O tempo em Las horas muertas (idem,
2013), filme do mexicano Aarón Fernández, é o que condensa a narrativa
através de seus poucos personagens e do contexto silencioso tal como a
obra que é destituída de trilha. Assistimos o pequeno motel Palma Real à
beira da estrada, onde as pessoas vão atrás de tempo, de espaço, de
fuga e prazer. Assistimos ocasionais chegadas e partidas. Os vínculos
são raros, especialmente para o menino Sebastian que, prestes a atingir a
idade adulta, está vivenciando um ofício deixado por seu tio, que
precisou se afastar do motel e precisava de alguém de confiança para
tomar conta durante sua longa ausência. Questões inevitáveis vêm
despertar a curiosidade do jovem, seja na ação das pessoas que quase
diariamente por ali passam ou na amizade desenvolvida com uma mulher
mais velha, igualmente frustrada diante sua condição numa pequena cidade
litorânea que a aprisiona, consumindo-a intimamente. Esse é o ganhador
do prêmio de melhor contribuição artística na Tokio International Film
Festival.
Tudo que nos é apresentado é enxuto, no entanto temos
convicção de suas finalidades e representações, já que o filme não
enrola e mantém um mesmo ritmo ao longo de seus 100 minutos. As horas
mortas sugerida pelo título são expressas pela inanimada figuração de
seus personagens, todos obrigados a se ater a uma rotina e segui-la sem
surpresas. As novidades ficam por conta dos rostos diferentes daqueles
que chegam ao Motel, muito embora eles se repitam. As circunstâncias são
as mesmas e nada empolga Sebastian, que se vê sozinho sem opções do que
fazer, a não ser disputar cocos com um vizinho mais jovem ou ouvir por
trás das portas os hóspedes. Há ainda alguns outros personagens que
corroboram essa ideia da demora do tempo, como uma ajudante que lava os
lençois voluntariamente como desculpa para encontrar o namorado nas
dependências do motel a fim de transas furtivas; ou o idoso que cuida do
período noturno, unido unicamente a um cão, esperando as horas passarem
com a paciência que a vida no local lhe amestrou.
A perspectiva de mudança chocada com o realismo da
sucessão de acontecimentos confere naturalidade tocante a narrativa.
Aarón Fernández dirige o filme com prudência. Em suas mãos dois atores
burocráticos conseguem demonstrar a ociosidade necessária as quais seus
personagens (sobre)vivem. Kristyan Ferrer encarnando Sebastian e Adriana
Paz com sua Miranda, mulher que precisa vender casas em um condomínio
na praia, mas que vem encontrando duras dificuldades pela rejeição ao
local. Soma-se a sua estadia malograda um romance adúltero com um homem
que sempre a deixa esperando no Motel. Suas horas vazias encontra as de
Sebastian e uma amizade com um curioso encantamento se difunde,
estreitando laços.
O litoral de Veracruz imprime alguma beleza a obra de
Aarón Fernández, com o mar de fundo e os coqueiros em volta. O sol não
banha o filme como se supunha e a película ganha traços de estranha
frieza reprimindo o ambiente caloroso. Os romances que por ali passam
são passageiros. O tempo morto acede à harmonia suspensa. No início do
filme, um personagem diz que o local precisa de algumas mudanças, embora
a rotina fosse importante e não poderia ser alterada. Algumas árvores
mortas precisavam ser retiradas. Após a vivência por ali, Sebastian,
frente a existência desfalecida cujas pulsões de vida foram sabotadas
pelo encadeamento espacial e temporal, busca uma revitalização com
pequenas reformas. Simbolicamente ele coloca uma tampinha sobre um
besouro e logo o fita, observando a dificuldade do inseto em carregar o
objeto, semelhante a sua situação no Palma Real, arrastada e infeliz.
Suas tentativas de mudança no espaço físico do motel vislumbram uma
alteração sensorial e emocional. A solidão e a percepção de
distanciamento, todavia, conserva-se.
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