quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Proseando sobre... Filha do Mal

 
Roteirizado pelos caras responsáveis pelo medonho “Stay Alive - Jogo Mortal” – e isso é algo suficiente para desestimular qualquer espectador a ir ao cinema –, esse “Filha do Mal”, novo exemplar do estilo documental, vem somar a uma leva de trabalhos medíocres sobre o assunto exorcismo. Propenso a sustos fáceis, o filme ignora a narrativa para se importunar com generosas cenas de exorcismo, levando ao público questionamentos religiosos e científicos como tentativa de solucionar os “surtos” numa abordagem sagrada, apropriando-se de sustos fáceis para vez ou outra funcionar com o público temente – os ossos deslocados das possuídas é o ápice da trama que pouco horroriza, anulando tomadas bem mais interessantes pela necessidade de se causar terror a qualquer custo.

A elaboração dos roteiristas e de seu diretor, William Brent Bell, quanto à justificativa de filmar os eventos é absurdamente pobre. Basta ignorar, é verdade. Mas uma garota sair de seu país, Estados Unidos, para fazer um documentário a respeito do passado de sua mãe assassina é algo que demônio algum nos faria compreender. Não só isso, seu objetivo se prolonga numa tentativa de compreensão da prática dos exorcistas na Itália. Para começar o longa, legendas nos avisam sobre a veracidade das cenas e supostas proibições da fita no Vaticano. Exorcismos não podem ser filmados, alguém explica. Quem engolir essa, aproveitará melhor a obra. A busca de respostas de Isabella Rossi (vivida pela brasileira Fernanda Andrade) é uma investigação quase obsessiva, cujas respostas perdidas no passado ganharam interpretações médicas com internação, remédio e isolamento.

Quadros psiquiátricos são levantados, explicações científicas dividem padres em aulas teóricas sobre exorcismos. Entre diagnósticos mensuráveis e suspeitas religiosas, o filme surpreende com uma discussão centrada, acompanhando, através da lente de um amigo, o oportunista Michael (Ionut Grama) e das indagações furtivas de Isabella, um duelo verbal a respeito da validade do papel do exorcista. O tema favorece o desenrolar do filme que ganha status documental pela pesquisa experimental aplicada, estendendo-se até um trabalho clandestino de dois padres, exorcizando às escondidas o que acreditam tratar de verdadeiras possessões demoníacas negadas pela igreja.

Essa ponte entre as divergências tradicionais com a necessidade de provocar temor no público é instantânea, não demora e as filmagens descambam unicamente na proposta do terror. E tome seqüências de horror com câmera em punho, exaltando o visual trêmulo de quem acompanha de perto e corajosamente as manifestações. Largar a câmera, jamais. Pena insistirem tanto nesse estilo de filmagem, sem profundidade e propriedade, seja lá qual tema se trabalhe. A finalidade usual do falso documentário está saturada, previsível e esquemática. Desde “Bruxa de Blair”, foram tantas as investidas no cinema que atualmente o gênero ganha aversão de seu próprio público. E pensar, também, que tratar o exorcismo nesse tipo de projeto fosse alguma novidade: contorcionismos demoníacos já foram registrados antes no banal “O Último Exorcismo”. Tão cedo não veremos algo comparado ao clássico “O Exorcista”.

A habituação da produção bem como a de seus personagens com as câmeras em volta são sintomas do confuso roteiro, externalizando dúvidas de seus protagonistas a respeito do que vêem ou esperam encontrar. A apresentação inicial, por exemplo, nos insere na trama através de imagens registradas por algum canal de televisão, mostrando a prisão de uma mulher após 3 pessoas serem assassinadas. Este ato lembra o início da refilmagem de “O Massacre da Serra Elétrica” onde um homem empunhando uma câmera entra num porão explicando sobre os incidentes com o Serial Killer, evidenciando marcas de violência no local. Outra cena que remete ao confuso trabalho de câmeras é a tentativa da protagonista de se adequar às máquinas montadas num carro. É a tradução da experiência equivocada de seus realizadores. 

Breves e bons momentos de pura tensão garantem, no mínimo, o ingresso da sessão, ainda mais para aqueles que buscam uma experiência masoquista. Encontrarão caso não tenham visto muita coisa do tipo. As situações são pouco inventivas e o elenco esforçado pouco acrescenta aos repetitivos acontecimentos. Tecnicamente limitado e com uma direção assombrosa, no pior sentido da palavra, a sensação de realidade não demora a se desfazer, deixando restos de um produto leviano, de intenções óbvias e competência questionável. Fica pior se o espectador espera dele uma lógica, um estudo de caso ou finalmentes arrebatadores. Parece óbvio, o é, e a fundo dessa obviedade, o filme ocasiona algum susto, breve tensão e termina como um resquício de mockumentarie, quase que debochadamente.


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