Um dos caras que mais inspiraram
filmes adaptados a partir de contos – entre eles "A Queda
da Casa de Usher" de 1928 que teve refilmagem estrelada por Vincent Price
em 1960 e “O Gato Preto” de 1934 – ganhou um filme ficcional com traços
biográficos. Edgar Allan Poe vem solucionar crimes, esses cometidos por um
potencial fã, uma vez estar fazendo vítimas de acordo com as histórias do escritor.
Com arma e punho e até mesmo montando a cavalo em perseguição, –
seu famoso personagem C. Auguste Dupin é o alter ego desta
concepção cinematográfica – Poe ganha faceta de herói ao lado do
Detetive Fields (Luke Evans). Um frágil suspense policial banhado por
literatura e história vem angariar alguns fãs e recordar o Séc. XIX.
O romancista e poeta Edgar Allan
Poe teve uma vida perturbada relacionada a perdas de entes e ao alcoolismo.
Frutos para suas motivações mórbidas, inseridas frequentemente em seus contos
sombrios, esses atributos de vida do seu “eu” eram inspiradores e imputavam um
tom melancólico, presente na encenação de John Cusack que não oferece, em
qualquer hipótese, uma grande atuação, mas é ao menos empenhada. Pensa-se como
justificativa a adequação do atual contexto. Temos vários exemplos disso.
Citando um recente, a mutação de “Sherlock Holmes” na telona, perdendo
características em favor da necessidade de atrair um outro público que não o
leitor. Afinal, quantos são os espectadores de “O Corvo” que conhecem a vida de
Allan Poe? Alguns nem mesmo ouviram falar de qualquer uma de suas obras.
Essa ficção baseada em um dos
seus mais célebres contos, “Os Assassinatos da Rua Morgue”, é dirigida por James McTeigue do ótimo “V de Vingança”. Apostando numa atmosfera
gótica pela necessidade de chamar a atenção para a estética quando a narrativa
não tem grande vigor, McTeigue traça um rumo captando elementos de várias obras
do protagonista, como “O Barril de Amontillado” ou “A Máscara da Morte Rubra”,
entre outros citados. Não há qualquer força ou finalidade justificável por
ações, com personagens soltos cuja importância nula não corresponde nem para
nossa gana em desvendar o mistério sugerido ou especular o assassino que vem
causando terror em Baltimore.
Expectativas para
que o público busque conhecer Edgar Allan Poe após conferir tal obra
desaba ao final. A ficção toma conta, embora se apóie a eventos reais, como os
dias finais da vida do romancista, andando à deriva pelos parques e ruas frias
da cidade. Especulações por especulações, por mais raso que pareça, é uma
adaptação, uma concepção de um longa de investigação dotado de influência
literária. É uma desculpa para criar um outro serial killer baseando-se em
alguma coisa que ainda não tenha sido feita. Quem sofre com tal proposta é sua
estrela, o saudoso escritor. Nesse ritmo, insinuando o absurdo, até Kafka poderia
ganhar um filme contando sobre sua dura relação com o pai numa Praga oprimida
pelo governo, enquanto converte-se num inseto e vire atração jejuando.
Concebido por diálogos
rebuscados, especialmente veiculados ao seu genial protagonista, “O Corvo” se
torna um suspense de jornal com cenas ao melhor estilo “Jogos Mortais”. Não é
uma obra que em mãos, por exemplo, de David Fincher, terminaria tão morna e
esquemática. Falta ousadia. Há ainda um romance ficcional motivando a trama: a
seqüestrada (Alice Eve) que Edgar Allan Poe tem que encontrar é justamente quem
este ama, é aquela pela qual faria qualquer coisa. Vale como estudo de uma
época, uma menção a respeito do despontamento de dois grandes nomes da
literatura mundial, o próprio Poe e o francês Júlio Verne, este lembrado
durante a narrativa. Moldado para ser um herói, o protagonista que ganha a face
de John Cusack com cavanhaque (dispensando o bigode tradicional do original),
Allan Poe é celebrado de uma maneira minúscula diante sua magnânima
importância.
Não vi o filme ainda, mas por ser um admirador da obra do Poe, estou louco para poder sentir calafrios e poder tentar viajar por meio da telona da mesma forma que faço quando leio algum conto do grande Mestre Poe. Belo texto. Fiquei mais louco pra assistir esse filme. Parabéns pelo blog. Vou divulgar.
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