O clima de novidade que MIB despertou em 1997 graças a
inventividade do roteiro contribuiu para que uma franquia de sucesso pudesse se
instituir. 5 anos depois veio uma sequência ordinária, completamente inferior
ao original. Após tanto tempo, eis que chega a esperada terceira parte,
trazendo os mesmos protagonistas com um acréscimo. Tudo foi conduzido pelo
diretor dos dois primeiros filmes, Barry Sonnenfeld. Se esse “MIB³ - Homens de
Preto 3”
não carrega o ar de novo, ao menos desponta como revitalização, um retorno ao
que se fez fechando de maneira satisfatória uma trilogia que custou a
acontecer.
Coexistindo as escondidas na terra junto aos humanos, os
alienígenas continuam dando trabalho aos agentes J (Will Smith) e K (Tommy Lee
Jones), este último, próximo da aposentadoria. De imediato, piadas envolvendo a
dupla permite uma sensação de nostalgia, um acesso rápido a essa relação tão
conturbada quanto divertida. No entanto, a presença de Lee Jones dura pouco,
uma vez que um poderoso alienígena, Boris, O Animal (Jermaine Clement, ótimo em
cena), voltou para um acerto de contas com K e utilizará de viagem no tempo –
irá precisamente até 1969 – para reverter o passado apagando completamente a
existência do sisudo agente.
A premissa perpassa sobre esse universo temporal, algo que
leva as melhores piadas do longa quando notamos as distintas tecnologias de
época, com objetos maiores e pesados comparados aos minúsculos e portáteis de
hoje em dia. Ainda
soma-se a essa distinção a retratação da direção artística que concebe um
passado mais colorido, quadrado, mas não menos interessante. Também não faltam
referências a famosas personalidades suspeitando se tratar de aliens – Lady
Gaga, Tim Burton, Mick Jagger são alguns –, investida alegórica relembrando
graças presentes nos filmes anteriores. Uma cena envolvendo o cineasta e pintor
Andy Warhol (vivido por Bill Hader) é inspiradíssima. Não se esquece o passado
aqui, aliás, ele é importantíssimo, dialogando com a obra de 97 como a de 2002,
ligando a pontas que não tiveram explicação.
O roteiro fecha um ciclo através de 3 bons atos,
depositando no terceiro uma comoção ainda não experienciada pela franquia. A
realização remonta o que anteriormente não era claro, buscando até mesmo constatar
os motivos para que K se tornasse uma figura tão amarga. Para isso, um
verdadeiro mergulho no passado. J tem que saltar no tempo, literalmente, e
parar no final da década de 60 para contornar situações. O astro Will Smith tem
a história para si, se mantém em frente a câmera em quase todo o filme com
carisma e caretas, algo que em certo ponto incomoda pelas repetições. Este não
é um dos seus melhores momentos na telona.
Contrastando esse poço de humor, a figura unidimensional de
Tommy Lee Jones balanceava tanta comicidade através de sua seriedade imponente
e respeitosa, algo que dura algum tempo neste “MIB³” para logo ganhar a forma
de um outro ator vivendo K com 29 anos, Josh Brolin. Este o faz com notável
eficiência. Carrancudo, porém mais cortês, o agente K sessentista gozava da
juventude dando-se ao luxo até de flertar com a colega de trabalho, a agente O
(Alice Eve, enquanto jovem). Essa, no presente, vivida por Emma Thompson,
evidencia um amor não acontecido, justificando o quanto o envelhecimento de K
fora frustrado com relação ao desejo e pelas novas condições sujeitadas ao fim
de sua defesa na terra em 69.
O ano reproduzido reconta história, modelando o contexto
adequando à narrativa. Têm-se a depreciação dos negros, mencionada num ato,
tempos depois da morte de Martin Luther King, como também a chegada do homem a
lua. Tais ações marcantes da história humana contribuem para a lógica da obra
de Sonnenfeld. A cena de abertura é ótima e surpreendente, com vínculos diretos
ao pretérito. Jermaine Clement faz um ótimo vilão e rouba cenas, a maquiagem
lhe dá credibilidade assustadora lhe conferindo perigo. Outro que ganha o
espectador é Michael Stuhlbarg que encarna o alienígena Griffin com sutileza,
podendo prever o porvir.
Sem novidades, mas com empatia suficiente para agradar o
espectador, “MIB³” termina competente e lisonjeiro, sobretudo para seus fãs. É
garantia de boas risadas e um complemento interessante ao que faltou nos
anteriores em termos de roteiro, deixando uma sensação de dever cumprido com
bom ritmo, carisma e alienígenas ainda mais grotescos.
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