Depois da bomba intitulada “X-Men
Origens: Wolverine” lançada em 2009, o mutante mais querido ganhou um novo
filme. Bem melhor, diga-se de passagem, comparado ao desastroso longa anterior.
Hugh Jackman retorna – hoje parece ser impensável um Wolverine que não seja ele
– destilando a ferocidade natural de seu ótimo personagem, nunca devidamente aproveitado
no cinema. Seu compromisso nesta sua nova aventura é em Tóquio. Um novo
contexto para novas ambições. Pra se fazer diferente, mexeu-se em quase tudo. Quase
tudo mesmo. A fonte reside nos filmes passados do X-Men. Jean Grey (Famke
Janssen, preservada e bela) apavora o sono do protagonista que está com a
sanidade condenada devido a imortalidade. Revisitar Logan (ou Wolverine) é sempre interessante, pois é um dos personagens
mais fecundos da Marvel. E pedindo licença, penso no cinema: é notório o quanto os filmes
de heróis andam sofrendo. Tem se percebido, até pelas bilheterias, o esgotamento
desse gênero. Esses já não despertam tanta atenção?
Voltando a obra, a história se desenvolve sobre um conflito entre espadas
samurais e garras de adamantium, buscando o passado de
seu protagonista e seu desejo letal, viabilizando um acontecimento passado bem
arranjado, a bomba em Nagasaki. Acompanhamos a boa trama com potencial de
explorar profundamente a essência de Logan, sua figura complexa e sofrida
devido aos acontecimentos do terceiro “X-Men”. Temos acesso a intimidade desse
mutante poderoso, seus temores, seu sono inquieto. O roteiro preenche essa
lacuna vaga costumeira em exemplares semelhantes, atendo-se a exploração de
personagem a serviço da história, não se entregando exclusivamente a ação escoltada pelos
efeitos especiais. Talvez isso seja o que vem faltando em
produções análogas e anda afastando os espectadores da sala escura devido ao “...
já vi isso antes”, comparando “esse” com “aquele”. Pode-se dizer que o resultado tem sido perigoso, os blockbusters vem aniquilando o potencial criativo a favor
da dimensão visual vazia.
Presenciamos uma inovação
oportuna neste exemplar, daquelas que podemos dizer ter relação a humanização de
um personagem, aproximando-o do público – como o “Batman” de Nolan conseguiu fazer. O medo de voar, por exemplo, torna Logan racional. Tornar
um imortal mortal é outro trunfo dos roteiristas e do diretor James
Mangold (“Johnny e June”, “Garota, interrompida” e “Identidade”). Os filmes
mencionados demonstram a habilidade que Mangold tem com personagens, ao contrário de dirigir cenas de ação. Aqui ela aparece esquemática e até irrelevante a trama. Sabota a
profundidade buscada em seus minutos iniciais, converte-se num emaranhado de situações
ilógicas com acréscimo de violência descerebrada e por vezes constrangedoras – a
cena da luta sobre o trem bala é terrível. A referência a Yakuza parece ter
convencido os roteiristas que seria uma boa idéia mencioná-los. Cabe ao público
tentar compreender o porquê.
De bons valores, não
suficientemente apresentados, mas com energia contagiante, “Wolverine – Imortal”
termina com sensação de dever cumprido, embora aquém do que o personagem
merece. Não faltou tempo para explorar algumas questões ignoradas e impulsionar
um romance ruim que só seria aceito como um afeto por ocasião, sexo
descompromissado ou como alívio para as tensões que a sucessão de eventos perigosos
vem ocasionando. Chegamos ao destino do filme: a oposição entre Logan contra
Wolverine, a cobiça frente ao que considera maldição. Têm-se um novo rumo que poderá
surpreender. Já os antagonistas estão bem colocados, a surpresa final garantirá
afeições do público que perceberá o herói fragilizado e próximo de perecer
diante uma máquina assassina similar a ele próprio. De destaque, fica a atriz russa Svetlana
Khodchenkova vivendo a cruel víbora com uma lascívia lancinante.
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