Faz tempo que você não sai
empolgado do cinema? Pois bem, “Rush - No limite da Emoção” é um dos raros
exemplares recentes capazes de proporcionar isso. Os anos de glória do britânico
James Hunt e do austríaco Niki Lauda foram transportados para a telona com
astúcia e singularidade cativante, não sendo somente um filme de esporte que
visa a superação dos envolvidos, nada disso, e tampouco nos impressionar com
artimanhas formidáveis quase heróicas. A idéia é atestar dois personagens, dois
dos mais notáveis pilotos de fórmula 1 e registrar a rivalidade entre a dupla.
O quão fiel a obra é comparada aos fatos originais não importa tanto, o que o
diretor Ron Howard conseguiu mostrar é que faz tudo valer a pena. Não é
documentário, é cinema. É entretenimento dos mais satisfatórios.
Ágil tal como o que exibe, o
roteiro de Peter Morgan do ótimo Frost/Nixon
(Frost/Nixon, 2008) – outro duelo dirigido por Roward – não é esquemático, não
pende para o melodrama – o que chama a atenção, já que alguns fatos direcionam
a tal vício – e jamais escolhe um lado, dispensando maniqueísmos. Há até um
risco relevante a ser tratado: a possibilidade de não gostarmos de nenhum dos
personagens. Ambos irritam com suas características, um é irresponsável, arrogante
e imoral; o outro é egocentrista, narcisista e indiferente. Ambos no entanto
são referências, gênios distintos em competição, cada qual com sua habilidade
que se choca tanto nos bastidores quanto nas pistas. E em alta velocidade.
Os anos 70 de fundo e todas suas
representações sociais dão cobertura a rivalidade estridente de Lauda e Hunt.
Homens que nasceram para a corrida. Lauda considera-se assim ao assumir que
envolver-se com carros é o que melhor sabe fazer. A trama se lança nas corridas
sem torná-las mais importantes que seus protagonistas. Elas estão por
circunstancia e aparecem sempre pontualmente favorecendo a narrativa, dando
mais graça e tensão aos conflitos exteriores do asfalto. É ótimo acompanhar o
que Roward concebe quando filma – e recria – os cenários das corridas setentistas,
provavelmente comovendo os fieis fãs de Fórmula 1 e traçando um paralelo
considerável com as corridas de hoje, evidenciando a importância dos pilotos
também por trás da tecnologia automobilística.
Daniel Brühl, ator espanhol que
encarna Lauda, mencionou em entrevista o quão difícil seria viver um personagem
vivo, já que comparações seriam inevitáveis. Ele entrega um desempenho seguro,
diria até que formidável, empregando uma antipatia insinuante sobre um
personagem defensivo e lucidamente consciente. Já Chris Hemsworth abraça
convincentemente James Hunt, chamando a atenção pela aparência física, e doando
a ele o que a mídia tanto destacou: sua energia vital, desregrada, paixão pela
diversão e ambição voraz em superar Lauda. Em cena ambos impressionam com
vantagem a Daniel, bom ator, vivendo e vencendo um de seus maiores desafios da
carreira.
O início: circuito de Nürburgring
na Alemanha em 1976. Um dia crucial! Antes de nos familiarizarmos com o
ocorrido, o roteiro retorna alguns anos e apresenta jovens promissores pilotos
na fórmula 3 desejando conquistar um espaço entre os melhores. Segue-se sonhos,
ambições, soberba e concorrência, segue-se em ritmo virtuoso uma história de
paixão pelo esporte, de amor por conquistas frente a possibilidade real da
morte, algo com potencial de fazer o homem sentir-se mais vivo. Hunt dispara
isso. E não é mentira. Bem filmado e ambientado, a direção artística entrosada
com a fotografia salienta os anos 70 e a impressão de assistirmos um filme da
época revolucionado. Planos detalhe marcantes e trilha pulsante faz da nova
obra do sempre competente Ron Howard um eficaz entretenimento. Não é uma obra
prima como muitos gostariam, mas é um grande filme recheado de garra e
emoção.
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