diante as expectativas. É para maiores e para horrorizar os fãs de “Crepúsculo” que acharam a lua de mel de Edward e Bela ousada. 

Apesar de tudo, por melhor defesa que queiramos fazer para o filme, é frustrante perceber que tal trama ainda seja facilmente engolida. Ninguém espera que o trabalho seja uma referência genuína entre os romances atuais, no entanto, não faz mal se levar mais a sério e se condensar enquanto um drama expoente sem o melodrama grotesco. Tem até artifícios tradicionais inseridos: o antagonista irritante e uma criança oprimida. Ainda que tenha um bom diretor por trás, – é notável o esforço de Scott Hicks – este pouco pode fazer para história se converter em algo mais, digamos, crível. Afinal, não se trata elementarmente de uma fantasia absurda.  

Fugaz, mas sem grandes pretensões, esse é mais um longa passageiro, mais uma oportunidade para encher os bolsos do escritor e ganhar o coração de suas fãs. Não chega nem perto de algo como “Diário de uma Paixão” também escrito por Sparks e adaptado por Nick Cassavetes, mas embora ruim, está muito a cima de bombas como “Um amor pra recordar”, também baseado em livro. Já Zac Efron não interfere, empenha-se em manter uma expressão séria, com a barba por fazer, procurando se desvencilhar do status de galã teen que adquiriu desde seus tempos de “High School Musical”. Seu par romântico, vivido por Taylor Schilling pouco acrescenta. A cena às vezes é roubada por Blythe Danner, a avó do anjo da guarda de Logan. Dizer que o filme é um clichê é um clichê.

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