segunda-feira, 8 de julho de 2013

Proseando sobre... Truque de Mestre



Como se observássemos um número de mágica, somos induzidos pelo diretor Louis Leterrier a acompanhar admirados todo seu filme que é plasticamente atraente. Funciona maravilhosamente bem, até começarmos a prestar atenção demais e levá-lo a sério mais do que deveria. Talvez não devêssemos levar tanto, no entanto, algumas questões o fazem ser grande, ou melhor, querer ser grande. A começar pelo elenco muito bem escalado, mesclando ícones do cinema com estrelas contemporâneas. A narrativa também interessa, já que desperta curiosidade sem tanto esforço e brinca com isso com competência, especialmente pela forma como é filmado. A câmera não para, dança com a grua sobre os personagens e salta sobre as cenas em que alguma mágica está para ser realizada. Tudo fica bonito e fascinante, e também trivial, quase que fugaz. 

O clima de obscuridade nos insere no universo de ilusão proposto pelo filme. A apresentação inicial dinâmica de seus personagens é esperta, nos aproxima deles, embora não o compreendamos por falta de cuidado do roteiro. São 4 figuras com diferentes habilidades que se identificarão como os 4 cavaleiros, tornando-se estrelas da noite para o dia após provocarem verdadeiras façanhas envolvendo muito dinheiro. O espetáculo elaborado por Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), Henley Reeves (Isla Fisher), Merritt McKinney (Woody Harrelson) e Jack Wilder (Dave Franco) impressiona os olhares atentos dos que lhes assistem entusiasmados. Os atores estão definitivamente convincentes em seus papéis. O curioso é que nos ligamos mais aos atores do que aos personagens. Esses, infelizmente, não tem lá muito tempo em cena juntos para criarem um vínculo mais forte com seus espectadores. A exploração deles é quase nula: conhecemos um pouco um romance passageiro, idolatria de um pelo outro, e megalomania. Nada de tão substancial. Dave Franco é o mais deslocado. 

Impressionar o mundo através de um plano mirabolante que tem por detrás ambição por vingança e uma razão social. Sugere-se a possibilidade da existência de mágica como explicação de ações inexplicáveis. Isso dura pouco. Convidados a entrar na onda dos ilusionistas com seus truques, nós embarcamos numa onda de mistério convencional, seguindo clichês bem dispostos numa trama que é essencialmente de cães, gatos e ratos em convulsiva perseguição. Los Angeles, Nova Orleans e Nova York são planos de fundo de tudo que se desenrola. Uma cena de perseguição – ao melhor estilo “Carga explosiva versão econômica” – demonstra a insensatez do espetáculo produzido. É bom recordar que Louis Leterrier é o diretor de “Carga Explosiva”, “Fúria de Titãs” e O Incrível Hulk”. Seria inevitável não realizar qualquer cena que honre sua filmografia. 

Nesta história de mistérios e ilusões, onde a mágica e milagres são respostas para aqueles que economizam sensatez, alguns se sobressaem quando investem em respostas. É o agente Dylan Rhodes (Mark Ruffalo) quem fica incumbido de desvendar as artimanhas da astuta quadrilha. Ele conta com a ajuda da inexperiente agente da Interpol, Alma, vivida pela bela francesa Mélanie Laurent do singelo “Não se preocupe, estou bem” e de “Bastardos Inglórios”. A loira está concisa e cativante, tornando Alma a personagem mais fértil, estranhamente enigmática. Laurent rouba o filme da trupe americana. Com ela surgem algumas piadas que opõe os Estados Unidos e a França e seus distintos métodos investigativos. 

Funcional em quase todos os planos, o que dá errado é a veracidade por trás dos fatos, ou da tela. Entendemos claramente que tudo não passa de um truque de mestre, como sugere o título português, mas a essência da trama não se configura num plano lógico, embora tenha seu início e seu resultado. O problema é o meio e a direção desordenada de Louis Leterrier que se ocupa de um roteiro fantasioso e criativo, porém frívolo que quase se desmancha caso o filme não possuísse agilidade para se segurar. Atores importantes como Morgan Freeman e Michael Caine apenas divertem-se em cena em interpretações convencionais, o que dá indícios de que tudo é uma apresentação lúdica sem grandes pretensões. Não é um exemplar competente de longas com temática semelhante, comparando a um bom exemplo recente como “O Grande Truque”, mas é bem divertido e, literalmente, mágico.  
  


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