Na tentativa de fazer humor, Pedro
Vasconcelos mexeu em estereótipos regionais, trazendo estilos e formas
carimbadas tentando fazer graça e levar ao público um pouco do que se vê
costumeiramente em programas humorísticos televisivos risíveis. Várias situações
constrangedoras se acumulam em 90 minutos ininterruptos de trivialidades com
cenas quase que incapazes de provocar qualquer sorriso. Bons atores estão comprometidos
por um texto ruim e pela falta de habilidade da direção em trabalhar cenas sem
fazê-las assemelharem-se a esquetes. Vasconcelos lança uma das comédias mais
esquemáticas e descartáveis da cinematografia nacional dos últimos anos,
fazendo frente a bobagens monumentais como “Cilada.com” e “As Aventuras de
Agamenon - O Repórter”.
Do Ceará sai um religioso
supersticioso, o carismático Freitas (Anderson Di Rizzi); Do interior de São
Paulo, o tímido Bernardo (Rodrigo Pandolfo) vira celebridade e conta com a
torcida de toda a cidade; no Rio de Janeiro, o carioca Caio (Danton Mello) sobrevive
de trambiques; e de Pelotas, no sul, surge Rogério Carlos (Fábio Porchat) que
tem a orientação sexual reprimida por um pai “machão”. Todos tem em comum o
concurso do título, já que são finalistas para o cargo de Juiz Federal. Os
conhecemos numa cena introdutória com situações precárias. O roteiro logo abre
uma lacuna para apresentar – em formato de esquete – cada um dos sujeitos e revelar
como descobriram que disputariam o importante cargo. O humor de situação se
expande desse encontro ao pior estilo “Se beber, não case” quando juntos, a
convite de Caio, vão em busca do gabarito da prova que está
incompreensivelmente nas mãos de um traficante anão.
Algumas ações são difíceis de
compreender narrativamente, seja por problemas do roteiro ou por boa parte do
filme ter ficado na sala de edição: o encontro de Bernardo com a fogosa Martinha
(Sabrina Sato interpretando Sabrina Sato com facas) num boteco no Rio de
Janeiro; a piada da maconha na praia que não chega a resultado algum; ou o
anúncio na TV sobre jovens envolvidos com tráfico na capital carioca cair no
esquecimento. As situações estão à deriva da história, tapando buracos visando
montar cenário a fim de lançar uma ou duas piadas. O arco se abre com alguma
criatividade, esgotando-se à medida que se direciona ao humor pueril. Um sopro
e tudo se desfaz, já que nada amarra a história com as investidas cômicas. Os
diálogos que ressaltam sotaques e costumes regionais não passam de piadas recicladas
de alguma sessão humorística jornalística.
A ideia de trabalhar com jovens
disputando uma vaga através de concursos públicos é um universo inexplorado,
original e atual. Renderia muito num roteiro que objetivasse discutir o assunto
num plot específico. A escolha dos realizadores foi boa, o resultado, todavia,
não convenceu. Desagrada em vários fatores, tanto no seu potencial dramático quanto
em seu gênero de origem, sabotando não somente bons atores, mas bons humoristas
que estão atados ao convencionalismo de uma produção pouco envolvente que mal
dá abertura aos intérpretes em fazer algo de novo. A narrativa ilógica só
compromete, não dá pra aceitar piamente os acontecimentos propostos sem qualquer
sentido. Não dá pra aceitar que as comédias nacionais estejam ganhando a mesma
função de um vaso sanitário.
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