Como se observássemos um número
de mágica, somos induzidos pelo diretor Louis Leterrier a acompanhar admirados
todo seu filme que é plasticamente atraente. Funciona maravilhosamente bem, até
começarmos a prestar atenção demais e levá-lo a sério mais do que deveria.
Talvez não devêssemos levar tanto, no entanto, algumas questões o fazem ser
grande, ou melhor, querer ser grande. A começar pelo elenco muito bem escalado,
mesclando ícones do cinema com estrelas contemporâneas. A narrativa também
interessa, já que desperta curiosidade sem tanto esforço e brinca com isso com
competência, especialmente pela forma como é filmado. A câmera não para, dança com
a grua sobre os personagens e salta sobre as cenas em que alguma mágica está
para ser realizada. Tudo fica bonito e fascinante, e também trivial, quase que
fugaz.
O clima de obscuridade nos insere
no universo de ilusão proposto pelo filme. A apresentação inicial dinâmica de
seus personagens é esperta, nos aproxima deles, embora não o compreendamos por
falta de cuidado do roteiro. São 4 figuras com diferentes habilidades
que se identificarão como os 4 cavaleiros, tornando-se estrelas da noite para o
dia após provocarem verdadeiras façanhas envolvendo muito dinheiro. O
espetáculo elaborado por Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), Henley Reeves (Isla
Fisher), Merritt McKinney (Woody Harrelson) e Jack Wilder (Dave Franco)
impressiona os olhares atentos dos que lhes assistem entusiasmados. Os atores estão
definitivamente convincentes em seus papéis. O curioso é que nos ligamos mais
aos atores do que aos personagens. Esses, infelizmente, não tem lá muito tempo
em cena juntos para criarem um vínculo mais forte com seus espectadores. A
exploração deles é quase nula: conhecemos um pouco um romance passageiro,
idolatria de um pelo outro, e megalomania. Nada de tão substancial. Dave Franco
é o mais deslocado.
Impressionar o mundo através de
um plano mirabolante que tem por detrás ambição por vingança e uma razão
social. Sugere-se a possibilidade da existência de mágica como explicação de
ações inexplicáveis. Isso dura pouco. Convidados a entrar na onda dos
ilusionistas com seus truques, nós embarcamos numa onda de mistério
convencional, seguindo clichês bem dispostos numa trama que é essencialmente de
cães, gatos e ratos em convulsiva perseguição. Los Angeles, Nova Orleans e Nova
York são planos de fundo de tudo que se desenrola. Uma cena de perseguição – ao
melhor estilo “Carga explosiva versão econômica” – demonstra a insensatez do
espetáculo produzido. É bom recordar que Louis Leterrier é o diretor de “Carga
Explosiva”, “Fúria de Titãs” e O Incrível Hulk”. Seria inevitável não realizar
qualquer cena que honre sua filmografia.
Nesta história de mistérios e
ilusões, onde a mágica e milagres são respostas para aqueles que economizam
sensatez, alguns se sobressaem quando investem em respostas. É o agente Dylan
Rhodes (Mark Ruffalo) quem fica incumbido de desvendar as artimanhas da astuta quadrilha.
Ele conta com a ajuda da inexperiente agente da Interpol, Alma, vivida pela bela
francesa Mélanie Laurent do singelo “Não se preocupe, estou bem” e de
“Bastardos Inglórios”. A loira está concisa e cativante, tornando Alma a
personagem mais fértil, estranhamente enigmática. Laurent rouba o filme da
trupe americana. Com ela surgem algumas piadas que opõe os Estados Unidos e a
França e seus distintos métodos investigativos.
Funcional em quase todos os
planos, o que dá errado é a veracidade por trás dos fatos, ou da tela.
Entendemos claramente que tudo não passa de um truque de mestre, como sugere o
título português, mas a essência da trama não se configura num plano lógico,
embora tenha seu início e seu resultado. O problema é o meio e a direção
desordenada de Louis Leterrier que se ocupa de um roteiro fantasioso e
criativo, porém frívolo que quase se desmancha caso o filme não possuísse
agilidade para se segurar. Atores importantes como Morgan Freeman e Michael
Caine apenas divertem-se em cena em interpretações convencionais, o que dá
indícios de que tudo é uma apresentação lúdica sem grandes pretensões. Não é um
exemplar competente de longas com temática semelhante, comparando a um bom
exemplo recente como “O Grande Truque”, mas é bem divertido e, literalmente, mágico.
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