Robustecido pela nostalgia, “American Pie: O Reencontro” é
uma feliz continuação acontecida muitos anos depois, mostrando aquele grupo de
personagens que marcaram espectadores no final dos anos 90 em suas atuais
condições: constituição de família, luta para serem bem sucedidos nas carreiras,
os casos amorosos frustrados que se perderam através dos anos, e
principalmente, o quanto amadureceram... ou não.
A essência descompromissada de um legítimo besteirool – “American
Pie” pode ser considerado o pai do gênero – persiste com ressalvas sutis nessa
continuação, a autêntica quarta parte. Lembrem-se que após o terceiro longa, o casamento,
saíram supostas sequências centradas em peitos e bundas, ignorando todos os
personagens originais, mantendo, somente, o Sr. Levenstein, o pai do Jim,
vivido pelo icônico Eugene Levy. Agora os tempos são outros e todos retornam,
seja em curtas cenas, ou tendo papel fundamental na trama que, bem roteirizada
no sentido de dar valor a cada um dos 5 protagonistas, destina com cuidado os futuros.
A direção é da dupla Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg, os
caras por trás de “Madrugada muito louca”. Eles exprimem o que há de melhor nos
personagens, fundamentando um final para cada um, embora, por força maior da
própria produção, seja instigado uma menção por mais alguma continuação. Algo
que, a princípio, parece interessante, mesmo correndo o risco de destruir a
conquista desse reencontro: celebrar o futuro daqueles que se tornaram queridos
por alguns públicos.
Condizente a expectativa reinada por anos desde o terceiro
lançado em 2003, o filme é trabalhado com vivacidade e muito bom humor,
dominado, evidentemente, pelo escracho sem severas apelações. Nudez, palavrões
e sexo são tradições importantes e hiper funcionais, nada está deslocado na
narrativa e tudo é suficientemente importante para ela. Jim (Jason Biggs),
Kevin (Thomas Ian Nicholas), Oz (Chris Klein), Finch (Eddie Kaye Thomas) e
Stifler (Seann William Scott) tem, cada um, bom tempo em cena para revelar suas
angústias com o envelhecimento, expostos as novas condições, obrigados a se
adaptarem.
Lidar com o diferente e constatar a atual geração cada vez
mais precoce são coisas que o filme se permite, inteligentemente, diga-se de
passagem, salientar. Quem acompanhou os primeiros filmes notará o contraste. Os
homossexuais declarados, as gírias, a tecnologia em tudo, não havia nem celular
– uma boa cena brinca com isso. Quanto às atuais circunstâncias, seguiremos
seus personagens, alguns separados de seus antigos amores, como Oz e Heather (Mena
Suvari), ou Kevin e Vicky (Tara Reid), resultado de opções pela carreira. Jim que
era babá da pequena Kara, a vê crescida (Ali Cobrin), completando 18 anos em
plena exuberância física. Finch, que posava como o intelectual do grupo,
encobre seu progresso fracassado. Já Stifler, vive a frustração de não saber o
que quer, assistindo os teens agirem como ele no passado de uma maneira ainda
mais cretina.
Podem julgar o filme banal, os moralistas certamente o
farão. Esse é um trabalho para fãs, o registro de uma fase com seus prós e
contras, e do quanto crescer custa. Assim observamos o atual contexto e as
finalidades de seus personagens por vezes emitindo suas desilusões. Ser feliz,
eis uma conquista complicada, esta vai contra as expectativas de outrora,
marcadas na escola quando os cinco diziam o que almejavam conseguir no futuro. Uma
reflexão em torno disso permeia durante a projeção, fica no ar a todo instante
e cresce à medida que vamos reconhecendo os personagens. Os filmes da franquia
nunca buscaram a reflexão sobre os tabus estipulados, embora os fomentassem
através de um problema atual antecipado: o vídeo de Jim compartilhado na
internet. Tudo isso aconteceu antes de entrarmos neste século.
É bom ver essa conclusão tão divertida e satisfatória. As
piadas tão bem atribuídas e distribuídas não são reciclagens do que uma vez
fizeram, mas apropriadas aos dias atuais, carregadas com as personalidades
imutáveis de seus protagonistas. De geração para geração, trata-se de uma
epopéia de situações emergidas na memória daqueles que acompanharam de perto a
trajetória dos formandos de 99 da fictícia East Great Falls. Divertidíssimo,
esse “Reencontro”, mais do que qualquer outra coisa, nos faz testemunhar o valor
da amizade e seus percalços, o tempo e seus dissabores. É uma revisitação
dedicada à saudade que alguns tinham desses caras.
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