segunda-feira, 4 de julho de 2011

Proseando sobre... Transformers: O Lado Oculto da Lua


Terminei o texto do segundo filme dizendo que “Transformers” tinha muita ação, mas muita pouca coisa a dizer. Aqui isso se repete, no entanto com menor intensidade, pois há tentativas ou intenções de se fazer algo mais inteligente. Só que essas intenções não duram tanto tempo e o filme dá espaço para eventos particularmente banais enquanto nos extasia com seu visual arrebatador. Dirigido novamente por Michael Bay, fechando uma trilogia rentável, “Transformers: O Lado Oculto da Lua” explora impiedosamente nossos estímulos auditivos e visuais, o que torna o diretor num dos cineastas mais talentosos nesse quesito, ao mesmo tempo em que prova sua incapacidade de contar boas histórias.

E olha só, ele tinha grande potencial em mãos. Há uma ambientação interessantíssima nesta narrativa: a corrida espacial entre EUA e URSS. O argumento dessa terceira parte reside no que está escondido no lado oculto da lua mencionado no título, exibindo caras como Buzz Aldrin e Neil Armstrong, astronautas que chegaram até nosso satélite natural, com o segundo proferindo a célebre frase: “um pequeno passo para um homem, mas um passo gigantesco para a humanidade”. O ato inicial nos faz entender, com esperança e sorriso, que a história iria decolar a partir dessa apropriação histórica de maneira semelhante ao visto em “X-Men – Primeira Classe” com os mísseis em Cuba. Não demora muito, este universo é abandonado e estamos de volta ao pobre “Transformers”.

Sam Witwicky (Shia LaBeouf) retorna com uma nova namorada, a garota objeto de Bay. Megan Fox foi descartada – a morena ganhou indiretas nessa seqüência numa cena que questiona o fim de sua personagem. Mas acalmem-se adolescentes, há uma nova personagem vivida por uma atriz bem mais bonita que Fox, Carly (Rosie Huntington-Whiteley). Igualmente usada de modo objetal do que funcional, – sua primeira aparição subindo escadas exibindo as coxas revela a que veio – tem participação pífia no ponto de vista narrativo, embora o roteirista Ehren Kruger dê alguma credibilidade a ela. Vários outros atores retornam: os pais de Sam vividos por Kevin Dunn e Julie White menos imbecis que no segundo filme. John Turturro está carregado de humor. Há ainda as aparições de John Malkovich respirando ares inspirados de “Queime Depois de Ler” juntamente a talentosíssima Frances McDormand, outra herança da obra dos Coen.

Alguns novos personagens aparecem bruscamente, poucos com algum interessante desenvolvimento, outros são meramente atribuídos a função comercial ou maniqueísta, caso de Ken Jeong (famoso pelo papel de Mr. Chou em “Se Beber, não Case”) absolutamente irritante e tolo em cena; e o galã de “Grey’s Anatomy”, Patrick Dempsey, para proporcionar um duelo extra a Sam Witwicky. O foco, no entanto, são mesmo os robôs. Nenhum deles apresenta qualquer inovação comparado ao que se sucedeu nos primeiros filmes. O que interessa exibir, para Bay, são suas funcionalidades. Aí o designe de produção e efeitos do filme encantam. Um dos Transformers surge como uma espécie de verme mecânico no estilo de “O Ataque dos Vermes Malditos”, enquanto outras “criações” remetem a longas como “Skyline” e “A Ilha”. 

Os Autobots irão enfrentar novamente os Decepticons e entregar Chicago ao caos –poucas vezes uma cidade foi tão destruída. E nesse território onde as lutas interessam mais, Optimus Prime, Bumble Bee e os outros autobots irão se deparar com um novo e poderoso adversário aliado a Megatron e Shockwave, desejando fazer da Terra seu novo lar. Lembre-se que Cybertron, o planeta natural dessas máquinas alienígenas, fora dizimado pela guerra. Ao lado dos humanos, os robôs irão estender verdadeiras cenas de ação masturbatórias banhadas com elegantes efeitos especiais cuja agilidade nos impossibilita, por várias vezes, acompanhar cada detalhe, mesmo que o diretor busque aspirações de Zack Snyder em vários movimentos de câmera. Funcionará muito ao público que deseja apenas se entreter, é para eles que Bay faz seus filmes e merece algum crédito por isso. Michael Bay poderia dar as mãos para Roland Emmerich e sair dançando e cantarolando algum cântico de guerra.

Preso a uma estrutura óbvia concebida para agarrar um público fã de filmes do gênero, Transformers: O Lado Oculto da Lua” é diversão garantida para quem procura recreação passageira. Explosões, combates e frases de efeitos ocupam toda a história. Não há nada além, e nos faz questionar o depoimento de seu diretor criticando seu segundo filme ao reconhecer o vazio que era. Aqui ele repete o erro. O pior é se debruçar sobre um típico humor pastelão desperdiçando idéias e personagens. “Transformers 3” nutre libido, projeções sexuais, testosterona, ação e ignorância. Faz-se raramente engraçado e soberbamente movimentado. É triste constatar isso. E se aguardávamos uma expedição a algo marcante, resta lamentar seu pequeno passo para o cinema, mas um salto gigantesco nos cofres dos produtores e principalmente ao de seu polêmico diretor. 

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