quinta-feira, 14 de julho de 2011

Proseando sobre... Meu País

 

Quando uma família se junta somente quando acontece a morte de um ente, percebe-se que algo está errado. Assim, “Meu País”, projeto de André Ristum, une dois irmãos a partir da morte do pai e, nesse reencontro, alguns segredos transtornam a relação cujos valores identificados logo em seu ato inicial refutam a caracterização imediata dada aos personagens, o que os torna mutáveis, e enquanto mutáveis, humanos. O laço fraternal desenvolvido pelo roteiro de Ristum juntamente a Marco Dutra e Octavio Scopelliti viabiliza nossa interação com o filme, belo do ponto de vista dramático e singelo na sua aceitação pelo outro, priorizando uma relação disposta quando uma nova personagem surge, fruto de um adultério.

Marcos (Rodrigo Santoro) leva uma boa vida na Itália, namora a filha de seu chefe que o tem como braço direito. Sem qualquer motivo para voltar ao Brasil, retorna unicamente quando fica sabendo da morte de seu pai. Aí o espectador já identifica uma frieza por parte do rapaz quando este observa no enterro o nome da mãe na sepultura, ignorando completamente seu pai, Armando (vivido por Paulo José numa participação especial). Em contrapartida, seu irmão Tiago (Cauã Reymond) sente a perda, e lamenta a ausência do patriarca de uma maneira curiosa, como se junto a ele algo mais fosse perdido. Tiago é quem se responsabiliza pelos negócios da família no Brasil, mas está endividado por conta de grandes apostas no poker.

A narrativa é segura, possui bom ritmo e prende nossa atenção quando percebemos o distanciamento dessa família. A nossa curiosidade se sustenta por um acontecimento numa cena logo no ato inicial, se mantendo ao longo da projeção enquanto novos casos de desenrolam. O diretor nos dá algumas informações em detalhes, como quando sem averiguar do que se trata alguns materiais, Marcos joga tudo dentro de uma caixa, o que garante ao espectador uma sugestão do que foi guardado nela, incitando nossa percepção sobre seu provável desfecho.

Dentro desse âmbito de relações estabelecido com frieza, o filme se agarra a necessidade do outro a qualquer custo, e isso se fundamenta no papel do cuidado, quando alguém se vê responsável por outra pessoa, algo que até então nenhum dos personagens estavam sujeitos, embora a intimidade de Marcos e sua namorada italiana vivida por Anita Caprioli demonstre seu deslocamento afetivo. Logo surge Manuela (Debora Falabella, encantadora e irretocável em cena), uma irmã que Marcos e Tiago não conheciam, resultado de um relacionamento extraconjugal do pai. A garota está internada numa clínica psiquiátrica e precisa de alguém para cuidar. Um conflito se inicia por parte do personagem de Santoro, precisando voltar rapidamente para a Itália, e Tiago, ignorando completamente o problema mental da irmã.

Santoro e Reymond cumprem bem seus papéis, com o primeiro se destacando também quando fala italiano, mas é Debora Falabella a dona do filme numa performance pra lá de extasiante. Feito a medida para encantar, “Meu País” é um trabalho delicado sobre a tolerância e o cuidado, numa oportunidade de descobrimento pessoal e de sentimentos anteriormente adormecidos. Com leveza e singularidade, apesar da narrativa ser por vezes efêmera e mal explicada em alguns pontos, o longa se fundamenta no brilho fraternal e no apego, passando da fria solidão ao caloroso conforto do afago e das palavras outrora indizíveis. Esta sensação é reservada no reencontro em seu país de origem, em seus corações.

Um comentário:

  1. Com um elenco destes, fica difícil fazer um comentário. Rodrigo Santoro é o cara!

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