domingo, 19 de fevereiro de 2012

Proseando sobre... J. Edgar

 
Clint Eastwood polemiza com uma biografia cuja força está na força do texto e nos atos de seus protagonistas, no caso, conheceremos um pouco da história de John Edgar Hoover, o homem que esteve à frente do FBI por mais de 30 anos. A carreira do famoso diretor nos é contada desde a reorganização da agência Bureau onde esteve envolvido até seus vários anos na direção do FBI. Fortalecido em ideais que não se restringem unicamente as suas ações de liderança, mas na aparência comercial de sua imagem, J. Edgar – como assinava – é um molde hipócrita de um ícone americano dada sua transformação visível na composição através dos anos – somos apresentados ao personagem em distintas décadas. Sua repressão quanto à opção sexual, o desenvolvimento científico em que apostou e seu legado denota uma carreira com aspectos brilhantes, no entanto pouco reconhecida em seu íntimo.

Com uma aparência magnânima, algo que sempre procurou mostrar em entrevistas e quando recrutava novos agentes, J. Edgar passou a vida em busca da exaltação. Segundo o longa de Eastwood, escrito por Dustin Lance Black a partir de relatos do próprio Hoover, o protagonista é demonstrado em dois pólos: um pela evolução das investigações no país, a partir da crença na ciência, como a inserção das impressões digitais facilitando a busca de suspeitos; e um lado obscuro, quando procurava enfrentar desafetos com ameaças graças a registros secretos com potencial de desmascarar boa parte dos governantes.

Fiel a sua equipe, especialmente a secretária Helen Gandy (Naomi Watts), uma recusa amorosa do passado, e Clyde Tolson (Armie Hammer), com quem viveu um amor reprimido, Hoover (muito bem interpretado por Leonardo DiCaprio) é um personagem contraditório, conservador, exibido pelas lentes de Eastwood de um modo arbitrário. Seu caráter é constantemente posto em prova com questionamentos por suas ações, isso salienta seus preconceitos e atitudes severas, todas questionáveis, como a obsessiva busca por um seqüestrador ou a perseguição aos bolcheviques.

A narrativa longa se desvia a diversos âmbitos, seja no profissional, este narrado com a ótica dos feitos de seu protagonista enquanto líder de uma poderosa organização – o que não significa que sejam feitos verídicos – e pessoal, explorando, sobretudo, a relação com sua mãe (Judi Dench), que num determinado ato profere que preferia ter um filho morto a um filho homossexual. O roteiro maximiza essa ligação entre ambos, propondo uma relação edípica. Ambos os vieses expostos são trabalhados através de uma linha do tempo misturando o início com o fim de carreira de Hoover. Eastwood até se dá o luxo de brincar com transições, como a cena do elevador em que a dupla vivida por DiCaprio e Hammer entram com aspecto jovial e imponentes para após saírem velhos e visivelmente desgastados pelo ofício. O trabalho de maquiagem acerta sem exageros a composição característica dos bons personagens.

A montagem é outro fator fundamental para a funcionalidade da obra, uma vez deixar o ritmo agradável e mesclando passado e futuro sem perder o foco, ou confundir o espectador. Eastwood tem em mãos um trabalho menor comparada a suas obras, mas a cima da média, trazendo novamente um homem áspero no protagonismo, com possibilidades de desagradar alguns públicos, como no ótimo “Gran Torino”. Vale como estudo de personagem, cuja megalomania marcante rendeu uma vida vazia do companheirismo que J. Edgar almejava, mas negava.
 

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