quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Proseando sobre... Cowboys & Aliens


O duelo sugestionado causa um certo espanto. Colocar Cowboys fazendo frente a Aliens nos parece, no mínimo, inusitado. Jon Favreau sabe disso e pouco se importa, concebe o filme e o faz bem, dito do ponto de vista técnico. O roteiro escrito por 5 pessoas a partir dos quadrinhos de Scott Mitchell Rosenberg é o grande entrave para o filme decolar como as naves alienígenas rasantes. Resta o estímulo da ação bem coordenada para camuflar a série de equívocos que decorrem durante o longa. Tem início a sessão captadora de gêneros buscando elementos básicos do faroeste convencional (o homem sem nome, a prostituta, o rancheiro impetuoso, o saloon como palco), a ficção (debruçando sobre alienígenas) e a comédia (pontualidade tradicional dos projetos de seu diretor).

O ano é 1873. Um homem acorda no meio do deserto seminu, amnésico, com um grande bracelete no braço esquerdo e uma foto de uma mulher que não reconhece. O cartão de visitas do filme é dado quando 3 homens aparecem e o estranho sem nome os ataca roubando suas roupas e armas. Esse estranho é perigoso, brutal e vivido pelo atual James Bond, Daniel Craig. Rumo a uma cidade em busca de respostas, encontra um povoado oprimido por um rancheiro rico, Woodrow Dolarhyde (Harrison Ford) e seu filho estúpido, bem representado pelo talentoso Paul Dano, num papel que nos leva a recordar, pelo contexto, o pastor que viveu no estupendo “Sangue Negro”. Há ainda uma mulher misteriosa, Ella Swenson (Olivia Wilde) e um personagem fragilizado pela insegurança, o bartender encarnado pelo ótimo Sam Rockwell.

Conflitos começam quando o estranho chega na pequena cidade de Absolution, no Arizona. Situações o levam a prisão na mesma noite em que luzes aparecem no céu. O que surge surpreende atacando violentamente os moradores, abduzindo através de laçadas, numa referência óbvia ao western. Sem entender e sem saber como se defender, os confusos moradores fogem, até que o estranho preso descobre uma solução consigo. Favreau elabora cenas fundamentadas de ação ligeira, apropriando seus personagens a novidade daqueles seres, considerados por eles demônios. Craig, viril, assume a identidade do herói sem sorrisos, e confronta os aliens com finalidade operante e imponente. As informações sobre seu passado e relação com os OVNIS nos é apresentado através de flashbacks explicativos, o que decepciona.

Esses alienígenas estão em busca de um recurso terrestre e aparecem para nós como metáfora de nós mesmos, afinal, o planeta desses deixou de ser o bastante. A corrida espacial e a gana humana condiz com a proposta desses alienígenas a procura de riqueza pelo universo. Eles subestimam a raça humana, como conta um dos personagens. Somos irrelevantes, estamos a procura de poder, mas ainda não estamos maduros e seguimos a passos largos até a destruição. É natural que se passe no Séc. XIX como resquício de nosso presente cuja natureza vem sendo condenada.  

Fotografado com êxito por Matthew Libatique e com uma edição de som saudosa ressaltando a sonoridade das máquinas voadoras e o barulho das armas, “Cowboys & Aliens” se fortalece unicamente pelos seus aspectos técnicos. Acompanhar a procedência dos acontecimentos em campos, desertos e desfiladeiros remete diretamente ao Velho Oeste com suas paisagens e ameaças. E se o roteiro falha em dar mais coesão e sentido – fora os furos – a trama, as atuações compensam, assim notaremos que o elenco de peso é devidamente utilizado. Harrison Ford tem a índole questionada, mas sua brandura traz um tipo de homem cuja história o moldou; Rockwell se distancia das tradicionais personas que assume e entrega um homem temente, incapaz de manobrar uma arma ou cavalgar rumo a guerra; e Olivia Wilde, com seu inacreditável olhar, dá um alívio a grosseria daqueles homens a partir de gestos doces, embora se revele uma mulher de fibra. A cena em que aparece nua junto a uma fogueira rodeada por índios lhe transforma numa espécie de divindade, portanto, não é estranho que junto a ela nasça a esperança.

Divertido e ágil, mas entorpecido por uma narrativa desmembrada, este novo projeto de Jon Favreau tem a presença marcante da ação e humor comum em seus filmes, como “Homem de Ferro”, mas carece de mais, de ligação entre os eventos propostos e também de sentido na trama, muito embora o nexo entre Cowboys e Aliens não faça tanto. No entanto, vale a descompromissada espiada. 

2 comentários:

  1. Apesar da ótima resenha sua, a proposta definitivamente não me convenceu...

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  2. Tive a mesma sensação...
    É melhor assistir com um olhar descompromissado!

    ;D

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