quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Proseando sobre... Rush - No Limite da Emoção



Faz tempo que você não sai empolgado do cinema? Pois bem, “Rush - No limite da Emoção” é um dos raros exemplares recentes capazes de proporcionar isso. Os anos de glória do britânico James Hunt e do austríaco Niki Lauda foram transportados para a telona com astúcia e singularidade cativante, não sendo somente um filme de esporte que visa a superação dos envolvidos, nada disso, e tampouco nos impressionar com artimanhas formidáveis quase heróicas. A idéia é atestar dois personagens, dois dos mais notáveis pilotos de fórmula 1 e registrar a rivalidade entre a dupla. O quão fiel a obra é comparada aos fatos originais não importa tanto, o que o diretor Ron Howard conseguiu mostrar é que faz tudo valer a pena. Não é documentário, é cinema. É entretenimento dos mais satisfatórios. 

Ágil tal como o que exibe, o roteiro de Peter Morgan do ótimo Frost/Nixon (Frost/Nixon, 2008) – outro duelo dirigido por Roward – não é esquemático, não pende para o melodrama – o que chama a atenção, já que alguns fatos direcionam a tal vício – e jamais escolhe um lado, dispensando maniqueísmos. Há até um risco relevante a ser tratado: a possibilidade de não gostarmos de nenhum dos personagens. Ambos irritam com suas características, um é irresponsável, arrogante e imoral; o outro é egocentrista, narcisista e indiferente. Ambos no entanto são referências, gênios distintos em competição, cada qual com sua habilidade que se choca tanto nos bastidores quanto nas pistas. E em alta velocidade.

Os anos 70 de fundo e todas suas representações sociais dão cobertura a rivalidade estridente de Lauda e Hunt. Homens que nasceram para a corrida. Lauda considera-se assim ao assumir que envolver-se com carros é o que melhor sabe fazer. A trama se lança nas corridas sem torná-las mais importantes que seus protagonistas. Elas estão por circunstancia e aparecem sempre pontualmente favorecendo a narrativa, dando mais graça e tensão aos conflitos exteriores do asfalto. É ótimo acompanhar o que Roward concebe quando filma – e recria – os cenários das corridas setentistas, provavelmente comovendo os fieis fãs de Fórmula 1 e traçando um paralelo considerável com as corridas de hoje, evidenciando a importância dos pilotos também por trás da tecnologia automobilística.  

Daniel Brühl, ator espanhol que encarna Lauda, mencionou em entrevista o quão difícil seria viver um personagem vivo, já que comparações seriam inevitáveis. Ele entrega um desempenho seguro, diria até que formidável, empregando uma antipatia insinuante sobre um personagem defensivo e lucidamente consciente. Já Chris Hemsworth abraça convincentemente James Hunt, chamando a atenção pela aparência física, e doando a ele o que a mídia tanto destacou: sua energia vital, desregrada, paixão pela diversão e ambição voraz em superar Lauda. Em cena ambos impressionam com vantagem a Daniel, bom ator, vivendo e vencendo um de seus maiores desafios da carreira. 

O início: circuito de Nürburgring na Alemanha em 1976. Um dia crucial! Antes de nos familiarizarmos com o ocorrido, o roteiro retorna alguns anos e apresenta jovens promissores pilotos na fórmula 3 desejando conquistar um espaço entre os melhores. Segue-se sonhos, ambições, soberba e concorrência, segue-se em ritmo virtuoso uma história de paixão pelo esporte, de amor por conquistas frente a possibilidade real da morte, algo com potencial de fazer o homem sentir-se mais vivo. Hunt dispara isso. E não é mentira. Bem filmado e ambientado, a direção artística entrosada com a fotografia salienta os anos 70 e a impressão de assistirmos um filme da época revolucionado. Planos detalhe marcantes e trilha pulsante faz da nova obra do sempre competente Ron Howard um eficaz entretenimento. Não é uma obra prima como muitos gostariam, mas é um grande filme recheado de garra e emoção.  


Nenhum comentário:

Postar um comentário