domingo, 26 de fevereiro de 2012

Proseando sobre... A Mulher de Preto


“A Mulher de Preto” é a nova aposta da produtora Hammer Films – dona de clássicos do horror –, um típico suspense que sustenta um terror britânico gótico, mas que muito se parece com outros que anualmente estocam as prateleiras nas locadoras com sustos fáceis, climão de casa mal assombrada e personagens amaldiçoados. Esse longa ingressou no cinema, não pelo seu conteúdo pragmático, tão vago e óbvio, mas pela presença de Daniel Radcliffe, a estrela de “Harry Potter” que agora, barbado, se aventura em outras histórias, sem dispensar temáticas sobrenaturais. É inegável o apelo popular que esse projeto de suspense embalado terá, os fãs do bruxo irão ver o ídolo e perceber que aquele personagem se desfez. Um outro rumo para o ator que provavelmente terá um caminho próspero na telona, já protagonizou filmes menores com certa eficiência, contudo permanece estigmatizado como o famoso bruxo.

Servindo como um catalisador de idéias ultrapassadas, o longa de James Watkins prioriza artifícios recorrentes em filmes de espíritos, desde a fotografia turva, névoa e um mistério com crianças mortas entrelaçado a sustos em demasia. Esses sustos, tão previsíveis, seguem uma fórmula básica: a interrupção da trilha sonora pesada e uma pausa para um provável sobressalto. Pronto, feito. Dito isso, seguem outras doses do mesmo, enlouquecidas tentativas de apavorar e um bocejo daqueles já acostumados ao gênero. É para comer a pipoca e tentar se divertir com a proposta da obra. Triste perceber que o filme é prejudicado justamente pelo que almejou promover.

Sem gerar surpresas, a produção aposta no talento de seu protagonista que carrega quase o filme inteiro, sempre com uma expressão rija, as razões são denunciadas numa cena inicial quando seu filho de 4 anos lhe mostra um desenho familiar. Acessamos um passado obscuro do personagem de Radcliffe, o advogado Arthur Kipps.  Sua feição, entre a esposa e a babá, é a única infeliz. Logo ele se esquiva e segue até o trabalho. A progressão dessa apresentação é rápida e sutil. Ele é incumbido, sob ameaças do chefe, a viajar e resolver problemas relacionados a uma mulher morta que deixara uma mansão após seqüenciais infortúnios. Daniel Radcliffe abandona Harry Potter e arrisca um horizonte não tão distante da fantasia que lhe consagrou, todavia apresenta indícios de um ator esforçado, tal como demonstrado em recentes trabalhos ingleses, como exemplo “Meu Filho Jack” e “Um Verão Para Toda Vida”.

Com tomadas que lembram à correria nos corredores do espanhol “O Orfanato”, esse “A Mulher de Preto” idealiza um mal presente, visto que sombras negras aos poucos apresenta a personagem que intitula o filme. Tudo acontece num casarão do século XVII. De lá provém uma maldição numa pequena província inglesa, distante de Londres. Um local aterrorizado pela morte trágica de várias crianças, explicada por alguns como obra de um espírito vingativo, e ignorado pelos arredios descrentes quanto a intervenções sobrenaturais. O clima estabelece conexão a obras análogas, sobretudo as realizações de Guillermo Del Toro tanto como diretor quanto produtor, próximo da já mencionada obra espanhol e também do ótimo “A espinha do Diabo”.

A ambientação é o relevo da trama, com uma estética apavorante que, conduzida de modo pouco inventivo por Watkins, termina desperdiçada. E pode-se perceber esse desvio da noção dramática realizada pela constância atemorizante, exagerando informalmente por razão nenhuma senão apenas apavorar. É como se o plot não fosse suficiente. Pecar pelo exagero é o preço que produções semelhantes pagam. Essa é outra vítima. O cenário interiorano inglês remete a uma sociedade marginalizada, comparada à aristocracia da época nas cidades grandes. Há um único carro no local, isso demonstra o mínimo avanço industrial que chegou até aquele território movido por crenças espirituais. E são essas crenças que motivam discussão na história, a partir de personagens absolutamente crentes quanto a uma força espiritual que sacrifica herdeiros entre outros que creditam os desastres ocorridos ao mero acaso.


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