Após ter lançado o ótimo Distrito
9 (District 9, 2009), o cineasta Neill Blomkamp apareceu como um nome em
potencial para o gênero da ficção científica, inovando a partir do conceito
tradicional de elaborar o futuro com pessimismo, costumeiramente mostrando a
Terra destruída, propensa a miséria, juntamente ao fracasso da humanidade. Em
seu novo longa, Elysium, a coisa não muda tanto. A Terra está igualmente arruinada,
até pior do que aquela vista no longa anterior. A salvação se dá numa estação
espacial chamada Elysium, um lugar arborizado e feliz, habitado por uma minoria
rica poderosa hierarquicamente. É uma retratação inteligente baseada no mito
dos campos Elíseos, elaboração crítica de papéis sociais, ideologicamente
desastroso do ponto de vista dos direitos humanos, algo aparentemente extinto
no século XXII retratado.
Temos acesso a dois períodos
diferentes com os mesmos personagens, Max e Frey quando crianças e adultos. Na
versão mais velha são vividos por Matt Damon e Alice Braga. Ambos vivem no
planeta Terra morto sem verde desejando um dia chegar até Elysium, promessa
feita pelo menino a menina. Um dia ele a levaria até lá. Circunstâncias os
separam com cada um indo para um canto até um encontro súbito no futuro. Daí a
coisa se desenrola e o filme acontece devido ao almejo dos grandes desejos do
homem: a beleza conservada e ausência de qualquer doença. A tecnologia de
Elysium permite ambas, mas esta é limitada a poucas pessoas, negligenciando os
milhares de doentes que agonizam no planeta condenado.
O início promissor da fita é empolgante.
Os flashbacks bem distribuídos – no início, ao contrário do que se segue no
final – remontam histórias de injustiças e promessas feitas em nome da
inocência. Temos todas as informações do que se tornou o planeta Terra e de
como é a vida de seus habitantes, especialmente numa Los Angeles assolada e
empoeirada, onde boa parte das pessoas falam espanhol, resultado da alta
imigração. Ali Max passa os dias com um emprego ordinário, tendo problemas com
a lei e arriscando a vida em troca de migalhas. Julio (Diego Luna), fiel amigo
de Max, e Spider (Wagner Moura), um hacker que busca todo o tempo ingressar na
estação espacial levando alguns imigrantes terrestres, são dois personagens que
terão histórias relativamente desenvolvidas. Wagner Moura, é preciso mencionar,
está excelente!
O bom ritmo da trama circunda um
universo de possibilidades do roteiro que acaba não se atendo a nenhum. A
segunda metade é dedicada a ação. Essa é bem filmada e empolgante,
especialmente com um vilão que complica as investidas heróicas do início ao fim
da projeção. Sharlto Copley, ator sul africano protagonista de Distrito 9, é o antagonista da trama.
Ainda há Jodie Foster implícita numa vilã velada. O heroísmo fica a cargo do
razoável Matt Damon que converte-se num
humanóide para tentar salvar a si mesmo. Suas motivações se transformam a
medida que o longa avança.
As mazelas do mundo estão
implícitas na história: poluição, desigualdade social, fome, crise financeira.
Assistimos um futuro esperado de modo certamente pessimista, mas não absurdo. A
tecnologia separando extremos é um ponto relevante, embora possa levantar
críticas ao opor ricos e pobres, responsabilizando o abismo que os separa. Blomkamp
não parece preocupar-se em discutir política ou filosofia, mas incitar questões
relativas a ela, sem tomar partido. Parece vago numa primeira espiada, mas há
muita coisa lançada sem o objetivo de ser cuidadosamente discutida. É um Sci-Fi
consciente, envolvente, com doses de emotividade e ação sem moralismo, a não
ser o olhar sobre nosso planeta e o que temos feito contra ele. Uma corrente
guarda uma imagem histórica como memória num pingente e alguém pede para um personagem
não se esquecer de onde veio. O belo planeta Terra manteve a beleza numa
fotografia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário