Há 22 anos Paul Verhoeven lançava
“O Vingador do Futuro” estrelando Arnold Schwarzenegger. O filme foi um marco
para a época, revolucionando os efeitos especiais e emplacando o gênero da
ficção científica através de uma boa história futurista. Duas décadas depois,
uma refilmagem molesta atrelada a ótimos efeitos especiais foi concebida, tão
desnecessária que nenhuma cena justificou seu feito comparado ao filme
original, o que nos leva a questionar sua realização e intenção. Hollywood está
mesmo carente de boas idéias. A direção deste é de Len Wiseman, roteirista e
diretor relativamente famoso pela desastrosa série “Underworld - Anjos da
Noite“. Misturando a competência do realizador com a escolha tola de refilmar
uma obra bem sucedida lançada a menos de 30 anos, boa coisa não poderia sair.
O planeta devastado nesse tempo
futuro agora conta apenas com duas regiões habitáveis que espremem a população
em pequenos apartamentos. Uma delas é a rica Federação Britânica, dotando de elegância,
tecnologia e um exército de andróides. Ela conta com força o bastante para
marginalizar a outra, a Colônia, que convive com pobreza em prédios opulentos. Levanta-se
a idéia de “Metrópolis” de Fritz Lang, comparação que talvez
soe ofensiva para alguns. Wiseman, sem talento na forma de contar
histórias, é ao menos eficiente em retratar os contextos distintos dos locais
sem forçar a barra. Vemos a diferenciação desses extremos através das tomadas
de perseguição, constatando a diferença de uma localidade a outra. Uma é mais
amena e límpida, enquanto a outra é turva e bagunçada. Para viajar da Federação
Britânica até a Colônia, usam o veículo chamado “A Queda”, que atravessa o
planeta subterraneamente.
Sai Schwarzenegger e entra o irlandês
Colin Farrell no papel de Doug Quaid, um operário que
sofre com a profissão esgotante e repetitiva que nada lhe oferece de novo ou de
perspectiva profissional. Cansado dessa rotina e atormentado por pesadelos
recorrentes que envolve uma fuga e uma bela mulher, o rapaz desejando ter algo
mais interessante no que pensar vai até a Rekall, empresa que implanta memórias
tornando as lembranças da vida menos miseráveis. É neste lugar que Quais irá
descobrir verdades a respeito de seu passado e desencadear uma perseguição
mortal, levando o espectador ao atributo mais significativo do longa: a ação.
A correria proposta é das mais
empolgantes com cenas bem filmadas – há exageros pontuais do diretor, como a cena de
abertura quando o herói derrota uma série de oponentes durante um único take. O
personagem Doug Quaid poderia contar com mais profundidade, seu passado dúbio é
ignorado com segredos infimamente revelados nesse projeto que não encontra
tempo para trabalhar fundamentos. O que importa, afinal, senão a ação? Nesse
meio, duas mulheres oferecem beleza e perigo. Lori (Kate Beckinsale) traz na
fisionomia traços de sua Selene de “Anjos da Noite”, sendo uma perseguidora
hábil e implacável. Em outra instância, Melina (Jessica Biel), igualmente
sagaz, destoa da primeira pela fragilidade no olhar. Outros bons e necessários personagens
são vividos por Bill Nighy e Bryan Cranston.
Ferido por uma lógica tola e
apressado para não nos deixar pensar em seus equívocos narrativos, o longa de Wiseman
é um estupor de clichês e um emaranhado de desperdícios. Sendo um filme de
violência, a violência propriamente dita é contida. Tudo é reprimido demais,
correto demais, resultado de uma possível censura para um filme que pretende
arrecadar milhões. Não se vê sangue, se vê arranhões. Aquilo que Paul Verhoeven
concebeu de maneira torpe, bizarra e polemicamente humorada converteu-se num
longa babaca, banal e esquemático, tal qual a tantas outras obras cujo objetivo
é alimentar fãs de ação sem estimulá-los intelectualmente. Não deverá demorar para ser esquecido.
É tragável, diverte enquanto filme de ação, mas é bem mais vazio e longe da genialidade do original.
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